| Capítulo Nove |

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Saint

— Você não precisa.

— Não posso ser como... — Pérola parece procurar a palavra certa. — Um peso para você.

— Você não é um peso. — eu franzo a sobrancelha en sua direção, a repreendendo.

Eu estou, veementemente, tentando convencer Pérola de que ela não precisa de um emprego. Mas ela, teimosa, tem certeza de que precisa de um. Pérola está sentada no chão da sala com dezenas de jornais espalhados ao seu redor. Jornais estes, que minha mãe trouxe depois de Pérola insistir muito. Sua língua fica no canto da boca, mostrando toda a sua concentração. Vez ou outra, ela direciona seu olhar atento para mim e sorri.


Me chuto mentalmente por me sentir tão bobo, com uma coisa tão boba.

— Você não sente falta de trabalhar? Sabe, ter algo que você tem que fazer obrigatoriamente, por necessidade ou só fazer por amor.

— Ainda não. Foram dois longos anos de preparamento árduo, um de adaptações e três servindo em combate. Não sinto mais a vontade que sentia antes. — suspiro, desviando os olhos dos seus, observando as minhas mãos distraidamente. — Eu gostava de ser um soldado até saber o que é ser um soldado. Antes eu pensava que era poder ajudar o meu país e desfilar por aí com a minha farda, mas não. Não é assim. — volto a olhá-la, e vejo-a me observar.

— Eu sinto muito. Então, como você ainda mantém uma casa tão grande, roupas e comida? Você não trabalha. — eu acho graça do quão direta ela é. Não sei como ainda posso me surpreender com sua língua afiada.

— Eu recebo um salário muito bom, ainda. A maior parte eu invisto em empresas de vários ramos, especialmente na do meu pai.

— E o que ele faz? — ela começa a recolher os jornais e quando termina, os coloca empilhados na mesa de café, logo, senta confortavelmente ao meu lado, apertando o casaco contra si.

— A nossa família tem uma empresa da área imobiliária. Ela passou do meu bisavô para o meu avô, dele para o meu pai e deveria vir para mim, mas eu acho que isso não é para me faria feliz, entende? — dou de ombros.

— Então, com quem está hoje? — Pérola inclina a cabeça contra o sofá e se vira de lado, abraçando os joelhos, observando-me atentamente. Ela é, de todas as formas, a coisa mais linda em que coloquei os olhos. Suspiro audívelmente.

— Por que? Você a quer? — eu sorrio, ela sorri também.

— Talvez. — mas ela balança a cabeça, negando. — Jen, sua irmã, ela também não a quis?

— Acho que ela também nunca se interessou o suficiente, mas, de qualquer forma, não poderia estar com ela, eu acho.

— Por que? — sua curiosidade é genuína.

— Nunca esteve na gerência de uma mulher, não sei se meu pai deixaria agora. — dou de ombros.

— Isso é sério? — ela parece chocada e levanta a sobrancelha.

— Não sei, talvez.

— Pensava que a cultura machista só exitisse em países de terceiro mundo. Isto é decepcionante. — Pérola ironiza, balançando a cabeça.

BurnWhere stories live. Discover now