capítulo quinze

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Saint

Eu ouço os sons abafados dos seus passos lá encima, andando de um lado para o outro. Tento ignorar o máximo que consigo, mas bufo quando não consigo parar de pensar. Pérola está se arrumando para uma reunião com um agente. Ele pode ser um estuprador, porra. Ela não percebe o perigo? É claro que eu não vou deixar ela ir sozinha. É tudo preocupação, penso. Talvez um pouco de ciúmes.

Dou de ombros e guardo os últimos talheres na gaveta, logo seco as mãos e vou para a sala.

O canal de esporte parece me entreter por alguns minutos até que eu ouço os passos descerem ás escadas com pressa. Quase tenho um infarto quando vejo a roupa que Pérola usa. Eu não vou agir como um babaca.

-Não tinha nada mais curto? -eu sorrio, voltando a encarar a televisão que agora parece totalmente sem graça.

-Talvez eu tenha. Quer que eu vista?

-Você já repetiu mil vezes, o corpo é seu. -dou de ombros e aperto o controle com tanta força que as pilhas rangem.

-Saint. -eu a ignoro e olho para qualquer lugar que não seja para ela. Porra. Eu não consigo não agir como um idiota. Ela não poderia só trocar de roupa e evitar uma discussão? -Saint?

Eu continuo a ignorá-la. Seus passos se afastam, mas eu viro a tempo de ver o seu corpo desaparecer na cozinha. Eu suspiro, passando as mãos pelos cabelos.

Não consigo mais me entender. Sinto-me possessivo 50% do tempo e nos outros 50% sinto-me ciumento, o que é praticamente a mesma coisa. Eu quase comecei uma briga em um café por que um cara a encarou mais do que devia. Eu não me reconheço mais, nunca fui ciumento, muito menos brigão, mas quando se trata de Pérola, a emoção parece superar a razão. 

O som de notificação do meu iPhone chama a minha atenção. Desbloqueio a tela e vejo o nome de Pérola brilhar na tela.

Pérola: Isso não está dando mais certo.

Eu respiro fundo e jogo o celular aí meu lado. Estranho o seu silêncio. Cinco minutos se passam e mais uma vez o celular notifica.

Pérola: Eu sinto muito.

Mas cinco minutos já era tarde demais.

*

Eu manobro o carro e escuto o pneu cantar sobre o asfalto molhado. Acelero e ao mesmo tempo disco o seu número no celular pela milésima vez. Caralho. Ela não pode ter ido longe. Pérola não conhece muitas pessoas além de mim, suas colegas do trabalho e Jen.

Jen. Um último suspiro de esperança sai pelos meus lábios e eu viro o volante, mudando o trajeto, enquanto digito uma mensagem para ela. Não recebo uma resposta, mas essa é a resposta perfeita. Sei que Pérola está com ela, e ela está ao lado de Pérola. Eu soco o volante com força, fazendo com que a buzina soe.

Eu fui um idiota, mas é quase inevitável. O medo de perdê-la permanentemente me consome e eu quase sufoco com o pensamento e é uma droga.

Sentimentos são uma cadela.

Penso nas coisas que eu poderia ter dito e em como eu poderia te agido de outra forma, mas me lamentar não vai fazer com que ela mude de idéia.

Pérola estava tão feliz com a idéia de fazer as fotos e eu fui um filho da puta a empurrando a negar, a fazendo se sentir mal com a idéia. Porra. Eu estou sentindo ódio de mim mesmo. Soco o volante com vontade de socar o meu próprio rosto.

Eu passo pelas ruas como um foguete e ao longe vejo o prédio de Jen. Estaciono o meu carro alguns quarteirões antes e salto quase esquecendo de trancar o carro e tento me lembrar se tranquei a porta de casa. Mas nada é tão importante agora, quanto Pérola, então dou de ombros e corro em direção ao prédio de tijolos avermelhados.

BurnWhere stories live. Discover now