Cassandra

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Cassandra acabara de arrumar todas as suas malas para a mudança, tudo estava pronto. Pela última vez ela olhou através janela, viu um carro preto e suas irmãs colocando com a ajuda de Rosa toda a bagagem no porta-malas. Rosa havia dito para levarem o essencial, apenas as coisas que realmente precisavam, o que não fosse de extrema importância devia ser deixado, tudo aconteceu tão lentamente mas tão rápido, Rosa disse que os pais das meninas já haviam planejado tudo caso alguma coisa acontecesse com eles, desde que a guerra se iniciou eles compraram uma casa no interior, longe de tudo e todos, principalmente, longe da guerra. Rosa já estava avisada, caso algo viesse acontecer com eles, ela devia ir com as garotas para essa casa, até que todas tivessem idade suficiente para seguirem suas próprias vidas, lá, todas incluindo Rosa, teriam proventos e recursos para uma boa parte de suas vidas. Eles haviam pensando em tudo. Como alguém seria capaz de pensar em sua própria morte, isso é algo incompreensível para Cassandra, o mais próximo da morte que ela consegue chegar, são as flores, que todo fim de primavera estão morrendo aos poucos, ela não consegue entender como os pais são capazes de pensar em algo tão frio como isso.

Cassandra é interrompida com Rosa na porta.

— Menina, eu sei que... — Rosa parou de falar, como se não soubesse qual a próxima palavra que deveria encaixar na frase — Precisamos ir, já estamos atrasadas.

— Já estou pronta Rosa, — disse Cassandra calmamente — nós vamos ficar lá por muito tempo?

Rosa caminhou até Cassandra, Cassandra sentiu uma mão quente em seu ombro direito, olhou para Rosa e percebeu que ela estava segurando as lágrimas, talvez isso fosse algo comum entre os adultos, afinal as irmãs Olivia e Marina sempre fazem isso. Aos poucos Cassandra sentiu o ambiente ficar gelado, e apenas a mão de Rosa permanecia quente, Cassandra olhou para a janela e viu um horizonte cinza, então ela sentiu muito medo, medo do futuro e do que estava por vir, medo do desconhecido, medo de como seriam os dias dali em diante, como ela cuidaria de suas irmãs, como ela viveria a própria vida.

— Já nos prolongamos muito aqui menina, vamos, está na hora — disse Rosa.

Como uma brisa de verão, tudo se foi, todo aquele sentimento ruim se foi, acabou, Cassandra sentia-se ela mesma novamente, mas como era possível ela sentir algo que não estava sentindo.

A viagem foi longa, um dia inteiro de carro, a única coisa que podiam fazer dentro do carro era ouvir as histórias de Jorge, o motorista gorducho. Cassandra adorou Jorge, ele contava piadas e tentava animar todas. Jorge contou como conseguiu uma das tantas cicatrizes em seu braço, ele já havia trabalhado como marceneiro, em um dia comum ele estava mexendo em uma máquina cinco vezes maior que ele, a máquina olhou feio para Jorge e tentou atacá-lo, mas ele era muito mais rápido que à máquina, então ele pegou uma chave de fenda que tinha a mesma altura que ele e bateu com a chave de fenda na máquina, ainda assim a máquina conseguiu machucá-lo, mas ele disse que nem doeu, depois disso Cassandra acabou cochilando, ela acordou quando Jorge contava para Lucy da máquina de lavar roupas que tentou comê-lo, infelizmente para Cassandra essa história ela também não ouviu o final, assim como a história que seu pai havia começado a contar à três meses atrás, histórias que nunca teriam um fim, nenhuma reviravolta, nenhum final feliz, talvez as histórias imitassem a vida, sem um final combinado.

A viagem de trem foi entediante, não havia um novo Jorge para contar histórias de lutas contra máquinas. Cassandra já estava acostumada a não ter companhia ela era a filha mais nova das quatro, se acostumara a procurar coisas para fazer sozinha, foi com esse pensamento que ela decidiu.

— Vou ver como são os outros vagões, e se as pessoas de lá são legais.

— Aproveite que você vai andar e compre um café pra mim menina, — pediu Rosa — não vá muito longe Cassandra, suas irmãs estão dormindo, se Olivia acordar e você não estiver aqui, ela vai fiar preocupada e Marina vai achar que você está fazendo isso para chamar atenção, então vá e volte logo, porque eu não quero ter que separar mais uma briga.

Filhas da PerdiçãoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang