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   Acabaram-se de completar seis dias desde que cheguei ao acampamento meio sangue e realmente, tudo parece um grande filme de fantasia. Ao amanhecer, o chalé é inspecionado pelas harpias, felizmente não temos problemas com bagunça, e logo depois vamos tomar café do manhã, que ao longo dos dias uteis é composto além do habitual de pães, queijos e frutas, comidas mais tradicionais coreanas.
    Assim que acabei de comer, me reuni com Namjoon, porque o mesmo estava encarregado de me dar aulas de grego antigo e história grega. Devo admitir, as aulas com o Kim são bem legais, ele explica bem e não parece me achar burro — diferentemente dos meus professores do colégio, já ouvi muitos sussurros nada legais vindos deles. — E logo depois fui para o treino de esgrima com Yoongi, ele é surpreendentemente bom, mas me disse que também sou e ficou feliz por eu estar aprendendo rápido, além de que eu poderia ver alguns armamentos de verdade em breve, essa ideia me animou. Pela primeira vez que falei com Min, pensei que ele não havesse gostado de mim ou algo assim, porém o mesmo se mostrou bem amigável ao passar dos dias, acho que esse é o jeito dele.
    — Como aprendeu isso? Você disse que eu sou bom, mas a coisa em si é difícil. — perguntei ao me sentar no chão quando o treino acabou.
    — Eu já praticava esgrima antes de vir pra cá, era minha atividade extra quando ia ao colégio. — sentou-se ao meu lado. — Também tive umas dicas do meu irmão mais velho. — ele pareceu hesitar ao falar do irmão. 
    — Ele também é filho de Hades? 
    —  Sim, somos apenas nós dois. Mas acho que nosso pai o prefere. — respirou fundo, com um pouco de ironia na voz. — Ele está na Europa com o namorado.
    — Legal. Deve ser romântico. — encarei o chão, sem saber muito o que falar. — Por que parou de ir ao colégio? Já que sabe se defender bem lá fora.
    — Fui expulso. — deu de ombros e levantou-se. — Você pergunta demais. — riu fraco e começou a andar em direção a saída. 
      Assim que vi Yoongi ir embora, corri para tomar um banho e encontrar com Seokjin para conferirmos Camila na estufa. Quando sai do chalé vinte e fui em direção ao de Deméter, pude ver Jin conversando com Namjoon, o primeiro parecia um pouco nervoso com a fala do filho de Atena, mas logo mudou a expressão ao me avistar chegar. Me aproximei um pouco acanhado, com medo de estar interrompendo.
     — Chegou na hora certa, Jeykey. — Jin sorriu largo. — Falamos sobre isso mais tarde, Nam. 
    Só tive tempo de acenar para Namjoon enquanto o filho de Deméter me arrastava em direção a estufa. Assim que chegamos, pude perceber o quão saudável Camila estava, provavelmente o ar da cidade não fazia muito bem a ela. 
    — Você cuidou bem dela. — Seokjin afirmou. — Só usei alguns adubos especiais pra desintoxicar do ar de Seoul. — torceu o nariz, confirmando meu pensamento anterior.
    — As folhas estão bonitas e os frutos quase maduros. — encarei a pitangueira. — É bonito o jeito como cuida das plantas. 
    — Obrigado. A natureza é o reflexo do planeta, acho que posso falar assim, se as condições estão boas para que as plantas vivam, então as condições estão boas para nós. Se não, é necessário ter paciência e tentar fazer com que as coisas melhorem. — olhou em volta da estufa.
    — Isso é legal... — desviei o olhar para o mais velho. — Está tudo bem entre você e o Namjoon? Desculpe atrapalhar a conversa que estavam tendo. 
    — Está sim, fique tranquilo. — limpou um pouco da terra colada no braço. — Aquela conversa precisa mesmo ser deixada para depois.
