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     Analisei mais uma vez o papel vermelho antes de pingar algumas gotas da solução transparente. Nayeon me dera algumas poções, essa era uma delas, ajudava a rastrear pessoas e coisas. Fechei os olhos e me concentrei, tentando ao máximo encontrar alguém pela névoa. Respirei fundo e uma luz branca dominou meu subconsciente, como se me levasse até algo.
Eu estava em uma sala grande, de arquitetura antiga e tipicamente italiana, algo da época do renascimento, talvez. Um trono dourado, ao centro do espaço, estava ocupado por uma mulher, a mesma do meu sonho, e dessa vez, ela usava a coroa de louros que tanto analisou. Os olhos, que no sonho eram cor de mel e apertados, agora grandes e verdes, lhe davam um aspecto traiçoeiro, me deixando desconfortável. Numa das mãos, segurava uma maçã dourada, igual a que se esvaiu nas mãos de Seokjin. Tentei olhar ao redor e identificar onde estava, mas logo a luz branca me trouxe de volta ao chão do abrigo.
Respirei fundo e retomei o ar que me parecia perdido. Os meninos me encaravam curiosos e pensativos.
  — Jungkook? Você está bem? — Jimin apertou minha mão com preocupação.
  — Sim, mas isso foi cansativo. — sorri, tentando lhe deixar mais calmo. — Vi um trono, uma mulher sentada nele, acho que era Éris, só que... — hesitei, buscando a imagem em minha mente. — É como se Éris houvesse tomado o corpo da mulher.
  — Tem alguma ideia de onde ela estava? Sabe, o lugar físico? — perguntou Namjoon.
  — Não. — suspirei. — Só consegui perceber que era amplo e com arquitetura comum de construções daqui. Talvez uma sede do governo.
  — Já sabem onde vai ser a reunião dos líderes? — Hoseok questionou enquanto limpava as unhas com a ponta de uma das suas flechas. Peculiar.
  — Não temos o local exato, podemos procurar uma biblioteca pública ou algo do tipo que tenha computador. — Seokjin respondeu. — Porém não tem como irmos todos juntos, atrairia muitos monstros.
O filho de Atena encarou a parede, sua mente parecia trabalhar rápido e seu maxilar travado denunciou isso. Ele fechou os olhos e respirou profundamente antes de começar a falar.
  — Seokjin e eu vamos procurar um computador e pesquisar algumas coisas sobre Éris. Taehyung, Hoseok e Yoongi, vocês vão voltar até a praça do capitólio e procurar por algo que possa ter passado despercebido e, não sei, tentem achar alguma resposta. Jimin e Jungkook, fiquem aqui e tentem encontrar a localização novamente pelo bilhete. Tudo bem? — enfim respirou enquanto esperava por nossa resposta.
Acenamos positivamente com a cabeça, o gesto pareceu deixar Namjoon mais calmo. Os meninos em prontidão saíram do abrigo, me deixando sozinho com Jimin. O mais velho sorriu pequeno para mim e tocou em meu ombro.
  — Está com fome?
  — Sim. — admiti. — Parece que vocês esquecem de comer. — ri.
  — Acontece. — deu de ombros. — Vem, vamos procurar alguma coisa. — levantou-se do chão e puxou-me para cima.
  — Acho que não tem nada na geladeira.
  — Por isso mesmo vamos sair. — pegou os sapatos. — Não tem como você se concentrar assim, precisa recuperar as energias.
   Em poucos minutos, estávamos na rua, um pouco perdidos em exatamente onde ir, mas com uma certa leveza em nossas mentes. Andamos um pouco, sem muito rumo, até acharmos uma lanchonete, o problema foi o fato de não sabermos nada de italiano, mas, após muita luta e mímica para que o sanduíche de Jimin fosse sem presunto, conseguimos fazer nossos pedidos. Pegamos nossos lanches, fomos para a rua, andamos um pouco até chegarmos em uma ponte e abrimos os sanduíches enrolados em pepel manteiga. Comemos em silêncio até que a voz de Park se fez presente.
