PARTE 4: PRECES AO BUDA DE FERRO

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I. CARNE QUEIMADA, SOLDO MIÚDO

Segura um vaso decorado com madressilva. Abre-o e atira tanto o minúsculo pênis como a carta ao fogo, era impossível ler o conteúdo, a umidade torna a tinta um borrão irreconhecível. O cheiro de pele torrada empesteia o cômodo. O homem não demonstra contentamento ou quaisquer emoção latente, age automaticamente, como se aquilo fosse parte de sua rotina.

Reuben era pobre, a casa tem o mesmo cheiro do cortiço vizinho e os agiotas o perseguiriam na semana seguinte cobrando as dívidas do pai morto há cinco anos.

Sentou na cadeira de balanço e escorou a cabeça no fio trançado da mesma tentando relaxar os músculos retesados do pescoço. De que adiantava oferecer serviço diferenciado se os abastados de Londres eram péssimos pagadores? A família de Falmouth quitou no ato, mas ainda era pouco.

Suspira. Lembra dos olhos verdes, rasgados e grandes de Hélène. A mulher era famosa em Londres, um símbolo do meretrício decadente, estava a passar dos trinta e não teria como se manter no topo nessa idade. Haviam até mesmo apostas sobre como viria a sustentar o fausto, rasgavam-se para vê-la novamente como começou: nas ruas de Londres ou nos prostíbulos, onde sairia bem mais barata e menos arrogante. Ele descobriu que se fosse apostar no sucesso de alguém sem dúvida seria no dela.

Reubein não achava que naquela manhã esteve diante de uma condenada, muito pelo contrário. Meteu-se a investigar um atentado, mas não passava de um falido que saiu encantado por uma messalina.

Sai para arejar as ideias e pega-se rindo sozinho ao comer o porco frito com pimenta vendido em um minúsculo bar espremido entre a rua principal e o cortiço de St.Gilles. Também abriu-se em risos ao sentir o cheiro do lixo de Marie d'Anjou, o orfanato. Ele precisou revirar o lixo do palacete para encontrar a prova do envolvimento de Hélène no crime contra o Visconde. Não havia melhor local para recolher registro.

Pegou-se a imaginar que no futuro até mesmo a merda se tornaria documento juridicamente aceito.

No dia seguinte entregou um falso relatório a família de Falmouth. O fez por pura querência. O afetado estava vivo, só quedara sem o membro. Por que desgraçar uma mulher por um nobre que não valia uma libra dividida por dez?

Voltou para a pequena casa onde o traje vermelho emprestado jazia pendurado e limpo. Vendê-lo quitaria as dívidas e ainda daria para comprar um presente para a sobrinha, mas o devolveria mais tarde.

Cerrou as pestanas deitando a cabeça sobre os braços cruzados e sentindo uma paz imensurável. Acobertar Hélène era a coisa certa, convenceu-se de que não o fazia pelo belo par de olhos glaucos, os maus modos ou a língua afiada.

Reuben dormiu sob o som da locomotiva que anunciava a passagem e não esperava ninguém.

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ARSÊNICO (em andamento, repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora