enfim, a hipocrisia, né?

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27 de dezembro de 2019

Luana

Após meia hora na estrada, o carro precisava ser abastecido – e eu também. Núbia parou no meio de uma avenida cercada de prédios, com uma escola do lado direito e uma igreja do lado esquerdo. Ela desceu do carro, Marcos e eu a seguimos.

– Você trouxe combustível nesse carro? – ela direcionou a pergunta a mim. – Não tem problema se não tiver nada nesse carro, no outro tem dois galões de combustível vegetal.

– Tem gasolina comum no porta-malas – respondi. – Não sei se esse carro iria rodar com combustível vegetal.

– Se nosso carro já precisa ser abastecido, certeza que o de trás também – comentou Marcos. – Nós rodamos mais com o outro.

Esperamos enquanto o pessoal do outro carro descia e, quando vieram ao nosso encontro, Porã disse:

– O combustível tá acabando.

– Eu imaginei – respondeu Núbia. – Tem dois galões de combustível no porta-malas.

– Acho melhor abastecermos logo – comentou Dandara. – É perigoso ficar aqui. Esses prédios e fábricas dos dois lados da avenida são péssimos pra visibilidade. Ainda mais que não clareou completamente.

– Ela te razão – concordei. – Eu tô morrendo de fome e queria parar pra comer, mas tô achando esse lugar muito esquisito.

– Puta merda, lá vem um bando de boca-podre – Matheus apontou e correu de volta para o carro.

Por um momento, achei que ele estava se escondendo, mas ele logo saiu com uma adaga em mãos e finalmente percebi que ele não estava armado antes.

– Bora! – gritou ele. – Dandara e Núbia podem ficar abastecendo os carros, Porã pode dar cobertura de longe com as flechas, Marcos e Luana podem vir comigo.

Matheus e Marcos correram em direção aos zumbis e eu apenas observei por alguns segundos.

– Ele sempre dá ordens? – perguntei para Núbia, que agora corria com um galão de combustível e uma mangueira em mãos.

– Essa seria a primeira vez – disse ela afoita. – Mas parece que ele é bom nisso, gostei. Agora vai lá ajudar, Luana.

Concordei e corri em direção aos zumbis. Eles saíam, em sua maioria, de dentro da igreja, mas alguns também vinham por entre as vielas cheias de mato e lixo.

Matheus se concentrava em derrotar os zumbis que saíam de dentro da igreja e gritava repetidamente "saiam da casa de Deus, seus enviados de Satanás". Enquanto isso, Marcos estava concentrado em acabar com os zumbis que vinham de um beco. Eu, por outro lado, decidi entrar em uma viela. Pior erro da minha vida.

Havia tanto mato, mas tanto mato, que eu não conseguia enxergar quase nada que viesse de nenhum dos cantos. Aquele matagal atrapalhava completamente a minha visão. Quando percebi a movimentação na grama alta, o zumbi já estava pulando em minha direção. Com o susto, caí de costas no chão e ele pulou em cima de mim. Golpeei sua cabeça e me desvencilhei de seus braços nojentos.

Segui em frente no matagal, mas senti unhas arranhando meu ombro direito. Rapidamente, puxei o monstro pela cabeça e empurrei seu corpo com o pé direito, pressionando-o contra a parede, fazendo com que sua pele podre cedesse e eu rasgasse seu pescoço, arrancando, assim, sua cabeça. Joguei-a no chão e esmaguei-a com o pé.

Quando tudo ficou em silêncio, pensei que houvesse apenas aqueles dois nojentos ali, mas me enganei terrivelmente. Em poucos segundos, senti uma mão segurando meu calcanhar direito e outra segurando meu calcanhar esquerdo. Quando tentei dar um passo, caí no chão e derrubei meu facão. Quando tentei alcançá-lo, fui puxada pelas mãos gosmentas. Virei meu rosto e vi que mais zumbis se aproximavam, um tentando passar por cima do outro, todos se amontoando conforme eles iam caindo. Minha maior dúvida era: de onde eles estavam saindo? Pelas janelas dos prédios? Por buracos nas paredes? Porque eles não estavam vindo de dentro da viela, estavam vindo do lado oposto.

Verão dos MortosWhere stories live. Discover now