  — Eu sempre quis vir à Itália. — suspirou. — Minha mãe veio aqui quando eu era criança e me deixou com uma tia. Quando ela voltou, passou horas e horas contando o quão Roma era linda e romântica. Acho que é uma das poucas boas memórias que tenho dela.
  — Vocês brigaram? — perguntei, mas temendo ser invasivo.
  — Uns dois anos depois, ela arrumou um namorado. — seus olhos pareciam mais tristes. — Ele era horrível, me batia, me xingava, mas ela parecia cega. — sua voz tremeu. — Até que um dia, Seungho, esse era o nome dele, tentou me matar. Eu vi nos olhos dele algo que me deixa angustiado até hoje, aquilo me deus mais medo do que qualquer mostro que já enfrentei. Eu estava saindo para a aula e ele havia chegado em casa, fedendo a bebida, além de minha mãe ter ficado a noite toda preocupada com ele. Fiquei na minha e quando estava quase saindo, ele me agarrou pelo uniforme, me chamou de tantos nomes. Seungho pegou uma das facas, enquanto me arrastava, e apontou para o meu pescoço— duas lágrimas rolaram de seus olhos. — Joguei o abajur da sala nele, no meu maior lapso de adrenalina, e corri. Meu amigo estava me esperando na escola, quando me viu tremendo, perguntou o que aconteceu, eu expliquei tudo e logo em seguida, me levou para o acampamento, ele era um sátiro, se chamava Taemin, estava preparando o terreno.
    — Sinto muito. — engoli em seco e segurei sua mão livre, que tremia e repousava na cerca da ponte. 
    — Tudo bem. — respirou fundo. — Durante o percurso até o acampamento, eu estava assustado e sem entender o que acontecia. O problema, foi que já perto da entrada, fomos atacados, um javali de erimanto que até hoje não sei de onde surgiu. — olhou para as águas do rio. — Taemin não resistiu, morreu para me salvar.
    — Jimin... — não consegui dizer nada a mais, apenas o abracei o mais forte que pude. 
    — É a primeira vez que falo disso em muito tempo. — me apertou no abraço. — Obrigado por me ouvir.
    — Sempre irei te ouvir, não esqueça. — sorri e encostei nossas testas.
    Em silêncio, beijei sua testa, sem nenhuma intenção romântica, só queria que ele soubesse que eu estava ali por ele. Voltamos para nossas posições anteriores, apoiados na cerca da ponte e terminamos nossa comida. 
     — Sabe, Jungkook. — olhou para mim e repousou sua mão sobre a minha. — Nestas semanas, pensei muito em você, e como você faz meu coração disparar todas as vezes me que te olho. Você também sente coisas assim, não é? — perguntou e confirmei com a cabeça. — Ainda não tenho certeza do que é tudo isso, assim como acho que você também não tem, só sei que são sensações boas.
     — O que está querendo dizer? — franzi a testa.
     — Isto. 
   Jimin puxou de leve meu casaco e colou nossos lábios, me envolvendo em um beijo calmo. Meu estomago esfriou, de uma forma boa, e apertei sua cintura contra a minha, sabendo que aquilo tudo era certo.  Ele me soltou e sorriu pequeno.
    — Não precisamos dar um nome pra isso, a gente só se conhece há o quê? Duas semanas? — afagou meu braço. — Tudo que importa é que eu sinto coisas boas por você. 
    — Eu também sinto coisas boas por você, Jimin. — toquei seu rosto e lhe dei um beijo no canto da boca. — Obrigado por ter me salvado aquele dia.
    — Foi o destino. — riu fraco e olhou para a paisagem, agora com seu corpo abraçado ao meu. — Tem um feirinha de rua ali. — apontou. — Vamos ver.