     Saímos da estufa e fomos até o pavilhão do refeitório almoçar. Sentei-me junto às meninas e oferendas feitas, começamos a comer. Observei de relance para Namjoon e ele parecia inquieto, imaginei se pelo mesmo motivo que fez Seokjin ficar nervoso mais cedo. Desviei o olhar para Jimin e nossos olhos se cruzaram no mesmo momento. Fiquei com um pouco de vergonha, mas ele apenas sorriu e acenou fraco. Desde o momento que vi Park, senti algo estranho, inexplicável, um frio diferente na barriga, deve ser o efeito do charme, não sei direito como isso funciona. Terminada a refeição, fui em busca de meus amigos, contudo, assim que nós sete nos reunimos, Calipso veio ao nosso encontro.
      — Meninos, será que podem vir comigo e com Leo até o chalé principal? — pediu calma e confirmamos com a cabeça, seguindo o casal em silêncio. 
    Lá, a mais velha pareceu apreensiva em nos contar o que estava planejando, também percebi que Valdez batucava algo com os dedos em sua perna. Calipso nos encarou por alguns segundos e enfim começou a falar.
      — Como sabem, os grandes líderes mundiais vêm tendo certas desavenças ultimamente. — fez uma curta pausa. — E achamos que isso tem a ver com alguma deidade ou algo do tipo. — olhou para o companheiro.
      — Um amigo meu, conheci do acampamento de Nova Iorque, é jornalista internacional, e durante a conferência ocorrida no mês passado entre representantes dos Estados Unidos e França, disse que conseguiu ver uma aura vermelha no representante estadunidense. — encarou o chão. — Como se ele estivesse sendo controlado. 
     — Recebemos uma profecia há duas semanas, quando Rachel nos visitou. Apenas Namjoon, Seokjin e Nayeon sabiam, pois estavam conosco no momento. — Calipso explicou.
     — Quem é Rachel? — franzi a testa.
     — Ela é o oráculo, lembra que te falei sobre ele na aula de hoje? — Namjoon me perguntou e afirmei com a cabeça. — Então, Rachel Elizabeth Dare é o atual.
     — E qual foi a profecia? — Jimin perguntou, desconfiado.
     — Para o mundo salvar, os sete para além do mar irão voar. E o feitiço da discórdia deverá se dissipar quando o filho do mistério chegar. — Seokjin recitou de cabeça, como se estivesse pensando naquilo por muito tempo. 
     — E o que nós temos a ver com isso? — Yoongi cruzou os braços.
     — Achamos que o "filho do mistério" citado na profecia é Jungkook. — Calipso desviou o olhar para mim, assim como os outros. — Já que Hecate também é conhecida como deusa do mistério ou místico. — respirou fundo. — E vocês sete acabaram se conectando, criando uma amizade. Achamos que vocês são os sete. 
    Um silêncio estranho se instaurou. Olhei para os meninos, e ao contrário de mim, eles não pareciam tão assustados com a situação. Hoseok e Yoongi estavam praticamente iguais, com os braços cruzados e olhar pensativo, já Namjoon e Seokjin tinham um semblante mais preocupado e olhavam para mim, enquanto Jimin e Taehyung trocaram uma risadinha, como se de alguma forma, estivessem aguardando aquele momento com uma leve ansiedade. 
     — Como vou dissipar um feitiço se não sei nem criar um? — enfim disse alguma coisa.
     — Durante essa semana, terá mais aulas com Naeyon, assim vai aperfeiçoar suas habilidades. — Calipso prontamente respondeu.
     — E o que nós sete precisamos fazer exatamente? — Hoseok questionou.
     — Profecias são muy confusas, então nem nós sabemos direito. — Leo sentou em uma das poltronas que há no espaço. — Porém, temos uma amiga com mais informações que a gente, e para a nossa felicidade, ela está em Seoul. Além disso, temos conhecimento de que uma grande conferência do G20 daqui a duas semanas. Essa semana vai ser o tempo de vocês se organizarem. 
    — E onde vai ser essa conferência? — a pergunta foi feita por Taehyung.
    — Roma. — Namjoon respondeu. — Toda semana, Jimin me traz um jornal de Seoul, o último tinha uma manchete sobre essa reunião.
