Capítulo 1

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Vamos começar então girls ❤💕

Erika

Nova Orleans, a terra do Jazz. Meu último ponto nos Estados Unidos. Depois disso, adeus América do Norte.

Eu respiro bem fundo, ouvindo, sentindo, pensando. Quando você vive em constante perigo e precaução, todo cuidado é pouco. Eu por exemplo, de trinta em trinta dias preciso me mudar, tomar um novo rumo e uma nova identidade. Desta vez sou Gabriela Muniz, uma mexicana que está em busca de novas oportunidades de emprego. Durante um mês serei uma mulher que de dia trabalha, e a noite vira uma acompanhante de luxo. Fodido, eu sei. É necessário para eu permanecer viva.

Fujo desde os meus quinze anos. Levei cinco tiros ao completar essa idade, e por pouco não morri. Perdi minha mãe e pai naquele mesmo dia, perdi meus avós e tudo que eu amava. Graças a uma tia eu ainda estou viva, e ela também foi assassinada.

Tenho vinte seis anos, uma vida marcada pelo medo, pela fuga e pela dor.

Tive muitos motivos para desistir, e contudo não fiz. Seria fácil demais para eles. Ele precisa da minha morte para ter o que necessita.

O novo celular da Apple toca sobre o estofado da poltrona. Eu o pego, o número privado brilhando na tela.

— Código 777.

— Localização?

— Hotel The Ritz-Carlton. — mordo o lábio contendo a risada.

— Se você rir eu corto sua língua, vadia de merda.

Coloco a mão sobre minha boca, o som da risada escapando pelos dedos.

— São cinco anos Natasha, e sabemos que essa coisa toda não é necessária.

— Quer saber? Não falo mais com você, eu sou uma espiã! Uma hacker conceituada! Me liga depois do código 67B.

— Você acabou de dizer que não ia mais falar comigo. — Eu digo.

Ela desfere vários palavrões em francês e desliga. Balanço a cabeça e sorrio. Eu levanto olhando ao redor, a mulher vestida de branco acena para mim. Ao sair da recepção do hotel, vejo uma lata de lixo e é ali que jogo o celular.

— Meu nome é Rhayssa. — A voz da mulher vibra em todo meu corpo, a sensação de não confiar crescendo. Se ela está aqui, é por que Natasha confia nela. Mas eu não. — 67B vai ser iniciado agora.

Seguimos em direção a um SUV prata. Entramos e coloco o cinto. 67B é o código para minha nova identidade. Já recebi passaporte e identidade. Agora é o visual.

Nossa primeira parada é em um salão de beleza. Meus cabelos loiros até poucos minutos atrás, agora estão pretos, a cor original. Meu reflexo no espelho mostra uma garotinha que vivia feliz, desfaço essa ilusão. Tive que tirar as lentes castanhas, meus olhos agora são azuis. Fiz depilação, sobrancelhas, unhas e uma massagem que agradeci verdadeiramente.

O próximo passo foram as roupas. Rhayssa cuidou das roupas de luxo, eu odiava aquilo. Em uma loja de departamento consegui roupas simples para Gabriela, me adaptar com novos nomes tornou-se algo fácil. As vezes eu até esquecia meu verdadeiro nome, Erika Ramadani.

Comprei o necessário, seria apenas um mês, talvez menos que isso. As vezes ele me encontrava antes que isso. Era nesse momento em que eu fugia e deixava tudo.

Não faço amizades,não crio laços. Estou só. Natasha não é minha amiga, eu trabalho para ela, e em troca ganho proteção. Se eu falho, ela me mata. É assim com todas as outras garotas

— Tudo será deixado em sua nova residência. — Rhayssa fala, a expressão não demonstrando nada. — Passará essa noite no hotel, até Natasha lhe dar novas instruções.

Estamos em frente ao hotel. Nunca mais verei Rhayssa outra vez. Desci do carro e segui direto para a recepção, havia muitas pessoas e foi fácil passar despercebida. Entrei no elevador, aperto o botão do vigésimo andar e subi. No quarto só tirei o tênis antes de cair na cama. A viagem de Toronto até aqui foi longa. Fecho os olhos logo pegando no sono.

Um ruído baixo, seguido de uma risada me fez acordar. Sentei rapidamente na cama, meus olhos se acostumando na escuridão. A enorme televisão exibia a imagem clara e nítida de Natasha. A pele negra do rosto coberta de uma gosma verde, o cabelo baixinho e crespo com algo que eu nem imaginava saber o que seria.

— Falta duas horas antes do sol aparecer. Um carro levará você até sua nova casa, lá haverá um envelope com tudo o que você precisa saber sobre seu novo emprego. E também o cliente de hoje. Sem falhas, ou você morre.

A tela apaga, deixando o quarto escuro outra vez. Me jogo na cama, um grunhido alto saltando da minha boca. Nunca vi Natasha pessoalmente, e posso jurar que nenhuma outra já tenha visto ela. Só fico atrás da tela, ações são com vocês, ela dissera quando a questionei sobre isso.

O sono se foi. Eu levanto e tomo um banho. As seis e meia da manhã eu encontro o carro parado do lado de fora. Não vejo o motorista, outra coisa que estou acostumada.

O carro para, eu abro a porta e saio. Uma casinha branca com detalhes amarelos no subúrbio de Nova Orleans. O pequeno jardim repleto de rosas está bem cuidado, caminho pela pequena trilha de cascalho e me agacho. Debaixo do tapete está a chave, abro a porta e entro, trancando.

Olho a sala, dois sofás brancos com mantas coloridas, uma televisão antiga com várias decorações mexicanas. Na cozinha somente um fogão, três armários de maderia e geladeira. Tudo novo e simples. Vou para o quarto, ali encontro dois guarda roupas e uma cama de solteiro. As paredes brancas e cortinas rosas deixa tudo muito alegre. O piso de madeira brilha, encerado há poucas horas, o cheiro é forte. Sento na cama e pego o envelope grosso.  Dou uma rápida olhada nos papéis sobre o trabalho, a palavra babá destacada. Não tenho muita experiência com crianças, mas não custa tentar.

O cliente da noite é um idoso, e pela ficha não fez nada de criminoso, tranquilo. Deve ser algum velho rico e solitário.

Minha barriga ronca alto. Preparo dois omeletes grandes e uma sopa de carne. Todos os armários e a geladeira estão cheios.

Agora será uma nova vida. Até quando for possível.

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Lukas - Trilogia Sombras da Noite #2✔Onde histórias criam vida. Descubra agora