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   Nos foi cedido pelas caçadoras*, um de seus abrigos, para que pudéssemos ficar durante nossa estadia em Roma, segundo Leo, aquilo fora muita generosidade de Lady Ártemis. O local não era muito grande, uma casa com cozinha americana, apenas um quarto e banheiro. Elas provavelmente nunca utilizaram a residência, e apenas a mantinham para emergências.
   Entramos no quartinho apertado e jogamos nossas coisas no chão, exaustos pelo quase um dia inteiro de voo, ainda mais pelo caos causado no aeroporto, ainda na Coreia, pelas fãs de algum boygroup, não conheço muitos, sou fã apenas da IU. Deitamos nas beliches e Taehyung programou o despertador de seu relógio para que dormíssemos por uma hora, pois precisaríamos sair mais tarde. Me acomodei no colchão duro e virei de lado, tentando cair no sono, mesmo cansado, meu cérebro continuava funcionando. Hoseok percebeu minha dificuldade, enquanto todos os outros já estavam capotados, e foi até minha cama com um sorriso pequeno no rosto.
    — Tente fechar os olhos e contar até três mentalmente. — sussurrou. — E vire para a parede, pode ajudar.
    — Obrigado, Hobi. — agradeci no mesmo tom e fiz o que ele disse.
  Jung fez carinho em meu braço e em meus cabelos até que eu caísse no sono. 

    Estava em uma espécie de praça, com certeza em Roma, e não havia mais ninguém ali, até que ouvi passos e corri para me esconder, sem saber exatamente do quê. Atrás de uma mureta, me encolhi, esperando não ser percebido, e conseguir ouvir vozes se aproximando, junto aos passos. 
    
— Está quase tudo feito, precisamos apenas esperar a reunião. — disse uma voz firme e masculina.
    — Até lá, dê um jeito para que os semideuses não nos atrapalhem. — agora uma voz feminina e fria se fez presente.
    — Como sabe que semideuses virão? 
    — Eles sempre aparecem, pois sempre há uma profecia. — falou a voz gélida em tom de riso.

  — Vamos, Jungkook, acorde. — Jimin me balançou um pouco. — Está na hora.
  — Ah, já acordei. — respondi um pouco tonto. — Tive um sonho estranho.
  — Pode ser uma pista. — praticamente me puxou para fora da cama de baixo da beliche. — Agora se ajeite, vamos.
   Me arrumei o mais rápido que pude, assim como os outros, e saímos do abrigo, mortos de fome, porém sabendo que logo iriamos comer. Com Namjoon nos guiando, chegamos até um pequeno restaurante não muito longe de onde estávamos, localizado em uma área pouco movimentada. Deveríamos encontrar uma pessoa, e percebi Yoongi a procurar por ali, até que ouvimos, em italiano, uma voz atrás de nós. Ao nos virarmos, vimos um rapaz pálido, muito mais que Yoongi, um pouco baixo e dono de cabelos pretos escuros, ao seu lado, outro homem, mais alto e com aparência de surfista, cabelos loiros e pele bronzeada, porém com uma expressão bem mais sorridente que a do outro. 
    — Ciao fratellino.  — disse o moreno, com um semblante tranquilo, porém sério.
    — Oi, Nico. — respondeu em nosso idioma. — Oi, Will. — acenou para o loiro. 
    — Não os vejo faz séculos. — o tal Will nos observou. — Você eu não conheço, deve ser o Jungkook, certo?
    — Isso. — respondi baixo.
    — Jungkook, esse é meu irmão, Nico Di Angelo e Will Solace, namorado dele e filho de Apolo. — nos apresentou.
    — Vamos sentar, vocês parecem estar morrendo de fome. — brincou Solace. 
    Nos reunimos em uma mesa redonda, de frente para a rua e fizemos nossos pedidos — claro, com a ajuda de Nico e Will. — Ficamos em silêncio por um tempo, até que Jimin se pronunciou.
    — Jungkook teve um sonho, talvez nos ajude. — Park deu dois tapinhas em meu ombro, me instigando a contar.
    Respirei fundo antes de explicar o sonho, era difícil lembrar, pois mesmo que lúcido, alguns momentos pareciam borrões. Ao decorrer de minha fala, notei que Di Angelo não esboçou nenhuma reação de surpresa, mas espremeu os olhos, como se tentasse pensar em algo.
    — Onde arrumou esse anel? — apontou para minha mão, quando terminei de falar.
    — Sempre tive, meu pai me deu quando eu era criança, dizendo que era um presente vindo da minha mãe. — dei de ombros. — Namjoon disse que é normal alguns pais olimpianos darem presentes aos filhos.
    — Sim. — concordou com a cabeça. — Achei o material interessante, dificilmente é algo feito de ferro estígio, mas levando em consideração que Hécate mora no submundo, deveria ter imaginado. 
    — A voz feminina do seu sonho poderia ser de Éris, mas não faço ideia de quem possa pertencer a outra. — disse Hoseok. 
    — Se lembra de como era essa praça, Jungkook? — Will perguntou.
    — Era um ambiente bem aberto, grande, provavelmente famoso e com prédios em volta. — tentei me recordar. — No meio, havia uma estátua, um homem montado num cavalo.
    — Praça do capitólio. — Nico rapidamente nomeou o local. 
    Nossa refeição chegou e mal conseguimos falar, nos concentramos demais na comida, parecendo um bando de esfomeados. Ao terminarmos, discutimos um pouco com o casal sobre o que sabíamos até agora e algumas informações vindas deles, Di Angelo contou sobre algumas desavenças entre deputados italianos, as quais surgiram paralelamente ao conflito mundial. 
    — Se quiserem, eu e Will podemos leva-los até a praça do capitólio para averiguarem. — notei que o filho de Hades pronunciava o nome do namorado de forma diferente, mais ou menos como Well, fofo. — Mas temos um compromisso, então apenas os deixaremos lá, tudo bem?
    Fizemos um sinal positivo com a cabeça e nos levantamos das cadeiras, logo após pagar a conta. Saindo do restaurante, seguimos o casal, tentando conversar pouco para não dispersarmos o grupo. Jimin permaneceu ao meu lado e com sua mão entrelaçada a minha, desde nosso primeiro contato, aquilo virou um hábito, maldito hábito que fazia minha barriga esfriar e meu coração disparar. Em nossa frente, Namjoon e Seokjin caminhavam lado a lado, porém com uma leve distância entre si, algo neles parecia estremecido. Pegamos um ônibus e em pouco tempo, chegamos ao nosso destino.
      — Temos que ir, desculpem por não conseguirmos ficar muito. — Will tinha uma fala calma mas calorosa.
      — Boa sorte. — foi a última coisa dita por Nico antes de irem. 
  Olhei ao redor e realmente era igual ao sonho, tirando o fato de estar de dia e alguns turistas passeando por ali. Foquei meus olhos em um dos turistas e ele parecia estranho, como se sua cabeça fosse um manequim. Antes que eu notasse, o local foi enchendo de pessoas, todas com cabeças de manequim. Senti um cutucão em minhas costas, até virar e ver uma das figuras mais estranhas que já vi na vida: Um homem com o rosto no peito, literalmente, a cara dele era localizada no tórax. Me afastei, um pouco assustado e arregalei os olhos, já sacando a espada. 
    — Senhor, com licença, será que poderia ficar parado? Preciso te matar. — o monstro falou, extremamente educado.
    — Droga! Blemmyaes. — ouvi Namjoon gritar, ele estava do outro lado da praça e parecia tentar pensar em uma saída. — Tentem acertar os olhos e corta-los ao meio! São muito resistentes. — o vi sacar uma adaga e colar as costas com Seokjin.
    Sem pensar muito, enfiei minha espada no nariz do blemmyae. Ele caiu para trás e se desfez como poeira, porém não tive tempo para ficar parado, porque outro veio em minha direção. As criaturas pareciam surgir de todos os lados e, como Kim dissera, fortes e resistentes. Jimin atacou alguns com sua adaga e deu vários chutes no olho de outro antes de faze-lo virar pó, as habilidades de luta corporal de Park não eram brincadeira. — foco, não é hora de pensar nisso, foco, Jeon Jungkook, foco. — Um blemmyae com roupa de policial estava prestes a me atacar, se não fosse uma flecha disparada por Hoseok, só então percebi que ele estava em cima da estátua com o arco e outra flecha já pronta para ser lançada. Golpeei mais um e fui empurrado no chão por outro, tentei chutar sua perna, contudo, ele nem sentiu. Tentei me levantar, mas antes que conseguisse, o vi ser carbonizado, logo depois visualizei Taehyung em minha frente com um sorriso sapeca. Eu não fazia ideia de que ele controlava fogo. 
    Pouco a pouco os monstros foram diminuindo em quantidade, até que vi Yoongi acertar o último e o olhar desaparecer, porém, um embrulho de papel apareceu onde o blemmyae morreu. Encaramos o pacote com desconfiança até que Seokjin pegou o objeto vermelho e retirou o cordão que o envolvia, revelando uma maçã feita de ouro.
     — Já estão cansados, semideuses? — o filho de Deméter leu o que estava escrito no papel.
     — O pomo da discórdia. — Jimin apontou para a maçã.
    Nesse mesmo instante, a fruta dourada desfez-se em pó de mesma cor entre os dedos de Jin. O rapaz, ainda com os restos em mão, correu até uma das canaletas de escoamento da praça e jogou o pó lá.
     — Isso não poderia ficar entre nós. — respirou fundo. — Éris sabe que estamos aqui, os blemmyae foram apenas um aviso. 

