Capítulo 8 - Ian

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Cheguei em casa por volta das dez, depois de jantar com a família de Allison. Eu me sentia um doido por ter ido até lá sem avisar, ou sem ser convidado, mas não sei explicar o que me deu, pra ser sincero. Mesmo tendo conhecido ela em uma situação caótica e o fato dela não ser imediatamente a pessoa mais calorosa do mundo, algo nela me deu uma sensação de que ela seria alguém fácil de eu gostar.

Quando eu era jovem, eu iniciei uma graduação em psicologia. Naquela época, eu não fazia questão alguma de seguir os passos do meu pai e assumir os negócios da família. Embora eu não tenha concluído a faculdade de psicologia, essa parte da minha formação foi bem útil na minha vida, de forma geral. Aprender a ler o comportamento das pessoas e compreender cada um deles. Como as pessoas pensam, quais atitudes elas poderiam ter comigo, como suas emoções podem afetar tudo e como elas poderiam ser um problema pra mim, ou a solução pro que eu precisava, além de visualizar os possíveis cenários que os levaram até ali. Cheguei a um ponto onde não consigo simplesmente desligar essa função no meu cérebro.

Não foi diferente com a Allison.

Desde o momento em que bati no carro dela, ela me pareceu ser uma mulher forte, um pouco cabeça dura e que não costumava aceitar a ideia de alguém comandando sua vida, tirando as coisas do seu próprio controle. Ela era extremamente desconfiada e arisca, eu não conseguia esquecer o jeito como ela me olhava a cada informação compartilhada, como se sua mente trabalhasse nas possibilidades de eu estar tentando me aproveitar de alguma situação, não muito diferente do que eu mesmo faço com quase todo mundo ao meu redor. Me surpreendeu quando ela deixou a filha sozinha comigo, no hospital, embora sua irmã tenha feito a parte intimidadora desse momento.

Eu não reclamaria, de qualquer jeito. Passar algum tempo com Olívia foi algo diferente do que estou acostumado a fazer. Tenho cinco irmãos, espalhados pelo mundo. O mais próximo de mim, mora no Canadá, então não tenho muito convívio com os meus sobrinhos, apesar de ser presente da melhor forma que eu consigo. Trabalho com um bando de engravatados, meu melhor amigo se casou e se divorciou antes mesmo de se tornar pai e a minha governanta, que considero como uma irmã mais velha, nunca teve filhos. Olívia foi uma interação muito diferente das que eu estava habituado.

Ela era uma menina espontânea e divertida por natureza, era fácil de lidar e extremamente sociável. Enquanto comíamos juntos, ela contou sobre o sábado em que nos conhecemos, após o acidente. Falou sobre o dia que tiveram juntas, no Central Park, e que conheceu pessoas muito legais quando nem mesmo estavam esperando.

— Minha mãe até me deixou convidá-los pro meu aniversário! – ela falou, empolgada enquanto comia seu pedaço da lasanha, reforçando o que eu já tinha notado sobre Allison e a sua dificuldade em permitir que outras pessoas entrem em sua vida.

Liv me parecia ser o oposto da mãe. Aliás, ela parecia ser exatamente o que Allison só mostrava a alguém depois que esse alguém tivesse se provado digno da sua confiança. Era bom conversar com ela, com toda a sua inocência. Parecia ter sido blindada de tudo de ruim que o mundo poderia oferecer. Decepções, dor, tristeza. Ela não parecia estar familiarizada com nada disso, mas ela só tinha oito anos. Não havia motivos para apresentá-la a realidade difícil da vida adulta. Ainda não.

Não pude evitar que meu pensamento viajasse até a minha própria filha. Como seria se estivéssemos juntos hoje? Se alguém não tivesse se encontrado no direito de roubar de mim o direito que eu tinha, de criá-la e protegê-la? Como ela deve se parecer? Será que parece comigo ou será que parece com Helena? Todo dia essas questões preenchiam o meu pensamento todos os dias e a dor no meu coração ainda era a mesma de oito anos atrás. Nunca passou pela minha cabeça a possibilidade dela estar morta. Acho que eu saberia. Lá no fundo, eu saberia se algo grave tivesse realmente acontecido.

Destinos Cruzados || Henry CavillWhere stories live. Discover now