Capítulo três - Ele é problema!

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   Minha mãe está cozinhando enquanto eu brinco com a minha boneca na cozinha. Ela corta os vegetais e sorri para mim. Ela tem um sorriso tão lindo, que deixa qualquer pessoa feliz.
   — Eu vou cortar vegetais. Você vai comer? — Ela pergunta.
    — Eu não gosto. Não vou comer. — Respondo.
    — E se eu cortar em forma de corações e de animais?
   — Claro que eu vou comer. Eu adoro comida com formas engraçadas. — Digo.
    — Está bem. Então, você vai comer um pónei de cenoura e um coração de tomate. — Ela sorri mais uma vez.
   — E flores também.
   — Está bem. Flores de Couve-flor!
   Meu pai entra na cozinha quando chega do trabalho e beija a minha mãe, depois beija a minha testa.
   — Como você está, linda? — Ele pergunta.
    — Feliz. Mamãe vai fazer comidas com formas.
    — Uau! Isso é incrível! — Ele sorri. E me coloca no seu colo. — Vamos conhecer o amigo do papai?
    — Vamos! — Sorrio para ele.
    Papai me leva para a sala e eu vejo um homem muito alto com cara de mau, mesmo que esteja sorrindo. Ele não consegue me enganar. Tenho seis anos, não sou idiota.
    — Mia, esse é o tio Vladimir! — Papai diz e me coloca no chão.
    — Oi, pequenina! — Ele baixa para ficar da minha altura. — Seu pai fala muito sobre você. Você é muito bonita!
    — Não vai dizer nada, Mia? — Papai pergunta.
    — Ele é muito grande, papai! — Digo.
    — É sim. Você quer ser grande como o tio Vladimir? Tem que comer muitos vegetais.
    — Não! Eu quero ser como as modelos, não como o Vladimir! — Digo cruzando os braços.
    — Tio Vladimir, Mia! — Papai repreende. — Desculpa, Vlad. Não sei o que se passa com ela.
    — Não faz mal. Ela é apenas uma criança. — Ele olha para mim como se eu fosse especial.
    Mamãe e papai dizem que sou especial, mas não posso ser especial para esse senhor estranho porque ele acabou de me conhecer, não é?
    Eu abraço a perna do meu pai quando ele tenta se aproximar. Ele me mete muito medo. Não quero mais ver ele nunca mais.

   Acordo quando oiço a porta se abrindo. Vladimir senta ao meu lado e me levanta. Tive que dormir no chão porque o quarto não tem mobília nenhuma.
    — Bom dia, Mia! — Ele sorri. — Fiz um café especial para você. Espero que tenha aprendido a lição.
    — Que horas são? — Pergunto.
    — Seis horas. Você vai ficar comigo ou vai para a faculdade? Hoje eu vou trabalhar um pouco tarde. — Ele passa a mão no meu cabelo.
    — Eu vou para a faculdade. Não quero perder a minha bolsa de estudo. — Digo e levanto simplesmente para que ele pare de me tocar.
    Ele também levanta. — Está bem, meu amor. Como você quiser. — Ele vai para a sala e eu vou para o meu quarto.
    Fecho a porta e aproveito para chorar. Sempre que sonho com os meus pais, eu choro porque tenho muitas saudades deles e sei que se ainda estivessem aqui, Vladimir jamais faria essas coisas comigo.
    Eu seria uma pessoa normal e feliz. Teria amigos, poderia sair de casa para o cinema ou praia e também teria um namorado. Vladimir transformou a minha vida num inferno.
   Limpo as lágrimas e vou para o banheiro. Quanto mais rápido eu for, mais rápido saio daqui. Quero ficar longe desse homem o máximo de tempo que conseguir.

