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  O chalé de Hecate me pareceu intimidador antes de entrar. As paredes formadas por pedras branquíssimas repletas de runas, que só não refletiam o sol porque já estava anoitecendo, contrasta bem com as tochas de fogo penduradas na parede. Jimin me disse que precisaria pegar algo em seu chalé e falar com alguém, mas às seis me chamaria para jantarmos. Deixei Camila do lado de fora, pois não tenho ideia se meus, hm, irmãos, irão querer a planta ali (pensar na ideia de não ser mais filho único é meio assustador, mas estou tentando digerir tudo). A parte de dentro do chalé vinte é bonita e parecia ser bem funcional, havia apenas uma garota ali, porém, havia duas camas dispostas e ambas pareciam pertencer a alguém. A menina notou a minha presença e sorriu fraco antes de se levantar do sofá branco.
    — Você deve ser o Jungkook. — estendeu a mão. — Meu nome é Myoi Mina, sou conselheira do chalé.
   — Oi, sou eu. — sorri meio envergonhado e apertei sua mão. — Fico feliz em te conhecer.
   — Igualmente. — seu modo de falar é calmo e doce, bem acolhedor. — Vem, vou te mostrar a sua cama.
   Mina foi até o espaço entre as camas, deu duas batidinhas na parede, e de lá, puxou uma cama igual as outras. Não fiquei espantado de tal coisa acontecer, neste ponto do dia, estava começando a achar tudo aquilo normal. 
   — Se quiser, pode trocar a cor dos lençois depois. — foi até uma porta perto de onde ficam as camas. — Aqui é o closet, vou te reservar um espaço. Pode ir ajeitando suas coisas enquanto pego a escrivaninha.
      Entrou no local e acendeu uma luz, revelando um espaço na medida para reservar roupas para duas pessoas. Mina fez praticamente a mesma ação anterior, porém, revelando uma arara e duas prateleiras. Magicamente, o closet pareceu ficar maior, comportando agora espaço o suficiente para os pertences de três pessoas. Coloquei minha mochila em uma das prateleiras, depois arrumaria minhas coisas com calma. 
    — Mina? — a chamei quando sai do closet e a encontrei encostada no que, provavelmente, seria a escrivaninha designada a mim.
    — Sim? — continuava com o sorriso amigável no rosto.
    — Aqui tem espaço pra uma pitangueira? — perguntei, a fazendo ficar um pouco confusa.
    — Acho que sim, mas não é muito iluminado aqui dentro. Mas o acampamento tem uma estufa, se quiser, posso falar com um dos filhos de Deméter para encontrarmos um bom lugar para a sua... Pitangueira. — ela aparentemente achava levemente engraçada a ideia de eu possuir uma pitangueira. — Ah, ali é o banheiro. — apontou para uma outra porta. — É um por vez, tente não demorar demais pela manhã.
     — Certo, obrigado. — sorri fraco. 
      Alguns segundos depois, Jimin chegou para irmos jantar. Ele estava acompanhado de um garoto alto, que parece ser um ou dois anos mais velho. Os olhos do garoto são cinzas, nunca havia visto um coreano com aquela cor de íris natural, assim como a coloração de seu cabelo, loiro. 
     — Esse é Kim Namjoon, conselheiro do chalé de Atena. — nos apresentou. — Nam, esse é o Jungkook.
    — Oi. — ele sorriu. — Você realmente é igualzinho a descrição que Jimin fez.
    — Namjoon! — Park arregalou os olhos.
    — Descrição? — franzi a testa, um pouco curioso.
    — É, um coelhinho fofo. — riu, fazendo Jimin bater na própria testa.
    — Eu não falei dessa forma. — cruzou os braços. 
    — Usou essas exatas palavras. 
    — Tanto faz, vamos comer. — revirou os olhos e começou a andar, puxando a mim e Namjoon pelo punho.
     O pavilhão do refeitório é um espaço enorme ao ar livre, com várias mesas retangulares de mármore espalhadas, cada uma representando um chalé. Além delas, havia uma mesa redonda, de mesmo material, ao canto do local, grande, sem nenhuma designação especifica. Uma grande fogueira se localiza no centro, ofuscando um pouco a elegância do mármore. 
    — Preciso sentar à mesa de Hecate? — perguntei para Jimin.
    — Não necessariamente, nesta época do ano tem menos campistas, nos é permitido sentar em outra mesa se estivermos sozinhos. — olhou ao redor. — Mas a Tzuyu já está lá, provavelmente Mina chega daqui a pouco. É melhor que coma lá. — aconselhou. — Antes de começar a comer, jogue a melhor parte na fogueira, como uma oferenda aos deuses, faça uma para a sua mãe. Sobre a bebida, olhe para o copo e fale qualquer bebida não alcoólica, ela aparecerá lá. — orientou.
    — Certo. — afirmei com a cabeça e fui em direção da mesa vinte.
    Já estava lá sentada uma garota de cabelos longos e escuros, ela encarava a mesa até perceber que eu havia chegado.
    — Ah, oi. — levantou a cabeça. — Me disseram que Jungkook, o campista filho de Hecate chegou hoje. Deve ser você.
    — Sim. — me sentei à mesa e fiquei levemente impressionado com a rapidez das notícias pelo acampamento.
    — Nem me apresentei. — arregalou os olhos. — Sou Chou Tzuyu.
    Ficamos em silêncio por um tempo. A morena parecia querer conversar comigo, mas não saber muito sobre o quê. Pouco depois, Mina chegou, nos cumprimentou e sentou ao lado de Tzuyu.
     — Você tem quantos anos? — a conselheira perguntou.
     — Dezesseis, na verdade, hoje é meu aniversário. — ri fraco.
     — Parabéns! — as duas disseram ao mesmo tempo.
     — Obrigado. — agradeci um pouco envergonhado.
        Depois disso, diversas ninfas chegaram com pratos cheios de comidas gostosas. Durante a viagem de volta para o acampamento, Jimin me contou sobre as Ninfas, então não me surpreendi muito ao vê-las nos servindo, mas mesmo assim, ainda parecia uma cena de filme. Coloquei em meu prato algumas frutas, carne e queijo, então me levantei junto às meninas e joguei parte da comida no fogo e a ofereci em voz alta para Hecate. Quando voltamos, me "servi" de suco de uva e comecei a comer em silêncio. Observei ao meu redor, alguns sátiros (sim, há sátiros no acampamento também, Jimin disse que são eles quem trazem muitos dos semideuses em segurança para cá) estavam na mesa redonda, junto de Calipso e de um rapaz ocidental, acho que é o "Leo" citado mais cedo por Park. Falando nele, o mesmo estava na mesa de Afrodite, conversando com um outro garoto o qual não pude ver o rosto pois estava de costas para mim. Pensei na forma como a qual o mais velho falou de mim para Namjoon e não pude deixar de ficar envergonhado, ninguém nunca havia me chamado de fofo, ou coelhinho.
      Desviei o olhar para a mesa de Apolo, onde um garoto comia sozinho, mas sua concentração não estava no prato abarrotado de frutas e sim na mesa de Hades, em que o observado também estava sozinho e parecia estar completamente alheio ao olhar do filho de Apolo. Me questionei do porquê de eles não estarem comendo juntos, já que ambos estavam sozinhos e Jimin disse que era permitido, porém não pensei demais, talvez eles tivessem um passado ou alguma questão mal resolvida. 
     Ao acabarmos de comer, Harpias coletaram os pratos enquanto praticamente nos expulsavam do pavilhão. De primeira tomei um susto com as mesmas, o que resultou em Tzuyu e Mina rindo baixinho, porém sem maldade, eu também riria se fosse elas. Jimin veio ao nosso encontro e cumprimentou as meninas antes de me puxar para longe.
   — Jungkook, preciso te apresentar meus outros amigos. — sorriu largo e me levou até um grupo com mais ou menos três pessoas reunidas, entre elas, Namjoon e o garoto da mesa sete,  o mesmo estava com um violão nas costas. — Onde estão Yoongi e Taehyung?
   — Yoongi foi direto pro chalé, disse que estava cansado. Tae ainda está no bunker, levou um monte de salgadinho pra lá assim que acordou e não saiu uma vez. — o filho de Apolo deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos.
   — Esse garoto precisa comer direito. — Namjoon balançou a cabeça negativamente.
   — Enfim, Jungkook, estes são Jung Hoseok, filho de Apolo, e Kim Seokjin, filho de Deméter, além do Namjoon, é claro. — os três me cumprimentaram e eu fiz o mesmo.
— Jimin disse sobre a sua pitangueira. — Seokjin se pronunciou pela primeira vez. — Temos uma estufa aqui, pode ser mais fácil de cuidar dela lá. — ele falava pausadamente e com um sorriso doce nos lábios, com toda a certeza é muito bonito, e acho que Namjoon também pensa isso, porque não consegue tirar os olhos do filho de Deméter. — Amanhã passo no seu chalé para vermos isso direito. 
  — Ok, agradeço. — gostei da forma como Seokjin fala, é agradável, como um irmão mais velho que nunca tive. (ou talvez tenha e não conheça.)
  — Vamos, gente, as cantigas na fogueira já vão começar. — Hoseok anunciou enquanto começava a andar, indicando que deveríamos o seguir.
  — Só você gosta disso. — o filho de Deméter disse em tom reclamatório.
