Prólogo - Tempestade de ventos

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Jimin

Lembro que quando eu ainda estava no ensino fundamental aprendi em Geografia que tornados são fenômenos meteorológicos que se manifestam na forma de uma coluna de ar que gira violentamente em seu próprio eixo e é potencialmente perigoso quando entra em contato com a superfície da Terra, tendo sua base numa nuvem cumulonimbus — ou chame apenas de "nuvens de chuva" para facilitar — a única coisa que eu não sabia ou imaginava era que algo assim poderia entrar em meu caminho e acabar com tudo que eu estava lutando para construir.

Atualmente moro em uma pequena cidade — ou no que sobrou dela — no nordeste do estado de Louisiana, chamada Northwest Hill, quando nos mudamos para cá tínhamos grandes planos, meus pais e eu finalmente havíamos deixado a Coreia para trás e começado uma vida nova, sem os problemas que aquele país nos trouxe, ou talvez, os problemas que eu trouxe para minha família, mesmo que eles digam que eu não sou culpado pelas coisas que aconteceram, eu sei a verdade e convivo com a culpa dia após dia, me martirizar parece mais fácil do que apenas tentar esquecer.

Quando meu pai foi promovido em sua empresa há menos de dois anos atrás, vimos a chance perfeita para poder fugir de tudo que havia acontecido em Busan, nós já havíamos nos mudado muito por causa do trabalho do meu pai e alguns outros motivos pessoais, mas Busan foi a única cidade em que eu realmente fiquei feliz e aliviado em sair e poder começar uma vida nova do outro lado do mundo, mesmo que para isso tivesse que deixar muitos amigos para trás, mas era preciso e eles nunca entenderiam os meus problemas, na verdade, eles nem poderiam saber o que passei.

Já estávamos fazendo nossa vida aqui, eu tinha começado a faculdade de medicina e meu pai indo cada vez melhor em sua função na empresa, minha mãe é mais caseira, ela não tinha desejos de trabalhar, mas mesmo assim estava feliz com a vizinhança simpática e a casa bonita que compramos, a vida parecia finalmente estar dando certo, mas quando tudo está perfeito demais, algo tem que vir para estragar, eu já devia ter me acostumado.

Naquela tarde de catorze de setembro, estávamos todos em casa quando uma tempestade se iniciou, claro que ninguém ali esperava as proporções que aquele temporal tomaria, percebemos que não era uma simples chuva de outono quando notamos que o aguaceiro se tornou intenso demais, trazendo consigo ventos violentos e granizo.

As janelas apitavam e sacudiam seus vidros e madeiras, a energia rapidamente acabou e notamos que algo estava errado quando até as paredes pareciam tremer. Meu pai rapidamente nos puxou para o porão da casa, o cômodo era bem reforçado e serviria de abrigo caso as coisas realmente ficassem sérias lá fora.

E ali, naquele pequeno lugar escuro, nós escutamos tudo, os gritos de desespero, os trovões cada vez mais altos, o som ensurdecedor do vento levando consigo tudo que havia em seu caminho, sentimos o chão tremer enquanto o telhado ia pelos ares e as paredes da casa cediam, ainda me lembro bem do barulho dos moveis sendo arrastados pelo assoalho e do choro de minha mãe abraçando a mim e ao meu pai, rezando para que aquelas paredes construídas embaixo da terra nos salvasse.

Foi um tornado F3 de classificação, ou seja, foram ventos passando a cerca de 300 km/h, levando metade de nossa pequena e simples cidade, o fenômeno que durou cerca de quinze minutos causou danos severos em mais de trezentas e oitenta residências, deixando para trás mais de mil desabrigados, cento e cinquenta feridos e infelizmente vinte e quatro mortos.

Nós ficamos devastados, sair daquele porão e ver a casa completamente destruída, nossos vizinhos completamente desesperados tentando salvar algo ou alguém e a sensação de ter piscado os olhos e se ver em meio a um cenário de uma guerra foi horrível, em todos os anos da minha vida, nunca pensei que passaria por uma situação tão apavorante e muito menos que perderíamos tudo em menos de quinze minutos.

A natureza está tão triste assim com o que nos tornamos?

Metade de Northwest Hill está destruída, minha faculdade e a empresa em que meu pai trabalha foram devastadas, o governo prometeu nos ajudar, já que a prefeitura de nossa cidade não tem renda para algo dessa magnitude. Boa parte das famílias estão vivendo em locais cedidos pela prefeitura, atualmente estamos morando em um ginásio no qual outras vinte famílias também estão, esperando que os tais magnatas nos ajudem a conseguir novas moradias. Eles deram um prazo de dois meses para conseguirem reinstalar todo mundo, mas duvido muito que isso será cumprido a tempo.

Faz mais ou menos uma semana que tudo aconteceu, e é extremamente entediante e desconfortável estar vivendo assim, não tem sinal de televisão ou internet para passar o tempo, temos que dormir em colchões no chão e barracas de acampamento, a comida tem um cheiro estranho e com certeza depender de doações não é o que eu esperava para minha vida quando decidimos nos mudar para os Estados Unidos.

Admito que nem tudo está tão ruim assim, encontrei uma distração esses dias, um rapaz no qual ainda não sei o nome, mas ele é extremamente bonito, sua pele parece porcelana, branquinha e de aparência macia, faz minha vontade de tocar e sentir meus dedos afundando em sua carne crescem cada dia mais, seus olhos nublados e de íris negras e grandes me hipnotizam, eu poderia encarar seus olhos de olhar enigmático durantes horas sem cansar, seus lábios sempre vermelhinhos me fazendo perceber que ele tem a mania de morde-los me deixam atiçado na curiosidade de ouvir sua voz, acho que nunca vi um ser humano possuindo uma beleza tão distinta e encantadora.

O moreno nunca pareceu notar as minhas miradas em sua direção, eu admito que não tento ser discreto, mas ele realmente não percebe que o admiro de longe, ele parece estar sozinho, não o vi conversando ou próximo a alguém desde que começamos a viver nesse ginásio, o rapaz é bem reservado, nem comer junto das outras pessoas ele faz, o que é bem estranho, porém a única coisa que me incomoda realmente é que eu nunca o vi sorrindo, seu sorriso deve ser tão lindo quando seu rosto.

Garoto bonito, eu não sei o seu nome ou sua história, mas com certeza tem algo por trás desse olhar misterioso que me atrai.

~♥~

Até o próximo ^^

Wind Storms ||ji•kook||Where stories live. Discover now