III - Elegia dos Contrários

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I.

A alva beleza divina que

Carrega aquela doce menina

É narcótico absorto

Para mim, triste ímpio mouro!

Seus olhos de mel... Ah!

A rubra cor do seu véu!

Para mim, de olhos negros,

Fronte onde faltam cabelos,

São uma tentação do meu Ser.

Abismo, convite a morrer!

Morrer de amores, quero dizer!


II.

O trejeito do seu sorrir,

Sua felicidade juvenil!

Como primavera a florir.

Onde já se viu, pergunto a ti,

Tamanha beleza?

Tão belo manto de pureza!?

Beleza torturante, ai de mim!

Garota d'um olhar desconcertante,

Logo para mim,

Que desaprendi a sorrir,

Que vivo em tristeza constante!


III.

Somos contrários por excelência!

Ela é Vênus em doce juventude,

E eu sou pura decadência!

Ela é orvalho de plenitude,

Eu sou a trist'essência!

Amá-la é sentimento vã',

Ela é anjo de amor celestial,

E eu o arauto de satã!

Ai de mim! Ai de mim!

Por que me apaixono?

Por que tem de ser assim!?


IV.

Ela me enjeita, me reprime,

Sua tirania a mim é regime.

Ela tem nojo do meu eu. Logo eu!

Que fui eterno amante seu!

Ela não me quer perto.

Trata-me com trejeito austero! Logo eu!

Que tenho esse amor como etéreo!

Suicidou-me o triste coração,

Morrendo pelo amor que me envolve.

Deixou-me sangrar absorto!

O que sinto por ela é paixão!

E o desprezo que ela me devolve tornou-me

Outra vez n'um poeta morto!

Um Jardim no Inferno - Antologia PoéticaWhere stories live. Discover now