Marina

10 1 0
                                    

Os dias seguintes da aparição da deusa, foram muito estranhos, Marina percebia que todas evitavam falar sobre o que acontecera.

Ainda era de manhã, Marina decidiu entender o porquê de todo esse silêncio ensurdecedor. Se arrumou em seu quarto e aproveitou que suas irmãs, aparentemente, não estavam em seus quartos para dar uma olhada em tudo. Passou primeiro no quarto de Olivia, Marina não entendia como alguém era capaz de ser tão sistemático, todos os livros e prateleiras, milimétricamente posicionados, os livros organizados primeiramente por cor, depois por ordem alfabética, ao olhar para a cama de Olivia, Marina viu um pingente pequeno e delicado, ela sabia o que era e de quem era, ou pelo menos quem um dia foi seu dono, ela abriu o feche e viu uma foto de seus pais juntos, sorrindo felizes e bem mais jovens do que ela se lembrava, do lado direito havia uma foto de todas as quatro irmãs, elas ainda eram muito novas, ainda sorriam juntas, ainda diziam "eu te amo" um para outra, ainda eram unidas.

— Como tanta coisa pôde mudar desde aquela época? — Perguntou Marina a si mesma.

Sentindo algo mais forte que sua força de vontade era capaz de suportar, ela largou o pingente no travesseiro de Olivia e saiu do quarto. Marina começou a sentir sua rosto um pouco húmido, principalmente na região dos olhos, isso não era novo, mas era algo muito incomum, rapidamente ela enxugou o rosto com as próprias mãos e seguiu para o quarto de Cassandra, a primeira coisa que Marina notou, foi que o livro "Animais e suas Espécies de A à Z", não estava mais em cima da cama de Cassandra, logo Marina percorreu o olhar à volta, ela encontrou o livro debaixo de algumas roupas, que estavam jogadas em uma cadeira. Esse era o livro preferido de Cassandra desde sempre, ela ganhara o livro quando começou a falar, desde então nunca havia deixado ele de lado.

— Quando você cresceu Cassandra? — Perguntou Marina a si mesma novamente.

Rapidamente Marina se direcionou ao quarto de Lucy, que para sua surpresa, a irmã estava lá. Lucy estava sentada no chão, lendo o Liberum Tenebris que encontrou. Depois de ficar um tempo observando a irmã sem ser notada, Marina decidiu se aproximar.

— Tem espaço pra mais uma? — Perguntou Marina sentando-se ao lado de Lucy.

— Claro! — Respondeu Lucy.

Momentos como esse sempre deixavam Marina desconfortável, ela não sabia o que dizer ou como agir, as vezes sentia-se como um robô, mas era o único momento de lucidez e carinho que estava tendo em dias, era melhor aproveitar de alguma forma.

— Você tá com medo? — Perguntou Lucy.

— Um pouco, — respondeu Marina — você não tá?

— Eu estou tentando me conformar — disse Lucy.

— Como assim?

— Eu só tenho apenas duas opções, e nenhuma delas são de minha escolha. Ou eu vou perder uma de vocês para sempre, ou eu vou perder todas vocês para sempre. Eu não sou capaz de escolher uma entre vocês...

— Você quer isso pra você? — Indagou Marina.

— Você não? Talvez seja melhor viver em um mundo sem guerra, muitas pessoas morreram Marina, se eu perder uma de vocês, é como se isso tivesse acontecido... eu não tenho certeza de nada... eu só estou cansada de nossas vidas sempre serem decididas por outras pessoas, talvez eu esteja me enganando, fingindo que desta vez eu estou escolhendo o rumo da minha vida., que eu sou a dona do meu destino, mas é o único jeito que eu consigo lidar com tudo isso.

Marina nunca havia pensado no que a irmã acabara de dizer, não sabia que toda essa situação tinha um peso tão forte, talvez porque ela nunca vira a vida com um peso tão forte. Nunca se sentiu responsável por nada, nem ninguém, esse pensamento vinha com o peso de que ela devia ser responsável pelas irmãs e que algo devia ser feito.

Filhas da PerdiçãoWhere stories live. Discover now