dá seus pulos

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25 de dezembro de 2019

Marcos

Núbia parecia ter certeza de que estava fazendo a coisa certa. Seu pai, por outro lado, parecia não concordar com ela, mas não disse nada.

- Como eu disse, a aprovação de vocês não me interessa - disse ela. - Eu só espero que vocês não tentem estragar meu plano e não tentem me dedurar pro Jorge.

- Eu jamais faria isso - falei. - Quero até te ajudar. Só me diz o que fazer e eu faço.

- Marcos! - Porã me repreendeu. - Você sabe que é perigoso lá fora, principalmente porque você só esteve do lado de lá quando era criança.

- Mas eu quero ajudar - retruquei. - E eu não estaria sozinho, obviamente iria com a Núbia.

Porã bufou e fechou a cara. Encarei Núbia, aguardando sua resposta, mas ela apenas balançou a cabeça, como se estivesse ponderando a ideia.

- Você não pode estar considerando isso - Dandara exclamou.

- Ok - Núbia disse, por fim. - Você pode me ajudar, Marcos, mas tem que prometer que vai fazer tudo em sigilo pra não levantar suspeitas.

- Prometo - falei por entre um sorriso.

- Se ele vai ajudar, eu também vou - anunciou Porã. - Até porque eu sou a que mais conhece o mundo lá fora, já participei de diversas missões.

Núbia concordou com a cabeça, sorriu levemente e encarou o pai. Ele tinha uma expressão de preocupação no rosto, mas não deixou de sorrir.

- Não conta pra ninguém, pai - pediu Núbia.

- Tá, mas qual é o plano? - perguntou Dandara.

- Pra quê você quer saber? - perguntou Núbia em tom grosseiro. - Pra ir correndo contar pro papai? Não, valeu, não vou deixar você estragar meu plano. Já que não vai ajudar - apontou para a porta -, faça o favor de não atrapalhar.

- Mas eu quero ajudar - respondeu Dandara rapidamente. - Eu vou ajudar no que precisar, é só falar.

- Você vai lá pra fora? - perguntei em tom de deboche. - Por favor, Dandara, agora não é hora pra piada. Por favor, vai embora.

- Eu tô falando sério, seu bosta - disse ela, antes de me socar no braço.

- Ok - foi tudo que Núbia disse antes de entrar no quarto.

Ficamos todos nos entreolhando, sem entender direito o que estava acontecendo. Até que Núbia voltou com um caderno e uma caneta.

- Certo, vou anotar as coisas que precisamos e a função de cada um - disse ela, sentando no chão e começando a escrever. - Marcos, já que você sempre consegue roubar coisas da cozinha, vai ser o encarregado de pegar os alimentos e utensílios de cozinha. Vamos precisar de batatas e batatas doces, brócolis ninja, cenoura, frutas variadas, arroz, talvez tomate... Não tem problema se não conseguir pegar tomate, mas seria bom pelo sabor. Falando em sabor, traz alho e cebola. Ah, e traz café em pó e o coador. Não é porque vamos comer na floresta que temos que comer mal.

- E carne? - perguntei.

- Não há necessidade. Há animais lá fora, além de que vocês podem pescar quando quiserem. Enfim, acha que consegue pegar tudo? O ideal seria quatro de cada item por pessoa.

- Você quer que eu roube 16 batatas? - falei boquiaberto. - É impossível passar despercebido assim.

- Dá seus pulos, querido - Núbia sorriu com sarcasmo. - Ah, e não pode esquecer uma leiteira e duas panelas. É mais fácil levar as de alumínio, elas são bem mais leves que as de barro. Pega também uma colher de pau, duas caixas de fósforos e dois isqueiros, além de pelo menos quatro colheres.

Verão dos MortosWhere stories live. Discover now