IV - Sinal de esperança

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O garoto nos contou que estava ali porque seu pai mandou e disse para que não saísse até ele voltar, mas não voltou. Não sabia se aquele transformado que encontramos no bar era o pai do garoto e se fosse, eu não conseguiria dar a péssima notícia para ele. No fundo, o garoto parecia saber que o pai nunca mais retornaria. Isso me deu um aperto no peito e me fez lembrar do momento em que soube o que aconteceu com minha irmã. Senti meu rosto arder e meus olhos se encherem de lágrimas, então levantei do caixote de madeira e fui para longe deles para que não me vissem chorar.
Lembrar de Emily era maravilhoso, mas sempre me vinha a lembrança daquele momento. O momento que recebi a notícia de que perdera o último e mais precioso membro de minha família. Encostei-me na parede e pus as mãos sobre o rosto para encobrir o som do choro, sentindo minhas narinas ficarem congestionadas e fungando toda hora. Olhei para a palma de minha mão, vendo-a toda molhada e a enxuguei na calça, secando o rosto nas mangas de minha blusa logo em seguida, a qual estava bastante suja. Estava mesmo era precisando de um banho e roupas limpas, se possível.
— Ei, o que houve? — Belinda apareceu de repente em minha frente e pôs a mão sobre meu ombro direito.
— Nada! Eu… estou bem — respondi, desviando o olhar e coçando o nariz.
— Até parece! Você estava chorando.
— Relaxa, foi só uma recaída — aleguei, desvencilhando-me e voltando para onde estavam os outros.
— Entendi. — Ela me lançou um olhar desconfiado, mas não hesitei.
Não queria falar com ninguém sobre o que aconteceu, não conseguiria falar sobre isso sem me emocionar e tudo o que eu menos queria era que sentissem pena de mim.
Xavier e Belinda haviam conseguido alguns alimentos para nós. Não estavam tão bons, mas, pelo menos, ainda estavam agradáveis ao paladar. Xavier ficou enchendo o garoto de perguntas e, enquanto o efetuava, percebi que Jessika estava olhando seu ferimento no braço. Durante todo esse tempo, eu havia esquecido que ela levara um tiro acidental. Aliás, lembrei que quando os encontrei, Bryan me largou e me disse para seguir com o grupo.
Por que será que ele não veio conosco?
Será que ele é tão orgulho e idiota a ponto de querer sobreviver sozinho; sem ajuda?
Eu não tinha as respostas, mas não conseguia parar de pensar nisso.
Passamos alguns dias no depósito, pensando no que poderíamos fazer e para aonde iríamos. Nosso destino era incerto, não sabíamos o que seria de nossas vidas a partir daquele instante. Seria isso? Viver fugindo e nos escondendo dos transformados, mendigando por comida para nos manter vivos? Não era o tipo de vida que eu planejava para mim. Na verdade, não era a vida que nenhum de nós pretendia levar, mas, infelizmente, se tornou nossa realidade.
— Eu não aguento mais ficar trancada aqui dentro — resmungou Jessika, cruzando os braços e batendo o pé.
— E o que você quer? Sair sem rumo por aí e ser morta por aquelas coisas? — questionou Belinda.
Permaneci calada, encostada na parede de braços cruzados e mordiscando o lábio inferior.
— Estou querendo dizer que temos que fazer algo. Não dá pra ficar aqui o tempo todo, a comida vai acabar em breve!
— Ela está certa! — concordou Xavier, sentando-se no caixote com a cabeça baixa e os cotovelos apoiados sobre suas coxas. — Não dá para ficar aqui pra sempre. Temos que seguir!
— Tá, mas pra onde? — perguntou Belinda.
— Não faço a mínima ideia.
— Talvez devemos esperar pelo resgate! — exclamou Eduardo com empolgação, contudo, ninguém deu importância, pois sabiam que o resgate não viria.
Ao observar a feição indiferente de todos, o garoto se calou e pareceu ter finalmente entendido que estávamos sozinhos nessa. Um silêncio angustiante se instalou entre nós durante um tempo e todos pareciam estar pensando no que poderíamos fazer e para aonde iríamos, mas não havia lugar. Não havia um porto seguro sequer para usarmos como referência. Até que, finalmente, algo me veio à mente.
