KALEIDOSCOPE • Jikook [abo]

[3] the archer and the prey

As botas de couro desgastadas do alfa estavam sobre a mesa do pequeno escritório daquele navio, o corpo dolorido das lutas da noite anterior estava despojado sobre a cadeira giratória e estofada de couro.

Em suas mãos um líquido da cor âmbar girava dentro do copo conforme Jungkook o mexia. O maxilar marcado estava travado, e seus olhos pretos estavam fixos no álcool enquanto sua mente voava longe.

Tudo estava tão confuso dentro em seu coração e isso não era natural, pelo menos não para ele que sempre soube exatamente tudo o que precisava fazer em sua vida. E mesmo que as coisas não fossem fáceis ele sempre conseguia contornar qualquer situação ao seu favor, sempre soube como controlar tudo.

Passara anos da sua vida remoendo o passado, e até então aquela era a única coisa que pôde lhe machucar. Mas mesmo sendo terrivelmente afetado por todas as dores do seu passado, sempre conseguiu ser um alfa racional, calmo e centrado.

A vida toda foi muito feliz por conseguir lidar tão bem com suas emoções, mesmo sendo um lúpus, e nem mesmo o cheiro marcante dos ômegas podia pegá-lo.

Já perdera tantos soldados seduzidos por ômegas amáveis que no final se mostravam cobras traiçoeiras, mas ele nunca foi um deles. Tantos outros já tentaram lhe seduzir com seus cheiros adocicados, mas com ele nada acontecia.

Jungkook sempre foi tão racional que nem mesmo sentia a necessidade de ter um ômega, sempre achou a paixão e o desejo uma grande perda de tempo, e em seus cios era o único momento que se permitia copular. E mesmo que o ato em si fosse sempre animalesco graças à violência natural do seu lúpus, ainda assim seu lobo nunca se sentiu plenamente satisfeito.

Seus amigos diziam que ele perdia muita coisa, mas o Líder do Clã Gold sempre achou os alfas extremamente tolos por se deixarem levar até a morte por ômegas. E não tinha absolutamente nada contra ômegas, os achava adoráveis, mas eles simplesmente não tinham nenhum efeito sobre si.

Desde que se conhecia por gente, Jungkook jurou matar todos os que destruíram sua família, e estava cumprindo muito bem aquele papel, fazia aquilo por si mesmo e por seu Clã que merecia justiça e uma vida de paz, sem o medo iminente de tudo de ruim se repetir.

O casamento de Adam Carpentier junto ao filho ômega de Park Hye era a ocasião perfeita para a sua vingança planejada há tantos anos. Foi a primeira brecha que aqueles Clãs haviam dado, e ele não perderia essa chance.

Jeon Jungkook era temido mesmo sendo jovem comparado a outros líderes do quatro Clãs Nobres. Era conhecido por suas batalhas, porque quando entrava em uma, dizimava os inimigos muito rapidamente, e era sempre muito rápido, impiedoso, prático e insuperável.

A maioria de suas estratégias de guerra vinham de Kim Namjoon, um de seus primos que tinha tanta raiva dos Parks e Carpentiers quanto o próprio Jungkook.

Namjoon era irmão mais velho de Taehyung, e ambos eram primos de Jungkook, primos não consanguíneos, apenas unidos pelas famílias que fundaram o Clã Gold.

Jungkook também tinha a ajuda imensurável de seu melhor soldado e amigo, Jung Hoseok. Este era, com toda a certeza, um dos melhores homens que o Líder do Clã tinha consigo, ninguém era mais leal e justo do que ele.

No casamento, tudo ocorrera perfeitamente bem, exatamente como o planejado. Estavam conseguindo matar todos, isto até o lúpus se deparar com aquele rosto e aqueles olhos da cor violeta de Park Jimin.

E no auge dos seus vinte e quatro anos o alfa lúpus Jeon Jungkook, Líder nobre do maior Clã de Abadya, perdeu o controle pela primeira vez em sua vida.

Não era algo que ele esperava que fosse acontecer algum dia, devido ao tamanho autocontrole que sempre teve. Mas olhar nos olhos daquele tom extraordinário foi como estar em queda livre e logo em seguida mergulhar em um mar de desespero, calor, necessidade e muita vontade.