Capitulo 10 - δέκα

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"Eu tenho estado atordoado e confuso
Desde o dia em que te conheci
Sim, eu perdi a cabeça
E eu faria de novo"

Alguns meses antes

Taehyung pegava o barco de Caronte enquanto segurava a reluzente lança de Ares. Ele sentia-se poderoso, forte e temido com aquela arma ao seu lado. Sorriu minimamente ao pensar sobre o ódio que corroía sua mente aos poucos e no poder, que subia-lhe à cabeça. Não era um usurpador, nem tinha vontade de ser um. Na verdade, só imaginava que se tivesse nascido tão forte como os deuses, ele mudaria todo aquele mundo nojento que conhecia, começando pelas guerras que ocorriam, as mortes e os preconceitos que envenenavam os solos daquela terra. Uma terra podre e fedida.

Se Taehyung fosse forte desde criança, teria cuidado de sua mãe, como ela sempre cuidou dele. Se tivesse dinheiro, teria poupado as dores da mulher que o criou com tanto suor e luta árdua. Eram muitos "se's". Mas, pelo menos estariam juntos, tentando manter o único amor que sentiam, como se aquecessem a única chama que restasse naquele mundo frio e injusto. E ele era o culpado pela chama que se apagou, pelo menos era o que pensava todas as vezes antes de deitar o peso de sua cabeça no travesseiro. "Se ao menos eu não tivesse existido...", pensava sempre que possível, martirizando-se por tudo.

Definitivamente por tudo.

E agora, com o poder emanando até mesmo pelas cutículas de suas unhas, passava a odiar ainda mais os deuses. Os vermes que usufruíam do dom divino somente por auto-satisfação. Era muito errado e mesmo que Atena até tenha sacrificando o seu grande amor para salvar o mundo, ainda era uma deusa. Taehyung odiava todos os deuses, sem excessões. No entanto, toda essa raiva gravada em seus ossos era a resposta por todos os crimes que tivera que cometer e por todas as dores que passou. O tatuado tinha uma ferida grande que talvez, e só talvez, passaria se ele encontrasse algum significado naquela vida miserável que sempre tivera. Kim precisava amar e ser amado. Precisava daquela chama que havia perdido com sua mãe.

"Ela está indo para Grécia, mas com certeza passará por Roma. A bússola de Hécate* indicará o que procuras", a voz de Ares soava em sua mente no momento em que atravessou o quadro da Barca de Dante para o museu do Louvre, novamente.

- Mamãe esse quadro se mexeu e aquele homem está tocando nele. Não é proibido? - uma criança disse no momento em que Taehyung pisou para fora da arte, terminando de ultrapassar o portal. Ele sabia que a névoa havia disfarçado sua proeza, então era muito comum humanos normais se enganarem com a realidade de fato.

- Está doido? Pinturas não se mexem! - a moça que estava com a criança se pronunciou, olhando brava para o tatuado, como se o repreendesse.

- Ei rapaz! Não toque nas pinturas! - um segurança falou alto, direcionando um olhar raivoso para o loiro, que apenas sorriu.

- Claro, chefia... - como se quisesse provocar o funcionário rude durante sua caminhada, virou para encarar o velho, mostrando iris vermelhas e brilhantes, como um demônio. Taehyung sorriu maldoso com o pânico do homem, soltando uma pequena gargalhada da brincadeira sem cabimento.

Saindo daquele lugar onde as pessoas gastavam dinheiro a toa para ver quadros de deuses gregos - o que era considerado pelo jovem uma impiedosa perda de tempo -, andou com pressa para a estação de trem e comprou sua passagem para Roma, ligeiramente feliz por poder cochilar algumas horas em um vagão qualquer. Mas, ali, repousando seu rosto no vidro da cabine, olhava indiscretamente para o rapaz que sentava na sua frente. Ele era bonito, europeu e provavelmente gay, já que estava a lhe dar sorrisinhos acanhados e cheios de sujas intenções. Seria crime foder um desconhecido em um vagão? E se as pessoas ouvissem os gritos de prazer? Tudo bem, seria melhor ainda.

O Filho de Hades Where stories live. Discover now