você quase matou o cara, matheus

99 13 78
                                    

25 de dezembro de 2019

Núbia

Assim que Marcos e Matheus saíram, deixei meu rádio comunicador no balcão e saí logo em seguida. Desci as escadas do prédio com pressa. Já era horário de almoço, então era a chance perfeita de ir à zona proibida e passar para o lado de fora.

Peguei minha bicicleta na entrada do prédio e pedalei pelas subidas do Oliveirinha. Cheguei à zona morta e já não havia mais nenhum guarda nas guaritas. Encostei a bicicleta no muro e passei para o lado de fora. Felizmente, não havia nenhum zumbi por perto, então corri para o lado esquerdo, onde encontrei vários carros.

Passei por entre os três Fuscas pretos, batuquei sobre a lataria da Kombi rosa, encarei a Brasília amarela e o Opala azul. Continuei caminhando e avistei um Chevette marrom ao lado de um Fiat 147 branco. Até que meus olhos brilharam quando avistei uma Lamborghini Countach LP400 vermelha, escondida por entre as folhas de arbustos.

- O que essa obra de arte tá fazendo fora do museu? - sussurrei enquanto tirava as folhas e os galhos de cima do carro. - Minha nossa senhora, olha esse bebezinho...

Levantei a porta do carro e sentei no banco. Passei as mãos pelo volante e sorri. Quando eu era criança e meu pai me levava para dar passeios fora do grupo, lembro de pegarmos cada dia um carro diferente. Em um desses passeios, o melhor deles, nós pegamos a estrada rumo ao litoral na Lamborghini e papai pisou fundo no acelerador, fazendo com que viajássemos em máxima velocidade. Eu ri tanto naquele dia, me senti tão feliz e livre, até esqueci que vivíamos em um mundo com zumbis...

- Pena que você não tem tanto espaço - reclamei e saí do carro, escondendo-o novamente.

Voltei a observar os carros. Todos me interessavam, mas não pude deixar de pensar na praticidade. O único com quatro portas era o Opala e, por mais que eu estivesse tentada a pegar a Kombi, alguém notaria se uma enorme perua rosa tivesse sumido, então o Opala era o escolhido.

A chave estava no banco, então liguei o carro e dirigi lentamente até a saída subterrânea. Deixei o carro estacionado ali e guardei a chave em meu bolso. Pensei em esconder o carro, mas as probabilidades de alguém ir até ali eram muito baixas, então deixei como estava.

A saída subterrânea tinha cadeiras e mesas empilhadas pelo lado de fora. Rapidamente, tirei uma por uma, posicionando-as ao lado do carro. Quando tirei todo o amontoado da passagem, percebi que ainda havia muito mato e muitas raízes de árvore na saída. Tentei passar por entre as plantas e consegui, portanto decidi não arrancá-las.

Voltei correndo para dentro dos muros, peguei minha bicicleta e pedalei de volta para casa. Subi as escadas correndo e, chegando a meu apartamento, Porã e Dandara já estavam lá.

- Tudo pronto? - perguntei.

- Peguei tudo - disse Porã. - Trouxe meus remédios pessoais e uma mochila com uma blusa de frio e algumas outras roupas.

- Ainda bem que você pensou - falei. - Eu esqueci completamente de avisar vocês... E você, Dandara?

- Tá tudo na mala que deixei no seu quarto - ela respondeu. - Mas eu já tô de saída porque preciso separar umas roupas. Que horas vamos sair?

- Duas e quarenta e cinco da manhã - respondi. - O cara que fica de guarda sempre sai às três da manhã pra mijar, então quando ele estiver respondendo ao chamado da natureza, nós saímos.

- Como você sabe disso? - perguntou Porã.

- Meu pai disse que é regra dos guardas - respondi. - Eles só podem sair uma vez pra ir ao banheiro e fazer uma boquinha. Como a madrugada é mais tranquila, até por não ter barulho pra atrair os zumbis, só tem um guarda tomando conta de cada ponto.

Verão dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora