N O V E M B R O - part 2

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L O U I S


– Trouxe um presente para você.

Harry levanta os olhos da balança, onde está pesando farinha na tigela maior.

– É?

Balanço o saco plástico branco que tenho na mão.

– Salgadinho de milho, chocolate, dois brownies.

– Você sabe como me conquistar.

– Eu sei como evitar que você se transforme em um mala nas noites de quarta.

Harry sorri e pega o saquinho. Abre uma bebida energética e fecha os olhos enquanto toma um gole direto da lata. Parece cansado. Quartas-feiras são os piores dias, porque ele tem aula no laboratório à tarde. Nos outros dias ele costuma dar um cochilo depois do turno da manhã, mas nas quartas assiste a todas as aulas depois de ter dormido só quatro horas à noite e ainda vai para o laboratório, em seguida para a biblioteca e depois para a padaria, para o turno da noite.

– O que você está misturando, o pão francês?

– É. Quer começar o de endro?

– Claro.

Confiro a prancheta pendurada ao lado da pia para ver de quantos pães Bob precisa. Harry vem logo atrás de mim, repousa a mão no armário onde a prancheta está pendurada e encosta a lata gelada no meu pescoço.

– Aaai! Não faz isso!

Ele dá uma risada e se afasta, mas não muito. Se eu me mexesse alguns centímetros... Se me encostasse nele... Se pressionasse o corpo todo contra o dele...

– O dia foi bom? – murmura ele.

Ai. O que ele está fazendo comigo? Eu nem acho que Harry precise conferir a prancheta. Já sabe tudo de cor. Ele está com a camisa de flanela xadrez desabotoada. As mangas estão dobradas, com os punhos soltos, e balançam quando ele mexe os braços. Penso em passar a mão no antebraço dele. Sentir os pelinhos macios, a pele acetinada. Penso em me virar para encará-lo. Mas só inspiro. Expiro. Mantenho a voz normal ao responder:

– É, foi tranquilo. Cruzei com o Niall no almoço, e Liam e eu acabamos sentando com ele e Zayn.

– É a segunda vez esta semana que você teve companhia para almoçar.

Reúno coragem suficiente para me virar e sorrir como se não esperasse nada dele, como se não precisasse de nada dele.

– Pois é. Vida social intensa, né?

Harry quase sorri. Eu me sinto como se fosse uma experiência que ele está fazendo. Como ele vai agir se eu fizer isto?

– Dormiu antes de vir para cá?

– Algumas horas. E dei um cochilo beeeeeeem longo depois da aula também. Aqui, tá vendo? – Viro o rosto para mostrar a marca da almofada na bochecha. – Eu estava tentando ler um texto de inglês, mas caí no sono no sofá e fiquei com o veludo cotelê da almofada marcado para sempre no rosto.

Ele se aproxima ainda mais para ver as marcas quase apagadas depois de tantas horas. Passa os dedos de leve pelo meu maxilar e vira meu rosto na direção dele. Seria assim que ele me beijaria. Exatamente assim, com uma bebida na mão e um meio sorriso casual, os dedos experientes direcionando meus lábios para onde ele quisesse. Inspiro. Não fique empolgado demais, Louis. Ele só está olhando porque você disse para ele olhar.

– Legal – diz ele. – Fiquei com inveja.

– Do meu cochilo?

– Da sua almofada.

ProfundoWhere stories live. Discover now