Filhas da Perdição

Marina

Marina sabia que uma hora ou outra teria que se desculpar com Rosa e Cassandra, ela estava certa que tudo que havia dito estava certo, mas a forma com que ela falou com as duas foi muito cruel. Era tão irritante ver Cassandra sempre se fazendo de vítima e recebendo a atenção de todos, todas ali estavam sofrendo, ninguém devia ser mais importante, mas Olivia sempre protegia Cassandra, isso era muito irritante, desde que a mãe e pai de Marina faleceram, Olivia se autonomeou mãe de todas, mas ela não era e não devia tratar Marina como uma criança, ela já era quase uma mulher.

— Chega Marina! — Disse ela a si mesma — Você foi adulta para brigar, então terá que ser forte para se desculpar.

Decidida, Marina foi até a cozinha, geralmente Rosa sempre está preparando alguma coisa para comer ou vendo as notícias sobre a guerra em seu notebook, mas para sua surpresa, Rosa não estava lá, em seu lugar encontrou Olivia, Marina parou na porta percebendo o que estava acontecendo, Olivia estava chorando enquanto cozinhava, uma descarga de energia chegou no corpo de Marina, como se alguém tivesse jogado um tijolo em seu peito, a culpa de ver a irmã dessa forma era grande, Marina ainda não era adulta o suficiente para enfrentar essa culpa, talvez fosse para culpas menores, afinal, cada um escolhe o monstro que quer enfrentar, se Marina se mostrasse forte para os outros, ela estaria pronta para esse.

Sua jornada precisava continuar, então, ela deu meia volta e subiu as escadas, olhou todos os quartos, pouco a pouco ela foi percebendo que conforme os quartos iam acabando, a resposta ia se aproximando, o último quarto, o quarto de Rosa, estava com a porta fechada. Tudo o que Marina disse seria o suficiente para deixar Rosa tão mal? A coragem veio como um sussurro em seu ouvido, Marina bateu a porta cinco vezes, cinco era seu número favorito, talvez a trouxesse sorte nesse momento. A resposta foi um longo silêncio, Marina então bateu novamente, agora com um pouco mais de força. A resposta foi imediata. Rosa abriu a porta, olhou fixamente no fundo dos olhos de Marina e disse.

— O que você quer Marina?

Marina sabia que essa não seria uma conversa amistosa, até que ela conseguisse virar o jogo.

— Eu quero falar com você Rosa — disse Marina.

— Eu estou cansada hoje, sua irmã vai fazer o jantar, então vocês terão comida.

— Eu quero pedir desculpas pela grosseira do outro dia — disse Marina totalmente sem jeito e sem saber se o que estava fazendo era o modo certo de se fazer.

A resposta de Rosa foi clara, ela não acreditava em nenhuma palavra dita por Marina, os olhos de Rosa avaliavam Marina da cabeça aos pés, ela possuía uma habilidade de detectar pessoas mentirosas, mas Marina não estava mentindo, pelo menos seu sentimento era verdadeiro, ela queria que a culpa parasse de zumbir em seu peito, e pedir desculpas era a única forma de fazer isso parar, mas Rosa percebeu isso.

— Você não está aqui por mim Marina, está aqui por você, porque a culpa é maior que o amor ou o carinho, você não pode ser uma pessoa tão fria e egocêntrica. — Disse Rosa — Se coloque no nosso lugar, que ouvimos tudo o que você disse, seus pais eram importantes pra mim também, vocês são importantes pra mim, eu nunca deixaria nenhuma de vocês e nem permitiria que algo de ruim acontecesse com qualquer uma, mas não é por isso que você tem o direito de me tratar da forma que você me tratou. Sua mãe era minha melhor amiga e eu tenho uma dívida com ela, mas não sou sua empregada, não sou nada sua, nem temos o mesmo sangue, porém, se você fosse uma pessoa melhor, poderíamos ser amigas. Nós cinco estamos no mesmo patamar, ninguém é mais nem menos que ninguém, nós devemos nos ajudar, vamos viver muito tempo juntas ainda, então porque não vivermos bem e felizes, invés de nos odiarmos. Eu já escolhi o que é melhor pra mim, agora é a sua vez de escolher, qual o convívio você acha melhor. Você quer ser tratada como alguém adulto, então será, agora vai um conselho de um adulto para outro adulto, todas as suas ações geram reações, o que você fez hoje mais cedo fez com que nós nos sentíssemos muito mal, então é sua obrigação resolver tudo isso. Você já sabe a minha resposta para o que eu te perguntei, quando você decidir qual é a sua, não precisa falar nada, apenas faça. A escolha é sempre sua.