Olivia

16 1 0
                                    

O caminho entre o vagão de refeições até o penúltimo vagão, que era onde Rosa e suas irmãs estavam, parecia mais longo que o comum, na verdade, parecia uma eternidade. Quando Olivia e Cassandra chegaram, já estava na hora de partir, mas isso não impediu Rosa de demonstrar sua irritação por Cassandra ter demorado tanto.

— Menina eu falei pra você não demorar muito, era só comprar um café e voltar! — Afirmou Rosa.

— Está tudo bem Rosa, nós compramos seu café na volta — explicou Olivia.

Olivia olhou para Rosa com o mesmo olhar de sempre.

Ela sabia que Rosa entenderia a situação, entenderia que aquele não era o local nem o momento certo para falar sobre o que acontecera, então com os olhos Olivia disse "Depois eu explico tudo".

— Muito obrigada pelo café, mas vocês imaginam a minha preocupação? — Questionou Rosa — Vocês ficaram quase a viagem inteira longe, eu não sabia onde vocês estavam ou se algo havia acontecido!

— Nós estamos bem — disse Cassandra.

A exaltação de Rosa fez Olivia pensar, quando ela foi procurar Cassandra fazia apenas meia hora que a viagem havia começado, quanto tempo elas ficaram fora, e o mais importante, como elas não perceberam o tempo passar tanto. Perguntas que Olivia sabia que sua mãe seria capaz de responder, se ela estivesse viva.

– Arrumem suas coisas meninas, estamos chegando e precisamos ser rápidas, nossa carona não irá esperar para sempre – disse Rosa.

Olivia pegou suas duas malas grandes e ajudou Cassandra e Lucy a tirar suas malas do maleiro, como esperado, quando foi ajudar Marina, ela recusou ajuda, depois que todas já estavam saindo, Olivia decidiu tirar sua última mala, diferente das outras, essa era pequena, robusta, com uma aparência muito velha, essa era a antiga mala pessoal de sua mãe, Olivia apenas a pegou em seus braços e saiu do trem, tentando não pensar no passado, nem no que havia acontecido mais cedo.

Quando Rosa disse a palavra "carona", Olivia pensou em algo como um carro, ônibus ou até uma moto, nunca ela pensaria em uma charrete puxada por dois cavalos, mas de forma alguma ela iria reclamar da condução, afinal elas precisavam dessa charrete para chegar em sua nova casa.

Quando subiu na charrete ela sentiu um cheiro erva-doce, algo muito incomum, se não fosse pelo condutor da charrete, um homem bem velho, ele não falou uma só palavra com elas, mas Olivia sabia o que ele era e que era melhor não falar nada.

O caminho foi longo e turbulento, mas Olivia não estava acostumada com a sensação de saltos e pulos involuntários feitos a partir das rodas quando as mesmas passavam por cima de uma pedra, quantas pedras existiam até a nova casa? Muitas, tantas que quando chegaram Olivia foi a primeira a sair, de costume ela esperaria suas irmãs saírem, para ver se todas estavam bem, mas o desespero foi tamanho que não se preocupou com mais ninguém além de sua vontade de esticar as pernas e fazer com que o enjoo passasse, desde quando ela sentia enjoo por andar em algo muito similar a um carro, ela mesma não sabia, mas queria que passasse logo a sensação.

— Ela é tão grande — disse Cassandra espreguiçando-se.

— Não sabia que a gente tinha tanto dinheiro a ponto de conseguirmos comprar uma casa assim — questionou Marina.

— Seus pais providenciaram um fundo de segurança, — explicou Rosa — eles pagaram essa casa durante meses e ainda guardaram um pouco do dinheiro para o futuro de todas vocês, o plano deles era vir morar com vocês nessa casa, depois que a guerra acabasse.

— Mas isso não vai acontecer — disse Olivia.

— Não, isso não vai acontecer, mas com a indenização que o governo pagou eu consegui terminar de pagar a casa e dividi o restante igualmente entre nós cinco, esse é dinheiro que teremos até vocês conseguirem se sustentar por conta própria, começar uma faculdade, curso ou qualquer outra coisa, — disse Rosa com um alívio em sua voz — só então poderei seguir a minha vida, então tratem de crescer muito rápido, todas vocês!

Filhas da PerdiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora