A B R I L

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L O U I S

Eu o tive por mais uma semana enquanto algumas questões jurídicas eram resolvidas. Sete dias. Harry tentou se afastar de mim, mas eu jamais deixaria isso acontecer. Dormi na cama dele. Eu o beijei, lambi, mordi e arranhei. Coloquei a língua em cada ponto do corpo dele que tive vontade. Ele era meu. Eu sabia que precisava devolvê-lo, mas não era obrigado a fazer isso ainda. Recusei-me a chorar sua perda antes de ele ir embora.

Eu o ajudei a fazer as malas. Ajudei a vender o carro para Niall. Levei-o para a cama. Fui com ele até a diretoria de assuntos estudantis e o obriguei a trancar formalmente a matrícula. Não por achar que ele pode voltar, mas porque é a maneira correta de ir embora. De forma planejada. Cuidadosa. De forma planejada, cuidadosa e lenta, coloquei a boca no pau dele e o chupei até ele parar de dizer meu nome e começar a corcovear no colchão, embolando os lençóis embaixo dos calcanhares, gozando com as mãos enroscadas nos meus cabelos, as pontas dos dedos suaves atrás das minhas orelhas. Eu o abracei. Eu o toquei.

Naquela última noite, acariciei suas costas e seus ombros, os quadris e a bunda, os braços, o pescoço, o rosto. Enquanto ele ainda era meu para amar, eu o amei. Então o deixei ir. No aeroporto, eu não sei o que dizer. Ficamos de mãos dadas no caminho entre o estacionamento e o balcão de check-in. No caminho entre o balcão de check-in e a fila de embarque. Até chegar, finalmente, o momento em que ele precisa ir e eu tenho que ficar e nós não podemos mais permanecer de mãos dadas.

Ele solta a mochila no chão e me puxa para um abraço. Não consigo pensar em nada significativo para lhe dizer. Com meu corpo, é fácil ficar perto dele. Esfregar os cílios molhados na camisa dele, sentir seus lábios no topo da minha cabeça, seus braços tão apertados ao meu redor. Não digo que gostaria que ele não tivesse que ir. Do outro lado do país, há uma menininha que precisa dele. Há um lugar onde ele se encaixa, uma outra vida, e não posso questionar o peso que isso tem para ele. Não tenho esse direito. Posso desejar que as coisas fossem diferentes. Já desejei isso mil vezes. Mas, como não são, não vou dizer que gostaria que ele ficasse.

– Ei – chama ele.

Olho para seu rosto. Ponho as mãos em seu pescoço, cubro suas orelhas, parcialmente tapadas pelo boné preto. Ele vai embarcar em um avião ao lado de uma mulher qualquer que acha que ele é um estudante universitário aleatório, ninguém importante. Ela não sabe que ele é tudo.

– Vou sentir saudade das suas orelhas – digo a ele.

– Vou sentir saudade desse espaço entre os seus dentes.

– Eu nunca te mostrei como consigo cuspir através dele.

– Tudo bem. Ocupamos nosso tempo com outras coisas.

Isso me faz sorrir, o que também o faz sorrir, e nós apenas nos encaramos. Observo como os olhos dele formam ruguinhas nos cantos, como as marcas de expressão se acentuam ao redor dos lábios, como seus dentes são bonitos. O nariz ligeiramente torto. O sorriso vai embora e deixa sua boca muito séria, tão séria como os olhos.

Brinco com as orelhas dele. Belisco os lóbulos.

– Não sei como fazer isso – digo.

– Não tem um jeito certo. A gente simplesmente faz.

Seguro a aba do boné, giro em sua cabeça e fico na ponta dos pés para lhe dar um beijo de despedida. Estou dando um beijo de despedida em Harry. Ele me segura pela nuca. A língua entra na minha boca e o beijo fica profundo, e mais profundo, até que chegamos ao ponto onde não há limites entre nós. O ponto onde eu lhe dou um pedaço do meu coração, da minha alma, um estandarte com franjas macias que se agitam ao vento, declarando-o meu para sempre.

ProfundoWhere stories live. Discover now