     Fomos até a feira e olhamos ao redor, cercado por diversos tipos de coisa, desde comidas diferentes até algumas bijuterias. Por aqueles instantes, esquecemos o fato de que o mundo poderia desabar se não conseguíssemos impedir Éris. Mesmo querendo que aquele momento durasse para sempre, puxei Jimin, que estava entretido com alguns aneis em uma das barracas, e o olhei, com um semblante um pouco triste.
   — Precisamos voltar para o abrigo.
   — Tem razão. — suspirou, colocando o anel que segurava de volta no estande. 
   Ele entrelaçou nossas mãos e começamos a andar de volta, até que, ainda na feirinha, Park parou por alguns segundos e semicerrou os olhos. 
    — Têm duas empusas mais para a frente. — continuou a andar, agora um pouco mais lentamente.
    — Corpo de mulher e pernas de burro? — perguntei, tentando lembrar das aulas dadas por Namjoon.
    — Uma perna de burra e uma perna mecânica. — colocou a mão sobre a adaga que carregava consigo. — Vamos tentar despista-las, mas faça o máximo para evitar os olhos delas.
    Consegui sentir que estávamos sendo vigiados, mesmo não tendo localizado-as, e acompanhei o ritmo do filho de Afrodite. Já fora da feira, e em uma arruela quase deserta, permanecemos alertas, porém, parecia termos despista-doas, até que escutamos uma voz metálica atrás de nós.
    — Indo embora tão rápido irmãozinho? — nos viramos, olhando o minimo possível para seus rostos. A da esquerda usava um vestido roxo e a outra um macacão azul florido. Estilosas, não?
    — Você fica com a direita e eu com a da esquerda. — Jimin disse baixo, ao pé de meu ouvido e confirmei com a cabeça.
    Não vi quando a de macacão florido me golpeou no ombro. Respirei fundo, tentando me situar e tentei ataca-la com a espada, porém ela foi rápida demais e puxou meus pés. Por um segundo, olhei para frente e me imaginei ali, me imaginei levantando e ficando parado. Me concentrei e canalizei minha atenção ali, resolvi usar a névoa o meu favor, e deu certo. Vi minha imagem ali, e aparentemente a florzinha também — sim, precisei dar esse apelido pra ela. — Então, dei um impulso para frente, me pondo de pé. A empusa percebeu e tentou me atacar novamente, mas fui mais ágil dessa vez e cortei seu corpo ao meio com minha espada.
   A adaga de Jimin estava jogada no chão e eles lutavam corpo a corpo. Corri para pegar sua arma, mas antes que conseguisse ajuda-lo de maneira propriamente dita, ouvi sua voz.
    — Me solte e dê dois passos para trás. — seu tom permaneceu firme, assim como sua expressão.
    Olhei um pouco assustado, até perceber que ele estava usando o charme, e que funcionou, porque a empusa se afastou, atordoada por alguns segundos. Foi o tempo exato para que eu fizesse com ela o mesmo que fiz com a outra. Seu corpo se desfez em pó, porém, um papel ficou — o que esses deuses, monstros, ou sei lá, têm com deixar bilhetinhos? — e, mesmo estando escrito em grego antigo e eu ainda não tendo tanta prática, consegui ler. Tudo que o bilhete dizia era: Palazzio chigi. O objeto entrou em combustão assim que disse seu conteúdo em voz alta.
     — Precisamos voltar ao abrigo e encontrar os meninos. — Jimin afirmou e eu concordei.
    Demos as mãos novamente, sem pretensão de solta-las tão cedo, e corremos para avisar do acontecido aos nossos amigos. 
     
   🌕

Oi pessoal, espero que tenham gostado:) peço perdão pela demora, mas ultimamente os dias tem sido difíceis e acho que quase todo mundo está assim, não é? Diante de tudo isso, espero que essa att tenha servido pra te distrair pelo menos um pouco.
  E ai? O que acharam do beijo jikook? O que vocês acham que esse bilhete significa?

O Filho do MistérioWhere stories live. Discover now