Capítulo 32 - Ian

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Minha cabeça doía tanto que eu mal conseguia formar um pensamento coerente. Ainda que eu não estivesse sentindo essa dor, eu duvidava que eu fosse capaz de realizar tal feito. Mesmo que eu fechasse os olhos, as palavras finais daquele resultado ainda surgiam em minha mente.

Deus, por que isso era tão difícil?

Afrouxei o nó da minha gravata e abri os primeiros botões da minha camisa, desesperadamente buscando uma forma de tornar a minha respiração mais fácil, mas eu não conseguia. Sentia meu peito se comprimir e a passagem de ar se tornar cada vez mais difícil, como se algo esmagasse os meus pulmões.

Olhei mais uma vez para o monitor, buscando por aquelas palavras uma última vez.

"Os marcadores moleculares, em todos os locos analisados, evidenciaram que os alelos do suposto pai, Ian Thomas Dalgliesh, são coincidentes com os alelos paternos obrigatórios encontrados no(a) filho(a) Olívia Harriet Williams. Portanto, conclui-se, diante das evidências, que Ian Thomas Dalgliesh é o pai biológico de Olívia Harriet Williams, com pelo menos 99.99% de probabilidade."

— Oh, meu Deus... – falei voltando a chorar copiosamente, apoiando meu rosto nas palmas das minhas mãos. Eu mal podia acreditar que esse momento finalmente havia chegado e eu havia encontrado a minha filha e, por mais que essa notícia me trouxesse uma felicidade que há muito tempo eu não sentia, ela também trazia uma das piores dores que eu já experimentei.

Helena estava certa afinal, se Olívia é minha filha, é porque Allison a roubou de mim.

Um soluço alto escapou entre meus lábios quando me entreguei ao choro mais uma vez. Esse deveria ser o melhor dia da minha vida, mas eu só pensava em como a mulher que eu deixei tomar conta da minha vida, tinha mentido na minha cara e sem demonstrar o menor resquício de remorso por isso. Eu me sentia um idiota, um fraco e me sentia traído.

Como ela pôde fazer isso comigo? Como, apesar de tudo que viveu, ela conseguia me encarar sabendo que roubou de mim os primeiros dez anos da vida da minha filha?

Isso, claro, se ela não estivesse mentindo sobre tudo o que me contou. Minha mente continuava revivendo momentos de nós dois, juntos, desde o princípio. Tudo o que ela me contou, tudo o que dividiu comigo. Me doía pensar que nada daquilo era real, tudo um jogo sádico e malicioso pra me prender a ela, pra continuar jogando comigo. Como eu pude ser tão idiota em permitir que ela me manipulasse daquele jeito?

— Ian, seu grande idiota... – sussurrei pra mim mesmo, passando a mão em minha testa, acalmando o meu choro, mas ainda tentando respirar com mais facilidade, mas a situação só piorava.

Sentia meu corpo inteiro formigar, especialmente minhas mãos.

Foquei em minha respiração, me esforçando ao máximo pra não buscar a ajuda de Nora. Respirando fundo e da maneira mais calma que eu conseguia, aos poucos, voltei a ter domínio do meu próprio corpo, me libertando da sensação de peso em meus pulmões. Apesar disso, eu não conseguia me livrar de todo o resto.

A angústia, a tristeza, o sentimento de traição ainda estavam lá.

Estavam todos lá.

Quando me consegui me recuperar minimamente, deletei o email e qualquer evidência daquele exame. Apesar de ser algo um pouco extremo, eu não podia arriscar que ninguém lesse aquilo, não naquele momento.

Enquanto eu excluía o email, um novo sentimento ganhava espaço dentro de mim. Provavelmente o mais perigoso de todos eles, mas eu não estava me importando. Me agarrei a ele no instante em que ele surgiu em meu coração.

Ódio.

Era ódio que eu sentia sempre que eu pensava no quanto Allison tirou de mim.

Mas há muito tempo eu já tinha me feito uma promessa, muito antes dela surgir, muito antes de eu sonhar que um dia eu me apaixonaria pela mulher que tomou a minha filha de mim.

E eu pretendia cumpri-la.

Peguei o meu celular sobre a mesa e respirei fundo encarando-o em minha mão. Destravei a tela e busquei, entre os meus contatos, o único número que poderia me ajudar, naquele momento. Não pensei a respeito, não refleti e não conseguia raciocinar, eu simplesmente toquei no contato e esperei que a chamada se completasse, tentando ao máximo evitar que meu tom de voz entregasse todas as emoções que dominavam meu coração e a minha mente.

Cunhadinho? A que devo a honra dessa ligação? – ouvi a voz de Kate, animada como sempre, do outro lado da linha.

Não pude deixar de pensar que ela sabia de tudo.

— Oi, Kate! – respondi no mesmo tom animado que ela usara. O mesmo que eu usaria, se não soubesse que a irmã dela roubou a minha filha, nove anos atrás. – Está no hospital?

Estou! E em um plantão horrível, diga-se de passagem. – ela explicou com um suspiro – Devo sair daqui a pouco, pra buscar Liv. A Allison vai ficar até tarde na confeitaria.

— Entendi – falei com uma risada fraca – Kate, eu preciso de um favor seu...

Destinos Cruzados || Henry CavillDonde viven las historias. Descúbrelo ahora