— Por que não tentamos captar algo? Tipo algum sinal de TV ou rádio para ver se tem alguém lá fora dizendo para onde podemos ir.
— É isso! — concordou Xavier, apontando o dedo indicador e o balançando em minha direção.
Por um instante, pude ver um brilho surgir em seus olhos e me senti bem ao perceber que, realmente, havia pensado em algo que poderia nos salvar.
— Mas por aqui não tem nada… nem sinal de telefone.
— Tem uma TV lá no bar. Meu pai instalou para os clientes poderem assistir aos jogos enquanto bebiam e jogavam — afirmou Eduardo, o garoto que encontrei escondido no depósito.
— Ótimo!
— Mas só tem um probleminha… — contrariou Jessika, levantando-se e colocando as mãos nos bolsos — estamos aqui dentro há dois dias inteiros, não sabemos se lá fora está cheio de zumbis.
Todos a olharam e ficaram calados. Ela estava certa. A garota, finalmente, abriu a boca para dizer coisas que não fossem apenas para reclamar e debochar da situação.
— Pois é, mas temos que arriscar, não temos outra alternativa! — defendeu Xavier, olhando para cada um de nós.
— Certo, vou lá olhar! — exclamei, dando um passo à frente e me preparando para pegar a pistola do cós de meu short.
Provavelmente, ela não deveria ter tantas balas sobrando e isso me deixou aflita.
— Sozinha? Nem pensar, eu vou com você! — declarou Xavier, pegando sua arma e conferindo a quantidade de balas. — O resto de vocês fica aqui para vigiar a porta. Não devem abri-la enquanto não chegarmos. Entenderam?
— Espera! Por que eu sempre fico para trás e nunca vou com você? — questionou Jessika, franzindo o cenho e cruzando os braços.
— Será que é porquê você não faz nada?! — ironizei e ela me lançou um olhar fulminante, como se quisesse voar em meu pescoço e dei de ombros.
Xavier percebeu o jeito que a garota havia ficado com o que falei e me olhou com repreensão.
— Ei, calma! — ele disse num tom suave para a garota e segurou seu braço de leve, deslizando até sua mão. — É melhor se ficar aqui com os outros, está ferida e sem armamento. Não se preocupe, voltaremos logo! — Xavier sorriu em seguida e ela o abraçou.
Estava nítido que havia um interesse ali. Mais da parte dela, do que da parte dele.
Xavier passou a mão por seus cachos negros e se afastou, vindo para o meu lado para seguirmos em busca de algum sinal de rádio ou TV. Ele abriu a porta cuidadosamente para não fazer nenhum barulho e saímos do depósito, retornando ao corredor que dava para a cozinha e a recepção do bar.
Um breve som ecoou atrás de nós quando a porta foi fechada e confesso que levei um leve susto. Caminhamos lentamente pelo bar em nossa busca, Xavier estava à frente com sua pistola pronta para atirar, caso aparecesse algum transformado, e eu seguia logo atrás, também com minha arma preparada.
Passamos pelo corpo do homem que havia nos atacado há dois dias e cobri o nariz com a mão devido ao cheiro horrível de podre. Ao vê-lo, lembrei de imediato que este poderia ser o pai de Eduardo e isso me embrulhou o estômago. A qualquer hora, nós teríamos que sair daquele lugar e fiquei imaginando como o garoto reagiria ao ver o pai daquele jeito. Com certeza ele não se sentiria bem, não tinha como se sentir.
Ao chegarmos perto do balcão, Xavier seguiu para o espaço onde ficavam as mesas e disse para eu verificar se a televisão estava funcionando. Procurei pelo controle remoto, mas não obtive êxito ao encontrá-lo, então coloquei a pistola na cintura, presa pelo short e subi no balcão. Ao levantar a perna, acabei chutando um copo de vidro, o qual parou longe e se quebrou no chão, fazendo um barulho que, para nós, pareceu estrondoso. No mesmo instante, paralisei e meu corpo todo gelou, senti como se tivesse levado uma descarga elétrica no coração e ele acelerou. Xavier se assustou e quase disparou a arma em minha direção. Ele me olhou com espanto e notei que estava com a respiração acelerada.
— Que merda, Eve, agora temos que ser mais rápidos!
— Tá bom, me desculpa!
Fiquei de pé sobre o balcão e mordi o lábio inferior com força enquanto andava com cautela e receio de fazer mais algum barulho. Chegando até a TV, apertei o botão de ligar e esperei por algum sinal. Para o nosso azar, nenhum dos canais estava funcionando e tudo o que tivemos como resposta foi o chiado incômodo indicando que estava fora do ar. Desliguei a TV e bufei. Olhei para Xavier e vi que estava tão desapontado quanto eu.
— Não vamos desistir! — Pulei de cima do balcão e o encarei. — Ainda podemos encontrar algum rádio jogado por aqui. Me ajude, será mais rápido! — disse-lhe, virando as costas e indo rapidamente para a recepção.
Vasculhei as gavetas enquanto Xavier revirava as prateleiras. Estava ficando mais apreensiva do que antes por não ter encontrado nada ainda, tudo o que havia achado até o momento, era um carregador de celular velho, com o fio quase partido.
— E então, nada? — o perguntei, já sabendo que a resposta seria negativa.
— Não. E você?
— O mesmo… — retruquei, desanimada.
Fechei meus olhos por um segundo e soltei um suspiro cansado. Precisávamos encontrar algum meio de comunicação para saber se havia a hipótese de ter um lugar seguro para nos refugiar. Algum tempo depois, voltamos para o depósito do bar com as mãos vazias e os outros nem precisaram nos perguntar nada, pois já estava nítido em nossos rostos que havíamos fracassado.
— O que faremos agora? — inquiriu Belinda, com as mãos na cintura e todos se entreolharam, não sabendo o que responder.
Ela coçou a cabeça e seu cabelo super liso escorregou do coque que havia feito. Belinda era linda, como o próprio nome já dizia. Sua pele morena era impecável, sem marca nenhuma de espinhas, tudo o que tinha eram algumas sardas, o que parecia bem irônico, já que sua pele era um pouco morena; sua boca pequena e avermelhada combinava perfeitamente com seu nariz fino e, também, pequeno. Seus olhos eram grandes, porém meio puxados e a cor deles era incrível, não sabia ao certo se eram verdes ou cinzas, pois não reparei quando vi de perto. Ela era alta e tinha um corpo escultural: coluna reta, cintura fina e seu cabelo cor de caramelo quase batia no traseiro. Belinda, literalmente, era a mulher dos sonhos de qualquer homem, além do fato de ser uma ótima pessoa.
Aproveitando que já estava reparando os detalhes da garota e que todos estavam quietos, parei para observar a beleza de Jessika. Ela também era bem bonita. Seus cabelos eram negros e cacheados, de tamanho mediano; seus lábios carnudos e marrons chamavam bastante atenção e seu nariz não era fino como o de Belinda, mas também não era largo. Seus olhos eram grandes e castanho-escuros, sua pele negra e sem marcas, dava a impressão de ser aveludada se a tocasse; ela também era alta, porém um pouco mais que Belinha, provavelmente deveria ser da mesma altura que Xavier.
E por falar nele, Xavier era um homem bem bonito e charmoso. Seu cabelo castanho e meio ondulado estava um pouco grande e com certeza ele o usava curto; sua boca era rosada e pouco carnuda, mas tinha um bom formato; seu nariz era de tamanho mediano e um pouco fino, seus olhos pequenos eram castanhos, mas ficavam cor de mel à luz solar. Sua pele branca tinha algumas marcas de espinhas, mas nada muito marcado e sua barba estava a fazer; seu corpo não era atlético, mas estava nítido que ele se mantinha em forma.
Então direcionei meu olhar para Eduardo, o menino escondido. Ele era bastante novo, deveria ter uns 16 anos, no máximo. Seu cabelo ondulado e acobreado era grande, cobrindo quase toda sua testa; seus olhos eram de tamanho mediano e a cor deles era de um azul intenso, se olhasse muito tempo para eles, poderia sentir-se mergulhando no oceano. Sua boca era carnuda e vermelha, combinando perfeitamente com a cor de suas maçãs do rosto. Ele era o mais branco do grupo — até mais do que eu — e estava com o rosto coberto por manchas de espinhas devido à fase da puberdade, tendo algumas bem salientes. Ele era esbelto e não devia ter mais do que 1,70 m de altura.
— Caramba! Eu estava percebendo aqui… — disse repentinamente, fazendo com que levassem um pouco de susto — Como vocês são bonitos!
Todos me olharam com estranheza e sorrindo em simultâneo. Foi só então, que percebi que não via ninguém sorrir há dias.
— Você também é muito bonita, Eve! — exclamou Xavier, enquanto ainda sorria para mim.
— Obrigada, mas… olhem só pra vocês!
— Evelyn, o que deu em você? — questionou Belinda, franzindo o cenho enquanto também sorria.
— Nada. Eu só estava aqui sentada e, de repente, comecei a reparar em vocês!
— Tá, né!? — Jessika ironizou, com as sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados.
— Obrigada, também te acho linda! — disse Belinda enquanto caminhava até mim e colocava uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
— Não como vocês!
— Hello, você que é a loirinha dos olhos verdes aqui! — argumentou Jessika, num tom debochado.
— Tá, mas sou baixinha, não tenho corpão, tenho cara de bolacha, marcas de espinhas e meu cabelo não está na melhor fase!
— Okay e… — Ela arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços, esperando que dissesse algo.
— Evelyn, você é linda, sério! — elogiou-me Xavier, se aproximando de mim e agachando em minha frente, encostando a ponta do dedo indicador em meu queixo e sorrindo.
Eu retribuí o sorriso e agradeci, mas Jessika pareceu não ter gostado nem um pouco disso.
Que se dane!
Eu não tenho outras intenções com Xavier e creio que ele também não tenha, tudo que há entre nós é amizade e apenas isso.
— Bem, já que não conseguimos sinal pela TV, teremos que procurar em outro lugar! — Xavier bateu as palmas das mãos sobre os joelhos e deu impulso para ficar de pé.
— Agora sim, temos um foco. Não é um refúgio, mas já é um bom pretexto para sairmos da toca! — retruquei, também me levantando.
— Além de a comida estar quase no fim — adicionou Eduardo.
— Isso também! — Apontei o dedo indicador para ele e coloquei a mão no quadril, olhando para os outros com uma expressão um tanto alegre.
Não sabia por que havia agido com ânimo naquele momento, talvez fosse porque, no fundo, eu soubesse que iríamos ter boas notícias em breve e um lugar seguro para ir. Para a minha surpresa, eles sorriram brevemente e, com um sinal de cabeça de Xavier, pegamos nossas coisas e seguimos, novamente, para as ruas silenciosas e agonizantes da cidade. Parecia que ele era mesmo o líder do grupo, e, para ser sincera, esse cargo o servia muito bem. O bom que ele não arrogante e escutava o que o restante tinha a dizer, não ia apenas por sua própria cabeça.
Saímos com cautela do bar e a imagem da cidade estava pior que há 2 dias. O cheiro de carne em processo de putrefação embrulhava o estômago e tínhamos que prender a respiração quando se tornava insuportável de respirar aquilo; o ar estava parado e a luz solar estava um pouco quente, o que sinaliza que já deviam passar das 15 horas. Haveríamos de encontrar outro abrigo rápido, pois não demoraria muito para anoitecer e ficar desabrigados à noite não era uma coisa nem um pouco boa.
Mais à frente, a uma quadra dali, havia um grupo de transformados amontoados e pareciam estar famintos. Se eles nos vissem, estaríamos muito, mas muito ferrados. Olhei ao redor no intuito de achar algum lugar para nos escondermos e visualizei o que parecia ser uma loja de acessórios, então cutuquei Xavier no ombro e mostrei o lugar que se localizava na quadra ao lado e ele concordou em irmos até lá. A loja estava imunda e aquele cheiro horrível persistia, os vidros das janelas estavam estilhaçados no chão e havia sangue por quase toda a parte, o que me fez pensar que talvez não tenha sido uma boa ideia ter ido para lá.
— Gente, está mais que nítido de que podem ter zumbis aqui dentro. Procurem por rádios, telefones… qualquer coisa que sirva como meio comunicação! — sussurrou Xavier, olhando para todos. — Tomem cuidado! Jess, você vem comigo; Eduardo, não saia de perto delas! — Ele apontou para mim e Belinda, e o garoto sinalizou com a cabeça que havia entendido.