    — Durante o período de preparação para a missão, ainda faremos algumas reuniões. — Calipso ainda nos observava apreensiva. — Acho que isso foi tudo, podem voltar para as suas atividades. 
     Saímos do chalé em silêncio, e logo pude ver o olhar de preocupação de Seokjin recair sobre mim. Ele cruzou os braços e desviou o rosto para Namjoon, o qual respirou fundo e encarou o chão.
    — Por que estão me olhando assim? — perguntei sem rodeios.
    — Não queria que tivessem te enviado pra essa missão. — o filho de Deméter respondeu. — Mal chegou no acampamento, ainda não sabe de muitas coisas importantes pra batalha.
     — Eu aprendo rápido, Jin. — tentei sorrir para aliviar a tensão. — Ainda tenho uma semana, vou me esforçar.
     — Além do mais, ele não vai estar sozinho. — Yoongi colocou a mão em meu ombro. — Iremos o proteger bem. 
     — Só não quero enterrar outro amigo. — Seokjin suspirou, parecendo remoer lembranças desagradáveis. — Bem, tenho treino agora. Vejo vocês depois. 
    O observamos ir embora e instintivamente olhamos para Namjoon, que respirou fundo e começou a andar na direção do mais velho entre nós. Não tive coragem de perguntar sobre o amigo citado por Jin, isso fica para depois. 
    — Preciso ir até o Bunker terminar uma coisa. Hoseok, Yoongi, podem vir comigo? — Taehyung pediu e ambos prontamente concordaram. 
     Acabei ficando sozinho com Jimin, algo que não aconteceu muito ao longo da semana que se passou. Ele me olhou por um tempo e estendeu a mão com seu sorriso amigável de sempre.
     — Vem, vamos dar uma volta. — fez menção de que eu segurasse sua destra e o fiz.
      O mais velho entrelaçou sua mão com a minha e me puxou de leve para andarmos, sem um destino aparente. Aquela ação parecia tão natural para Jimin que me fez questionar em silêncio se era algo feito apenas comigo ou um hábito de muito tempo. Tudo que consigo ter certeza sobre Park, é que ele me deixa esquisito. Paramos em frente ao grande lago que há no acampamento e nos sentamos na beirada enquanto observávamos as águas calmas. 
    — Você já usou o charme comigo? — perguntei, com um pouco de vergonha.
    — O que? Não, óbvio que não. — senti um pouco de chateação em sua voz. — Por que acha isso?
    — Porque... — procurei palavras, sem realmente ter uma resposta. — O jeito como pega na minha mão e me olha, eu me sinto estranho. — admiti. — Imaginei se isso seria o charme.
    — Estranho como? — arqueou uma sobrancelha, parecendo menos irritado. 
    — Um frio na barriga. — dei de ombros, concluindo essa ser a melhor explicação.
    — Oh. — riu fraco. — Eu também sinto isso quando estou perto de você. — virou o rosto para mim. — E quando pego na sua mão. — roçou seu mindinho ao meu. 
    — E o que isso significa? — olhei para nossos dedos e depois para ele.
    — Estou tentando descobrir. — repousou sua mão em cima da minha. — Você pergunta demais. — sorriu e balançou a cabeça. — Conversamos sobre isso depois, agora preciso fazer algumas coisas. — levantou-se rápido. — Até depois. 
    O frio na barriga estava lá novamente, e bem pior. Sacudi a cabeça, tentando fazer aquilo passar e me coloquei de pé, começando a andar sem rumo por ali.

🌕

   Me deitei na cama e fechei os olhos, tentando dormir, sem muito sucesso. O peso da missão enfim recaiu em minha consciência, me fazendo pensar se conseguiria conclui-la com êxito. Até hoje, ainda não havia passado por minha cabeça a ideia de um dia ser chamado para uma missão, muito menos que seria tão rápido. Mudei de lado umas três vezes, sem conseguir achar uma posição confortável, talvez o desconforto fosse o da minha própria cabeça. Mesmo em meio disso, enfim apaguei, acho que por volta das duas da manhã.
     
      

O Filho do MistérioWhere stories live. Discover now