🌕

    De volta ao abrigo, Taehyung parecia meio inquieto, e montava uma espécie de cachorrinho com porcas e parafusos que estavam em seu bolso, — não, eu não faço ideia do porquê de ele andar com isso. — então sentei-me ao seu lado.
    — Está tudo bem? — coloquei a mão em seu ombro e o apertei de leve.
    — Sim, só estou cansado. — soltou um suspiro.
    — Então, quando ia me contar que você é piromaníaco. — ri, tentando aliviar sua tensão.
    — Eu não sou piromaníaco. — acompanhou minha risada. — Aquilo foi pirocinese, alguns filhos de Apolo o possuem, na verdade, até agora só sabemos de mim e Leo. Dizem que é uma maldição, mas Leo me encoraja a acreditar ser um dom.
     — O que você fez hoje no capitólio foi bem legal, não imagino como uma maldição.
     — Porque eu tive controle, se não, as coisas podem dar muito errado, já aconteceu uma vez.
     — Como?
     — Coloquei fogo numa sala de aula quando estudava, foi totalmente sem querer. — sua voz agora era de uma leve culpa. — Ninguém se machucou, mas poderia. No final, fui expulso.
      — Sinto muito.
      — Tudo bem, por causa disso, acabei indo para o acampamento. — deu de ombros. — Preciso tomar um banho, mas obrigado pela preocupação Jeykey. — me chamou pelo apelido dado por Seokjin e saiu. 
     Lembrei de Yoongi contar que também havia sido expulso da escola, será que isso fora o motivo de sua proximidade com Taehyung? Desviei a atenção para o filho de Hades e percebi que ele seguiu o andar de Tae com o olhar, logo depois encarou Hoseok e o observou um pouco antes de balançar a cabeça negativamente. Definitivamente não tento mais entender o que há entre aqueles três, pois nem eles parecem entender. 
    Senti o sofá afundar novamente e vi Jimin sentado ali, sem ter percebido sua chegada, Park conseguia ser muito sutil, quase como um gato. Ele deu dois tapinhas em minhas costas e sorriu.
    — Você foi bem hoje, nem parece aquele garoto assustado que quase foi devorado por uma dracaena. — riu.
    — Vocês têm me ajudado bastante. — sorri, feliz por seu elogio. 
      Antes que ele pudesse falar outra coisa, Seokjin nos chamou para comermos. Não falamos muito durante o jantar, todos pareciam concentrados demais na pizza de microondas.Olhei de relance para o filho de Deméter e notei que, volta e meia, ele encarava as próprias mãos com um certo medo.

🌕

*nota: Caçadoras de Ártemis são seguidoras da deusa. São sutilmente militarizadas, e mantém um senso de cooperação e sororidade inigualáveis. Seguem uma hierarquia própria e desinteressam-se por qualquer batalha ou luta que não seja por Ártemis e seus mais misteriosos desígnios (fonte: Percy Jackson wikia)

   Me desculpem a demora, mas as aulas online me deixam cheia de coisa, além de que pra escrever eu preciso pesquisar muita coisa pra tentar deixar a história o mais certa possível, espero que entendam :)
  Gostaram do capítulo? O que acharam da pirocinese do Tae??
   (e stream D-2!)

O Filho do MistérioWhere stories live. Discover now