02 | O Raio de Sol Queria um Pentagrama no meu Chão...

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POV NICO

  Eram pouco mais de duas da tarde quando um ser enviado provavelmente das profundezas dos Tártaro¹ batia em minha porta incessantemente, afim de atrapalhar meu sono da tarde e minha paz de espírito.

  Me levantei lentamente, arrastando meus pés e bocejando, mal mantendo meus olhos abertos enquanto ia em direção a porta.

  Seja lá qual fosse a criatura maligna em minha porta – porque só um monstro para atrapalhar o sono de alguém uma hora dessas - , essa criatura estava morta.

  - O que você está fazendo aqui? –Se minha voz esganiçada não havia entregado toda minha insatisfação a minha cara de defunto ressuscitado através de necromancia o fez com certeza.

  O garoto a minha frente me encarava em toda sua glória loira e sorriso radiante, como se minha carranca desgostosa e obscura não abalasse em nada sua aura brilhante.

  - Boa tarde para você também, Lorde das Trevas. – Ele simplesmente sorriu da minha cara de tacho. - Tirei o dia de folga hoje, achei que pudesse precisar de companhia. – Continuou enquanto se balançava para frente e para trás, como se fosse difícil manter toda sua hiperatividade controlada. - Você parecia bem solitário hoje, almoçando sozinho na mesa de Hades.

  - Caso não tenha percebido, eu estou sempre sozinho. Faz parte do lance de Lorde das Trevas ou algo assim.

  Eu jamais revelaria a ninguém, mas desde o dia da Captura a Bandeira eu comecei a me pegar olhado para a mesa de Apolo durante as refeições, acidentalmente deve-se acrescentar.

  Acidente acontecem não é mesmo? Não importa que eles se repitam umas as 40 vezes em apenas 2 dias, certo?

  O que eu estou dizendo? Nem eu acredito nisso.

  - Ah, não se preocupe. Estou aqui para mudar isso. - Will parecia bastante convicto, não pude deixar de arquear uma sobrancelha para aquele entusiasmo.

  Eu era um cara durão.

  -  E como você pretende fazer isso, Solace? - Disse, cruzando meus braços.

  É aquele ditado não é mesmo? "Não cutuque  uma Equidna²  com vara curta"

  Porque logo após minha fala o filho de Apolo abriu um sorriso imenso. Pude jurar que vi um pouco de veneno escorrendo pelo lábio inferior dele, como se estivesse esperando essa pergunta há muito tempo.

  Era provável que realmente estivesse.

  -Bom, primeiramente eu pretendo ser convidado para entrar. - Will inclinou levemente a cabeça para o lado, as mãos atrás das costas, fazendo uma carinha que nem Zeus poderia resistir. – Eu não quero forçar nada, Nico, não precisa me deixar entrar se não quiser, sei que você gosta do seu próprio espaço, está tudo bem e...

  Will havia começado a tagarelar. A brecha de nervosismo naquele muro de convicção era bem perceptível.

  Não estava sendo fácil para ele.

  - Ah, cale a boca e entre logo antes que eu mude de ideia, Solace. - Tive que lutar contra um sorriso que queria aparecer em meus lábios, é uma sensação boa a de sentir que alguém se importa e se preocupa com você depois de tanto tempo sozinho e de tantas perdas.

  Os ombros de Will relaxaram e seus olhos brilharam pela minha resposta. Eu só conseguia pensar que gostaria de causar aquele olhar nele mais vezes, era lindo.

  Abri caminho para ele, enquanto de   repente, o chalé parecia bagunçado demais, escuro demais, vazio demais.

  Will entrou cautelosamente, seu olhar era curioso enquanto ele girava no lugar afim de captar cada parte do lugar.

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