Capítulo 3

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Sem Revisão*

Erika

O táxi para em frente à uma cafeteria. Eu pago o simpático motorista e saio, com a pequena bolsa surrada a tira colo. Garden District é um bairro charmoso em Nova Orleans, as ruas sombreadas por carvalhos são ocupadas por uma mistura diversificada de moradias, de casas térreas a grandes mansões históricas e jardins exuberantes na St. Charles Avenue, na rota da parada do Mardi Gras. Durante alguns minutos em que entramos no bairro, foi possível ver butiques, lojas de antiguidades que se misturam com restaurantes finos, cafés casuais e bares locais na Magazine Street e arredores.

 E era há poucos metros dali que Lukas Devonshire e seu filho Victor estão morando. A ficha sobre o novo "patrão" era extensa. A regra era clara, não me envolver, sem criar laços. O cara era conhecido por ser um total canalha ao se tratar de mulheres. Natasha alertou-me sobre não cruzar o caminho dele, só mesmo se fosse realmente necessário. Não quero problemas, quanto mais rápido esses trinta dias passar, melhor para mim.

Eu pesquisei sobre os Devonshire's, apesar de no envelope não fazer abordagem sobre os demais membros da família. São quatro irmãos, os três homens envolvidos no crime e a garota está casada com uma mulher. Um irmão está morto, declarado oficialmente há poucos meses. História complicada. Havia Ansel, casado com uma negra linda chamada Danielle. Daryl está sumido pelo mundo, não se tem notícias dele há tempos. E Lukas, o homem que está ficando louco à procura de um homem. Soube por partes que a mãe de Victor foi importante na vida do Devonshire mais novo, e agora a sede de vingança dele era grande.

Esperei debaixo do frondoso carvalho por vinte minutos, e faltando cinco para o horário combinado. Caminhei pela rua até  parar perto do portão de entrada da mansão de dois andares. Toda branca com detalhes azuis era possível entender o fascínio e preços exorbitantes cobrados na compra de cada residência. Empurro o portão e ele range baixo. A pequena trilha de cascalho leva-me até a porta, onde bato duas vezes e espero. Ouço ruídos do lado de dentro, começo a ficar ansiosa, testo o sotaque mexicano e falho miseravelmente quando o som de passos pesados ficam mais altos.

Em todos os papéis que Natasha me deu, desde à uma simples camareira à uma falsa advogada, o de babá com certeza supera. É o filho de um criminoso que não se importa de ter sangue nas mãos.

— Você consegue, Erika.

Dou um passo para trás quando a porta é aberta, revelando o próprio Lukas. Vi suas fotos na Internet, e nada se compara ao que está a poucos passos de mim, olhando-me firme e impassível. Os olhos azuis chamam a atenção, a barba bem cuidada, cabelos negros como petróleo penteados para trás. O corpo grande e musculoso agarrado por uma camisa branca e calça jeans. Uma beleza devastadora.

— Você deve ser a senhorita Muniz.

— Sim senhor. Gabriela Muniz, estou aqui pela agência de babás, para prestar serviços ao seu filho.

Ele me mede de cima a baixo, antes de permitir minha entrada. A enorme sala em tons cinza é luxuosa. Móveis bem trabalhados em madeira escura, um estilo antigo, mas com toda a modernidade em pequenos detalhes. Lukas indica o sofá e eu sento, colocando a bolsa em meu colo. Gabriela é uma personagem tímida, tento por isso em prática, torna-se bem fácil, pois esse homem exala medo. Fixo meu olhar em um ponto aleatório sobre ombro dele, a sapatilha preta batendo em um ritmo rápido no tapete.

— Existe algo que eu deva saber sobre você? Filhos, marido, algo similar?

Solto um suspiro baixo e sorrio.

— Não senhor.

— Seu trabalho será das seis da manhã às onze da noite, como o prescrito no contrato. Esta assinado? — ele pergunta. Sentando em um poltrona escura Lukas não demonstra muito em suas feições.

Aceno duas vezes e puxo o zíper da bolsa, tirando os três papéis dobrados. Inclino meu corpo e estendo os papéis. Lukas pega e os rasga em pedaços. Eu levanta e se ajoelha aos meus pés, sua vai até minha coxa e ali ele pressiona forte. Ofeguei baixo.

— Esqueça qualquer coisa dessa merda de contrato. — diz, a voz vibrando por todo meu corpo. — Sou um criminoso senhorita Muniz, e direi algo para você. Não se meta em qualquer assunto, não faça perguntas que não lhe dizem respeito. Se você ver alguém morto, se finja de cega, ouviu algo, finja surdez. E o principal, não abra a boca para ninguém. — ele aperta minha coxa com mais força, por baixo do tecido jeans sei que ficará a marca. — Entendeu?

Meneio a cabeça. Lágrimas pinicam em meus olhos.

— Palavras, Gabriela.

— Sim senhor.

Lukas ainda olha-me com uma impiedosa expressão de raiva. Ele se levanta, não abalado por nada.

— Trarei Victor para você conhecê-lo.

Quando ele desaparece da sala eu solto um suspiro. Será mais difícil do que o esperado.  Levanto, dou uma olhada ao redor e tiro a pequena e imperceptível escuta digital do meio dos meus seios. Coloco-a pregada por baixo da mesinha de centro e volto a me sentar. Não sei o porquê de Natasha pedir isso, mas só sigo ordens.

A risada de bebê ecoa por toda a sala. Eu me viro e vejo pai e filho, a semelhança é assustadoramente perfeita. Eu levanto deixando a bolsa de lado. O pequeno está vestido em um macacão pretos com estampas de caveiras.

— Victor é um bebê calmo, não terá muitos problemas. A irritação dele só vem quando a fralda está cheia ou quando está com fome. Converse com ele ou ponha alguma música infantil educativa. De preferência não o deixei sozinho em momento algum. Victor começou a ficar sentando sozinho...

Ele disse tudo isso com o olhar perdido em seu bebê, que parece alheio a tudo, com sua pequena mão babada dentro da boca.

— Tudo bem, senhor. Darei conta do recado.

— Está sendo paga para isso. — fala rude. Por dentro eu penso em revirar os olhos. — Preciso sair, voltarei as onzes, e caso eu passe do horário permaneça na casa até minha volta.

Ele então beija o bebê e vem até mim. Sua presença é gritante, assim como o cheiro do perfume caro que usa. Ele se inclinou para deixar Victor em meus braços, eu peguei o pequeno e sorri. Levantei meu olhar. Lukas olhava-me fixamente, tão perto que senti a respiração dele no meu rosto. Ele inspirou e se afastou atordoado.

— Seu perfume... — disse de forma baixa.

— Algum problema senhor?

Saindo de um transe ele balança a cabeça. Deu-me as costas e saiu. Senti um puxão em meu cabelo e sorri.

— Ei garoto! Terei que usar meu cabelo amarrado pelo próximo mês.

Uma das minhas principais regras, independente do trabalho, era não se apegar. E durante todo o resto do dia com Victor eu sabia que seria impossível não me render a esse pequeno garotinho.

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Lukas - Trilogia Sombras da Noite #2✔Onde histórias criam vida. Descubra agora