    Apesar de eu ter passado a noite no sótão sem comer nada e ter olhado para o rosto de Vladimir dizendo que sou muito importante para ele, eu vou para a faculdade. Principalmente, porque ele vai trabalhar tarde hoje. Não quero ficar nem um segundo com ele.
   Sento no meu lugar e leio um pouco a matéria. Meu corpo está ainda dolorido por eu ter dormido no chão frio. Espero que aquele homem queime no inferno!
   Grant chega cedo pela primeira vez e adivinhem só! Ele senta ao meu lado mesmo depois da conversa de ontem. Não sei porquê os homens são tão teimosos!
    — Bom dia, princesa! — Ele sorri.
    — Meu nome é Mia Summer! — Respondo com indelicadeza.
    — Não posso chamar você por um nome carinhoso? — Ele olha para mim. — Docinho!
    — O que foi que eu disse para você ontem? — Pergunto.
    — Você disse muita coisa. Seja mais específica. — Ele apoia as mãos na mesa.
    — Me deixa em paz! — Digo.
    — Não posso. Você é muito misteriosa. Eu gosto de mistério. — Ele se aproxima mais. — Bastante.
    — Se você tem amor à vida, é melhor fingir que eu não existo. — Olho para ele.
    Quem me dera poder avisar para ele de um jeito mais claro. Obviamente, ele deve achar os meus avisos vãos, mas não tenho outro jeito de dizer que meu tutor é obcecado por mim e que pode matá-lo se souber que anda atrás de mim. Sinceramente, nem sei se ele vai acreditar se eu dissesse isso.
    — É disso que estou falando! — Ele aponta para mim. — O que isso significa, Mia Summer?
    — O que eu tenho que fazer para que você me deixe em paz? — Pergunto.
    — Não perca seu tempo, nem gaste seu latim. — Ele pega no meu livro e escreve o seu número.
    Se ele soubesse que não tenho celular!
    — Seu número? Que bom! Vou ligar para você mais logo. — Estou sendo sarcástica, mas acho que ele não percebe.
    — De verdade? — Ele sorri.
    — Claro que não!
    — Você é tão má! Eu só queria sua companhia porque ultimamente meus amigos todos têm namoradas e passam mais tempo com elas. — Ele levanta e vai sentar duas cadeiras à frente da minha.
    Melhor assim!
    Outra pessoa que vem sentar ao meu lado é Chloe. Parece que todos sonharam com a Mia hoje. Engraçado porque eu não dormi muito bem.
    — Tudo bem, Mia? — Ela diz. Está sendo simpática, mas eu ainda não confio.
     — Não. Isso não é assunto seu! — Respondo.
     — Está bem. — Ela desvia o olhar. — Eu sinto muito por tudo que eu fiz a você? Eu quero ser sua amiga. Já não sou aquela Chloe cruel.
    — Eu não sei.
    — Tudo bem. Quem sabe com o tempo você acredite em mim. — Ela abre sua bolsa e pega nos seus livros.
   Grant se vira para olhar para mim no exato momento que o professor entra na sala de aulas. Na verdade, ele fica olhando para mim o tempo todo. Não tenta disfarçar nem nada.
    E hoje ele vestiu uma camisa azul clara, calças jeans rasgadas e está com o cabelo impecável. Eu sei muito bem que ele é um filhinho de papai e mamãe como a Chloe. Ele troca de carro uma vez por mês e sua roupas são caras.
   Mas o que mais me intriga, é o fato dele ser lindo. Agora que percebo, muito mais do que Brian Wentworth. Só não entendo o que alguém como ele pode querer comigo.
   Olho para minha blusa laranja e minhas calças jeans velhas, depois volto a olhar para ele, que ainda está olhando para mim. Ele é agradável aos olhos de qualquer garota.
   — Ele é lindo, não é? — Chloe pergunta.
   — Bastante! — Eu respondo num suspiro.
    Espera! Eu disse isso em voz alta?
    Meu Deus! Que vergonha!
     — E está disponível. — Ela diz sorrindo.
    — Eu não quero ninguém. E isso não é da sua conta. — Faço meus apontamentos. É melhor eu fingir que nenhum par de olhos âmbar estão olhando para mim.
    — Tudo bem. Mas se você quiser informações sobre ele, é só pedir. — Chloe também faz anotações no seu caderno. Um caderno rosa com brilhantes. Ela é impagável!
   Não respondo. Eu jamais confiaria nela para uma coisa qualquer, principalmente para isso. Na verdade, nem sei porquê estamos falando de Grant. Ele é apenas um babaca que está se metendo no caminho errado. Apenas isso!