Nós três seguimos à procura dos equipamentos em alerta e confesso que estava me sentindo nervosa com aquela calmaria misteriosa. Estar do lado de fora novamente, me fez sentir medo; medo de ter que lidar com a perda de algum deles, mas eu precisava focar no que era importante naquele instante. Vasculhei as prateleiras e armários e não achei o que interessava, apenas bijuterias, discos e livros velhos, então soltei um suspiro desapontado e parei para pensar onde mais poderia olhar.
— Achei! — gritou Belinda no momento de empolgação e logo cobriu a boca com a mão ao perceber o que fez.
Fui até ela correndo e começamos a testar o rádio enquanto ouvia os passos de Xavier e Jessika correrem até nós.
— Que susto levamos, Bel! — murmurou Xavier, ofegante e com a mão no quadril. — Encontrou? Cara, vocês são demais! — Xavier abriu um enorme sorriso e se aproximou mais, enquanto Jessika permaneceu no mesmo lugar, apenas olhando.
— Encontrei o rádio na mesa do escritório. Agora é torcer pra estar funcionando!
— Vamos testar! — instruiu ele, pegando o rádio de minha mão e mexendo para ver se capturava algum sinal.
Durante alguns minutos, tudo o que se conseguia ouvir eram chiados, mas tivemos a impressão de ouvir uma voz distante e Xavier mudou a estação, de AM para FM. No mesmo instante, uma voz feminina surgiu alto demais pelo rádio e nos assustamos, tentando abaixar o volume o mais rápido possível. Ao longe, pudemos ouvir os rosnados dos transformados vindo em nossa direção e logo concluímos que não podíamos mais continuar ali, contudo, se saíssemos, talvez não desse mais para escutar o que a mulher dizia.
Meu coração gelou e prendi a respiração assim que ouvi a frase “lugar seguro”. Imediatamente, todos se excitaram ao ouvi-la e nos concentramos para escutar o resto da mensagem. Ela mencionou um tal de Centro Científico do Exército como local seguro, o que achei bem estranho, já que esperava ouvir que era algum outro tipo de abrigo. Talvez fosse o único que realmente podia garantir a segurança dos sobreviventes. Nenhum de nós sabia como chegar lá, até ela disse que o local ficava ao noroeste da cidade e seríamos recebidos por militares no local. Quando a mensagem acabou, o rádio ficou mudo e ficamos em silêncio enquanto nos entreolhávamos.
— Andem, eles estão chegando! — vociferou Jessika e os outros pareceram despertar de um transe quando ela o fez, inclusive eu.
Saímos correndo dali e demos o azar de sermos vistos pelos transformados. Tendo que correr o máximo para fugir deles a partir dali. Xavier tentou atirar enquanto corria, mas falhou, só estava gastando balas à toa. O grupo acabou se separando, o que não era nada bom. Corri para a direita, me jogando para dentro de um carro abandonado através da janela quebrada; Xavier e Belinda entraram em uma viela, onde desapareceram de vista; e Jessika e Eduardo foram para a esquerda, onde se esconderam entre os carros que estavam batidos.
Minha respiração estava forte demais, não conseguindo parar de ofegar e minhas pernas estavam trêmulas, assim como minhas mãos. Tentei me esconder ao máximo no carro, apertando-me entre os bancos da frente e de trás para conseguir deitar no chão do veículo. Permaneci imóvel no lugar, com os braços cruzados sobre o peito em formato de X, enquanto escutava os passos tortos e apressados dos infectados. O som estranho que emitiam me deixava toda arrepiada e decidi pregar meus olhos para não ter que ver as sombras deles ao passar perto de onde eu estava escondida. Sem perceber, acabei pegando no sono ali mesmo e, quando acordei num pulo, vi que já era noite. Não estava ouvindo mais nada vindo lá de fora, havia apenas o som das sacolas plásticas balançando com o vento e da estridulação dos grilos. Levantei-me devagar e resolvi espiar pela janela, não vendo transformados ali, mas também não havia sinal do resto do grupo.
Será que foram embora ou ainda estavam escondidos como eu?
Eu dormi por tempo demais, devem ter pensado que sumi ou que fui pega. De qualquer forma, estava sozinha de novo e precisava encontrar um lugar para passar a noite. Daquele segundo em diante, era apenas eu, uma pistola com duas balas, a cidade infestada e a senhora Sorte.

INFESTAÇÃO: O princípio (Vol. 1)Where stories live. Discover now