Prólogo

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Jungkook estava exausto.

A última foda da noite havia acabado com todo o seu corpo, extraído seu ânimo e derrubado toda e qualquer possibilidade do garoto sair depois para beber ou comer algo. De estômago completamente vazio e lágrimas se acumulando no canto dos olhos, ele apenas pegou o primeiro uber que conseguiu e se dirigiu até o apartamento distante e simples demais.

Bebeu água, desistiu de tomar banho devido às dores constantes no corpo e se jogou, sem roupa alguma, na cama amarrotada com a tv ligada no volume mais baixo para não incomodar sua cabeça latejando. A vida podia ser tão suja...

— Que porra de vida. — murmurou para si mesmo, observando as mensagens sem importância no celular, e as tragédias nos últimos dias noticiadas no jornal da madrugada. Nada daquilo importava porque sua vida já era a maior das tragédias.

Desejou não existir, ou ao menos encontrar algum propósito para sua vida.

Jogado na poltrona vermelha de veludo da boate, Jimin gargalhou ao sentir as garotas enroscadas em seu corpo. Mais alterado do que nunca, beijou cada uma delas, primeiro no rosto, nas bochechas fartas e em seguida nos lábios macios. Não sabia como havia chegado a tal ponto.

— Jimin-ah, vamos para sua casa. — Sunmi sussurrou em seu ouvido, e o garoto possuía certa preferência por ela.

— Nada disso. — Yeeun respondeu, nervosa. — Ele vai comigo, porra!

— Ele não te quer, você está fedendo a álcool. — Sunmi se gabou, encostando o corpo no peito do garoto de cabelos azulados, completamente bêbada.

Bem resolvido e assumidamente bissexual, Park tinha tudo que queria e todos — definitivamente todos — os garotos e garotas que desejava. Dinheiro nunca foi um problema, muito pelo contrário. Seus problemas iam bem mais a fundo.

Jimin queria se livrar de uma das garotas, seu interesse estava realmente em Sunmi, a dos cabelos negros e esvoaçantes. Inventou uma desculpa qualquer para Yeeun, e então caminhou com sua paixonite da faculdade até seu apartamento luxuoso, comendo a garota por duas vezes seguidas. Ambos chapados, rindo e se divertindo com o calor dos corpos se chocando, foderam sem se importarem com os barulhos.

Jungkook queria morrer.

Acordou sentindo a cabeça explodindo, e as pernas falhando devido às posições que lhe ordenaram no dia anterior. Quando dava sorte, arrumava um ou outro cliente com apenas algumas dificuldades no amor ou preguiça de flertar, então tudo que tinha que fazer era o mais normal e entediante sexo casual.

Entretanto, quando se tratava de pessoas experientes, homens com grande poder aquisitivo como bancários ou juízes, Jeon sabia que nunca era algo bom. Alguns curtiam apenas um bom papo, uma boa foda ou um jantar para que não parecessem sozinhos nas rotinas cruéis do dia a dia.

Outros — a grande maioria —, gostavam de brincadeiras mais perigosas. Brinquedos e fetiches que incendiavam quartos de motéis, onde somente um deles curtia a relação. Jungkook não sabia qual havia sido a última vez em que realmente sentiu algo ao entregar seu corpo para outra pessoa.

Talvez, bem no fundo, nunca tivesse realmente sentido.

E ali estava ele, caminhando em direção à boate razoavelmente cheia, sentindo o coração pesar porque não era aquela a vida que almejou durante sua infância e adolescência conturbada. Deixado num orfanato aos dois anos numa cena típica de filme — deitado em uma cadeira de bebê para automóveis apenas com um lençol de fina espessura o cobrindo —, Jungkook aprendeu tudo que sabia ali, com as outras crianças e também com as freiras que cuidavam de tudo.

O lugar, nomeado de Raio de Sol, acolhia crianças carentes e também aquelas que eram simplesmente deixadas ali sem dó nem piedade. A vida podia ser cruel às vezes. Miya fora a garota que mais o ajudou, praticamente o criou porque era mais velha e também porque sentira algo incrivelmente intenso, repleto de empatia quando encontrou o bebê tão desamparado.

Até certo tempo, deu certo. Jungkook não podia sentir falta dos pais, afinal mal se lembrava deles. Não recordava a cor dos cabelos da mãe, muito menos o formato dos olhos do pai. Foi deixado muito cedo naquele pequeno orfanato, e ali foi cuidado com muito amor.

Park Jimin, por outro lado, teve uma infância um pouco diferente.

Criado no orfanato, sua história vivendo no Raio de Sol começou quando, aos oito anos, perdeu os pais num acidente fatal com destino a Incheon, e sem parentes com possível interesse em sua guarda, fora simplesmente deixado ali, sem mais nem menos.

Entretanto, não foi tão difícil quanto pareceu, principalmente porque ali, desiludido e imerso em melancolia com saudade dos pais, ele encontrou alguém. Ele encontrou sua luz.

Porém, como tudo na vida pacata e cheia de mesmice de Jungkook, algo aconteceu. Ele aconteceu. E então, depois de três anos surreais e cheios de descobertas desconcertantes, ele partiu. Jimin simplesmente partiu.

Park Jimin fora adotado.

☔️

NEPTUNE • jjk x pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora