IV - Mórbida Macieira

2 1 0
                                    

Caminhava no rochoso pavimento,

Triste e lento. Na deserta rua

Iluminada, cintilante à luz da lua,

Que brilhava em meu pensamento.

Arvoredos robustos no avistamento,

Salvo a longínqua árvore nua. 


Tão bela a planta cadavérica,

Me atrai com seu feitiço sombrio.

Envolvendo-me na névoa, ébrio

Co'a pávida beleza quimérica!


A Escuridão torna-se o alento.

Bebendo eu o sumo da parreira,

Vejo o tronco magro e alvacento,

Tal qual o porvir da fogueira!

Mil galhos, co'o gume sedento

Por minha morte derradeira!


Sento-me na sebe entristecida,

Tão cinzento que mal via,

De tristeza envolvida,

O amálgama da melancolia!


Do topo da árvore cai algo;

Rubro, vermelho, umbroso carmesim.

De botões na fronte, salvo

Seu lânguido sorriso pavoroso,

Cabeça de olhar tenebroso,

Que olhava diretamente para mim.


Assusto-me com o rubro semblante.

Ainda assim, do crânio me aproximo,

Como a morte na beleza inebriante,

Sussurrou o morto, "tu és o próximo! "

Um Jardim no Inferno - Antologia PoéticaWhere stories live. Discover now