O Filho de Hades

Capitulo 17 - δεκαεπτά

Mesmo na linha de fogo
Quando tudo está num fio
Mesmo contra a parede
O nosso amor é intocável

Jungkook não era uma pessoa que gostava de água, desde o incidente de anos atrás com Park Chaeyoung. Lagos, mares, piscinas, banheiras, casas de banhos, eram coisas que tentava evitar ao máximo. Ele não diria que tinha alguma fobia ou algo do tipo, mas as memórias ainda eram assustadoras. No entanto, lá estava ele dando braçadas fortes na piscina da faculdade, num lugar que nunca achou que visitaria. Ele não tinha óculos de natação, nem touca ou uma sunga propícia, permitindo-se simplesmente burlar as regras e aproveitar o ambiente durante a madrugada com seu calção velho.

"A piscina é um bom lugar pra pensar, principalmente de noite. Ás vezes eu levo um vinho e bebo ele na beirada para esquecer todos os meus problemas", lembrou-se das palavras de Hoseok, que mesmo não sendo filho de Poseidon, sempre tivera um estranho amor pelo mar e natação. Bom, o filho de Atena não tinha consigo uma garrafa de château haut-brion, mas parecia ébrio com todos os seus pensamentos e recentes acontecimentos.

Ofegante, Jeon deu uma última braçada na água para por fim emergir e se permitir descansar a cabeça na borda na piscina. O garoto levou a mão para o cabelo e puxou-o para trás, quase xingando seus pulmões devido ao tamanho esforço que fizera. Afinal, não era todos os semideuses que podiam simplesmente nadar por quase meia hora sem ao menos descansar. Ele sorriu, satisfeito pelo exercício e tratou de observar o local propriamente.

A piscina aquecida era protegida com uma estrutura semelhante a de uma elegante estufa. Quase todas as paredes ao seu redor eram feitas de vidro, permitindo assim que a iluminação natural entrasse sem problemas. Do lado de fora podia-se ver um pequeno jardim que os filhos de Deméter haviam construído para recreação, fazendo com que algumas plantas da árvore principal tratassem de invadir o teto transparente do local, ornamentando tudo de forma minimalista. Era lindo, assim como a lua cheia que brilhava no céu, iluminando a água e refletindo belos e confusos reflexos esbranquiçados pelo lugar. Era quase uma boa representação de seu estado mental, se não fosse pela beleza.

- Você disse que eu iria esquecer meus problemas... - Jeon bufou, irritadiço. O garoto falava sozinho. - Ao invés disso, estou pensando neles. Talvez eu realmente precise de um vinho.

A dica de Hoseok havia falhado, não porque o filho do deus das festas e orgias havia errado com seu conselho, mas puramente porque os dois eram pessoas diferentes. Jeon Jungkook era um filho da deusa da estratégia, sendo assim, sua mente sempre seria um emaranhado de pensamentos e divagações, querendo ele ou não. Uma maldição ou uma dádiva, cabia à Jungkook decidir o nome. Desse modo, ouvindo o barulho da água morna batendo contra seus braços e sentindo seus poros transpirarem pelo calor dos prévios exercícios, ele pensou em tudo, desde o começo.

Ele pensou no dia que Taehyung havia entrado em sua vida, sem ao menos pedir permissão, puxando-o para um aperto de mão próximo demais. Dominante demais. Lembrou-se de como o loiro havia o marcado entre gemidos na sala de medicamentos e na primeira vez que transaram. Bom e errado. Palavras erradas, na verdade era bom e complicado. Jungkook chegou à conclusão que teria aguentado as palavras rudes de Taehyung se ele tivesse se portado da mesma forma que o tatuado, mantendo um tipo de uma relação a qual só orgasmos e gemidos importassem. Mas não, agora ele sabia que estava apaixonado e mesmo não entendendo muito bem o significado, os atos dos filho de Hades não poderiam ser mais tolerados, principalmente porque o machucavam. Ver Taehyung com outro homem machucava seu coração.

Não somente nisso, ele pensou em como havia se encontrado com o loiro quando criança em seus sonhos. Pensou em uma das flechas, que Hades já tinha e em sua investigação por parte da CIS. Jungkook rosnou alto, fazendo sua raiva ecoar pelo lugar. Droga, por que tudo isso devia acontecer de uma vez? Por que ele tinha que se apaixonar filho do deus que quer destruir o mundo e ao mesmo tempo estar sendo investigado por tentar matar o seu próprio amigo? Gostaria de sumir, ir para alguma cidade pequena na Dinamarca e apreciar o frio do lugar com uma bela xícara de chá na mão. Ou se aventurar sozinho na Amazônia boliviana, não sabia. Só gostaria de sumir.