   Chloe e Quentin me convidam para comer com eles no refeitório. Eu não quis, mas Chloe e Kathleen praticamente me arrastaram contra a minha vontade. Eu não posso ter amigos e se eu passar algum tempo com eles, vou querer ficar com eles.
   Mas aqui estou eu, comendo sanduíche e bebendo suco contra a minha vontade. Parece que eles não perceberam que eu não quero ser amiga deles.
    — Porquê você é tão séria? — Kathleen pergunta.
    — Porque sim. — Desvio o olhar.
    — Eu sinto que você quer ser nossa amiga. — Quentin diz. — Mas alguma coisa está te impedindo.
    — Ou alguém? — Chloe pergunta.
    — Claro que não. Eu não gosto de pessoas. Apenas isso.
    — Não parece! — Kathleen diz. — Quem não gosta de ter amigos?
   Não respondo. Eu gostava de ter amigos. Será que posso fazer isso sem que Vladimir saiba? Será que posso ser amiga deles?
    — É só que... eu não confio muito nas pessoas. Elas sempre me machucam. — Digo e limpo as lágrimas. Kathleen me abraça disfarçadamente para não chamar muita atenção.
   Eu agradeço por isso porque não gosto de ser o centro das atenções. Não sou como a Chloe.
   — Eu prometo que não vou machucar você. — Ela sorri. Confiar nela parece ser muito fácil porque ela parece um anjo. É loira, olhos azuis, sorriso doce e voz angelical.
    — Eu também. — Quentin sorri e segura a minha mão. Ele também parece confiável.
    — E eu não volto a machucar você. — Chloe diz. Ela não!
    — Eu vou pensar. — Digo.
    — Mia Summer! — Oiço a voz do Grant.
    Outra vez não!
    Ele senta ao meu lado com a sua bandeja e sorri, Max senta ao lado de Quentin e namorado da Chloe ao lado de Chloe.
    — Meu anjo! — Ele beija Chloe.
    — Scott! — Chloe sorri. Então, esse é o nome dele!
    — Você está livre depois das aulas? — Grant pergunta para mim.
    — Não. Eu já disse para fingir que não existo. — Bebo o meu suco.
    — Amanhã?
    — Porquê de repente passou a olhar para mim? — Pergunto. Antes eu era invisível para ele.
    — Você fica chateada se eu não responder essa pergunta? — Ele coloca o braço atrás da minha cadeira.
    — Pensando bem, não responda. — Digo.
    — Mas...
    — Deixa a minha nova amiga em paz, Grant! — Quentin olha para ele. — Ela não é como as garotas que você pega.
    — E quem foi que disse que eu quero pegar a Mia Summer também? Eu só quero novas amizades. — Ele sorri.
   — Sei muito bem! — Scott ri.
    Eles conversam animadamente sobre muitos assuntos, mas fico calada só ouvindo. Não estou acostumada a estar no meio de tanta gente. Principalmente para interagir.

   Na outra aula, Quentin senta comigo e ele é muito simpático. Ainda não acredito que seja compatível com a Chloe. Ele me oferece uma caneta e me empresta o seu livro para eu estudar.
    Infelizmente, Grant continua olhando para mim. Não sei o que ele quer, mas já estou muito furiosa com ele. Já não sei o que fazer.
   No fim das aulas, eu despeço Quentin e saio correndo para esperar o ónibus. Eu sento num banco e alguém cobre os meus olhos com as mãos.
    — Grant! — Percebo pelo perfume dele. Ele tem um perfume incrível e hipnotizante. Eu adorei o seu cheiro.
    — Oi! — Ele senta ao meu lado. — Quer companhia? — Ele pergunta.
   — Não, obrigada! — Cruzo os braços.
    — Quer boleia? — Ele apoia o braço no meu ombro.
    — Não. Mas eu quero outra coisa. Pode fazer um favor para mim? — Pergunto com a voz doce.
    — Claro. O que tenho que fazer?
    — Some da minha vida! — Digo e desvio o olhar.
    — Tudo bem. Vou fazer o que está me pedindo, Mia Summer. — Ele sorri de um jeito perverso e vai embora.
    Dessa vez, foi fácil.
    O ónibus pára na minha frente e eu subo quase correndo. Tenho que chegar em casa a tempo. Vladimir não gosta quando eu não o obedeço.

   Chego na minha casa e abro a porta com as chaves. Vou no quarto tomar um banho e trocar de roupa. Visto meu vestido azul e vou aquecer a lasanha que está na geladeira. Pelo menos, hoje tem comida.
   O telefone toca e vou correndo atender. — Alô!
   Vladimir suspira. — Ah! Eu adoro a sua voz, sabia? — Ele diz. — Você chegou a pouco tempo, meu amor?
    — Sim. — Tenho vontade de dizer o que está intalado na minha garganta. Ele é um nojento e ouvir sua voz me enjoa.
   — Muito bem. Agora eu vou desligar. A gente se vê mais tarde. Te amo! — Ele desliga.
    Caminho até à cozinha, mas oiço a campainha. Reviro os olhos e vou abrir a porta. Tomo um susto enorme quando vejo um par de olhos âmbar na minha frente.
    — Olá, Mia Summer! — Grant sorri.
    Não acredito que ele me seguiu! O que eu vou fazer?

Intensamente quebradosDär berättelser lever. Upptäck nu