  — Se quiser não precisamos ir, o que seria uma pena, porque eu acabei de tirar 8282 do Davichi no violão, achei que iria querer cantar comigo. 
  — Por que não disse antes? — se animou. — Vamos agora! — correu atrás de Hoseok.
   Fomos até um anfiteatro, aonde uma grande fogueira estava acesa e alguns dos poucos campistas se acomodavam ao redor dela. O filho de Apolo dedilhou um pouco o violão assim que nos sentamos e se preparou para começar a canção. Ele e Seokjin cantavam animadamente 8282 quando Jimin me cutucou e sorriu.
   — Você não estava usando esse anel antes. — apontou para minha mão.
   — Sim... — o retirei e entreguei ao mais velho. — Tinha esquecido de usar essa manhã.
   — É bonito. — o analisou e colocou novamente em meu dedo com delicadeza.
   — Essa pedrinha era roxa, agora está branca. — revelei. — Achei estranho, mas hoje aconteceram muitas coisas estranhas.
   — Você se acostuma. — deu de ombros. 
     Fixei os olhos em Hoseok por um tempo, o garoto parecia feliz, seus olhos recebem duas ruguinhas nos cantos quando ele sorri. A pele beijada pelo sol, fazendo jus ao seu pai olimpiano, e o cabelo bagunçado lhe dão ar despojado, meio de surfista. Ao seu lado, o outro Seok ri também, e faz o filho de Apolo parecer pequeno perto dele. Olhei Seokjin com um pouco mais de atenção até perceber que ele tem um pouco de grama colada em seu braço, e a camiseta está suja de terra, mas isso não tira a sua beleza. Vi que Namjoon estava fazendo o mesmo que eu, mas com um sorriso bobo nos lábios e um brilho nos olhos cinzentos, o qual ficava muito mais forte ao refletir as chamas da lareira.
   Ao fim da cantoria, me despedi dos meninos e entrei no chalé vinte, me surpreendendo com Mina e Tzuyu segurando, em um guardanapo, um pedaço grande de queijo com uma vela acesa por cima. Assim que elas me viram começaram a cantar parabéns.
   — Desculpe, foi o que deu para improvisar. — Mina explicou. — Mas apague a vela e faça um pedido, com cuidado!
   — Obrigado. — sorri largo, tocado pela ação delas, e soprei as velas, mas dessa vez, não soube o que pedir.
  — Sabemos como o primeiro dia é difícil. — disse Tzuyu retirando a vela de cima do queijo e me entregando o mesmo. 
   — Ainda não digeri direito, parece cena de filme. — confessei.
   — Comigo também foi assim. — Myoi riu. 
   — Por que me disse para ter cuidado com meu pedido? — questionei antes de comer o queijo.
   — Nossa mãe, bem, ela é muito benevolente em alguns momentos, principalmente em aniversários, então é bom ter cuidado com o que deseja, porque pode ser atendido.
   — Ah... — encarei o chão, me lembrando do pedido feito mais cedo, no final, algo legal realmente aconteceu.
   — A partir das dez não podemos sair dos chalés. — a conselheira explicou. — Não precisa dormir, apenas não saia, ou as harpias vão te bicar. — riu, mas soube que aquilo era sério.
   — Entendi. — respirei fundo, absorvendo a informação. — Obrigado, meninas, de verdade.
   — Não foi nada. — Chou deu de ombros. — Somos suas irmãs, acho que precisamos ter uma boa relação. 
    Acabamos conversando mais um pouco depois daquilo, elas realmente são legais, o que é bom, tive um pouco de medo delas não gostarem de mim ou algo do tipo. Mina disse que segunda feira eu teria meu horário de atividades em mãos, e instruiu que seguimos uma rotina nos dias uteis, mas aos fins de semana temos o dia inteiro livre. Ambas me contaram algumas outras coisas sobre o acampamento, para que eu não ficasse tão perdido, até que Tzuyu anunciou que estava com sono e foi se preparar para dormir, a conselheira disse que ficaria mais um tempo acordada e pegou um livro para ler.
   Só nesse momento senti meu corpo pesar, havia sido um dia e tanto. Depois que Chou saiu do banheiro, entrei no mesmo e tomei um banho, tentando não demorar muito, quando a água morna começou a sair do chuveiro, percebi o quão tensos meus ombros estavam. Voltei para a área comum do chalé, dei boa noite para Mina, já que Tzuyu estava capotada em sua cama, e me deitei. Essa foi a primeira vez que não tive dificuldade para dormir em meses. 
    
🌕
    
Oi pessoal :) Espero que tenham gostado, só quero deixar mais um adendo: diversas coisas podem ser canon aqui na fic mas não no riordanverse ok? Então o acampamento não é igual ao dos livros, até porque é uma "outra unidade"
tt: organicmyg

O Filho do MistérioWhere stories live. Discover now