Capítulo 15 - δεκαπέντε

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[Notas da autora: se você consegue ler com música, escute a que eu indiquei na narrativa, se quiser, claro. Beijos.]

Eu sentirei sua falta
Eu ainda me importo
Ás vezes eu queria que nunca
tivéssemos construído esse palácio
Mas amor verdadeiro
Nunca é perda de tempo

- Posso apagar a luz? - a voz de Taehyung se fez presente.

- Pode.

Jeon Jungkook tinha seu corpo encolhido debaixo do lençol de algodão e as costas das mãos apoiadas sob sua bochecha rubra. Virado de lado, ele observava a lua pela janela velha do seu quarto. Por mais antigo que aquele prédio fosse – com pilastras rachadas e paredes manchadas –, Jeon se considerava sortudo, pelo menos naquele quesito, dado que conseguia ao menos ver o céu de forma aberta. O que lhe dava a oportunidade de conversar com Héspero sempre que possível, quando se sentia só. Mas, naquele momento ele não precisava de nenhum deus menor para lhe confortar, não quando braços fortes, aconchegantes e amorenados o abraçam por trás naquele exato momento.

Ele não precisava conversar com as estrelas como fazia antes, porque agora tinha Kim Taehyung. O seu Sírius particular. O homem que sempre dormia ao seu lado, que mesmo tirando-o do sério e confundindo-o deveras a cabeça, estava ali. Transmitindo tudo de bom que tinha com simples toques. Enquanto Jeon o achava bom demais, Taehyung achava de si mesmo um poço de desastres, não tendo ideia do quanto fazia bem para o mais novo.

Com o filho de Hades o passando energias positivas ou não, o filho da deusa da sabedoria não conseguia domar sua alma. Não depois das palavras que ouviu de Kim Namjoon, o guerreiro prateado de sua mãe.

Mãe. A palavra latejava em sua cabeça, ainda mais quando fazia um grande esforço para não chorar ali mesmo, nos braços do loiro. A informação de que sua progenitora havia matado seu pai para Gaia e gerado ele no útero como presente para um acordo que supostamente selou paz entre os humanos, era nauseante. Ainda assim, pensar sobre toda essa merda abria um leque de memórias em sua mente desastrosa, isso porque tudo que ele achava sobre si era uma mentira. Lembrava muito bem da madre de seu antigo orfanato dizendo que fora abandonado pelo seu pai – ainda bebê – na orla da praia mais próxima.

Apertou os lençóis com força. Ele costumava ter pesadelos com isso, justamente por ter imaginado tanto em sua mente como devia ser para uma criança tão pequena ser deixada sozinha no vento nortenho e na areia suja. Lembrava-se muito bem de acordar varias vezes durante a noite, achando que havia sido abandonado de novo e de novo, vezes na orla, vezes no próprio mar.

- Se você acordar gritando de noite mais uma maldita vez, sabe que o monstro debaixo da sua cama vai te comer! - dizia sempre o zelador, ao se assustar com os gritos de Jeon. Estes que acordavam muitas das outras crianças.

Realmente, ele não era popular no orfanato antes da chegada dos gêmeos Park, pois além de seus surtos baseados em pesadelos com um pai sem rosto o abandonando, também passara a olhar debaixo de sua cama toda noite antes de dormir, com uma lanterna velha que roubara do próprio zelador rabugento e rude. Ele não ligava de ser chamado de "esquisitão" ou "aberração" pelos outros órfãos, contanto que olhasse debaixo da calma todos as noites antes de pregar os olhos.

Então, apossado pela nostalgia do passado, Jeon tirou os braços de Taehyung de cima de seu corpo e pegou seu celular, ligando a lanterna e descendo parte de seu tronco para debaixo da cama. Ele vasculhava com a luz o pequeno espaço ao se pendurar de cabeça para baixo. Quiçá acharia um monstro lá, aquele que estava lhe causando tantos problemas durante todos esses dias.

O Filho de Hades Où les histoires vivent. Découvrez maintenant