Uma princesa encantada?

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"Uma princesa nunca esquece de sorrir

Pés delicados ao dançar

O protocolo respeitar

Goste ou não a solução é dizer sim"

( Barbie)

Ele imediatamente se afastou.

Mesmo sendo pautado em um plano claramente manipulador, Charlotte estranhou ter sido o beijo mais decepcionante de sua vida. Era sim grande coisa, pois já teve vários sem nem um pingo de sentimento – a grande maioria deles - mas aquele foi estranho, principalmente, porque ele não havia correspondido. Foi a primeira vez que aquilo ocorrera com ela.

— Você não está bêbeda – Sim, essa havia sido a explicação dele para aquela atitude no mínimo estranha. Ela o olhou confusa, sem entender o que aquela frase queria dizer. Ele rapidamente acrescentou – Se você estivesse bêbada, eu sentiria o gosto do álcool...

Ela ficou ainda mais confusa, aquela conversa não fazia o menor sentido. Esse diálogo poderia ser considerado normal em alguma parte do planeta? Charlotte duvidava.

— Do que está falando? – Ela tentou não sair do personagem, mas ele já não parecia acreditar mais.

— Faça-me o favor! Não sei o que está tentando fazer, mas eu não suporto jogos! – Gritou. Provavelmente, por estarem em um local onde ele dificilmente poderia ser ouvido, não precisava manter a posse de garoto centrado, que nunca perdia o controle do tom.

— Não estou jogando nenhum jogo... Não estou me sentindo bem – Era sua última tentativa de se manter naquele fracassado teatro. Era sua última cartada em uma partida em que claramente perdia.

— Chega! Não sei o que acontece com você, sou incapaz de te entender. Por que age dessa maneira? Você tem uma vida perfeita! – Ele acusava. Aquela última frase foi o suficiente para ela desistir totalmente do teatro, daquele personagem que tentava encenar. Ela precisava responder a uma acusação tão sem cabimento como aquela, uma acusação que ele não era o primeiro a fazer.

— Perfeita? Como acha que eu tenho uma vida perfeita? – Começou a berrar também, não havia mais necessidade de fingir – Eu nem tenho mais uma maldita coroa! Pelo amor de Deus, como você pode achar que minha vida é perfeita? É perfeito ser presa dentro de um palácio até os três anos, porque seus pais não querem que a imprensa te veja? É perfeito ser vigiada durante toda a infância e a adolescência por uma mídia que só aguarda o momento que você irá falhar para lucrar em cima disso? É perfeito saber que onde você for terá pessoas que só vão querer se aproveitar de você? Veja aquela ideia idiota que eu tive de estudar na Noruega, em um colégio normal... Aquilo foi perfeito?

— Eu me lembro do acidente... – foi a única coisa que ele disse.

— O acidente... Todo mundo só se lembra disso. O acidente foi a melhor parte, Andrej – Ela riu de nervosismo, não aguentava nem mesmo se lembrar daquela viagem – Quer mais? E minha família, você a acha perfeita? Deve achar perfeito ter uma mãe que só se importa com a imagem de uma família estável e inspiradora, deve achar linda toda falsidade de posar para uma foto, enquanto a casa pega fogo, enquanto as brigas são mais constantes que o nascer do sol. Deve ser perfeito ter um pai que só se importa de você ser a herdeira de um maldito nome importante e nunca se preocupar em saber como você se sente sobre isso. Deve ser perfeito nunca ter ouvido um "eu te amo, filha" de seus pais ou nunca ter sido consolada por eles depois de um coração partido. Isso é perfeito? Uau, Andrej, essa deve ser a razão por eu sempre ter odiado a perfeição!

Por trás de uma PrincesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora