quatro

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Outer Banks

Agatha tinha feito um estrago.

Quintais destruídos, árvores caídas, ratos por todos os cantos e pássaros desesperados atrás deles em uma tentativa de se alimentarem, ninhos destruídos. Eu podia jurar que nunca tinha visto esse lugar tão... Acabado, e de fato era triste ver isso. Tenho pena de quem mora perto da praia ou do canal, porque tenho certeza que deveria estar muito pior.

Como se a destruição em massa não fosse o suficiente para o desastre da semana, o lado pogue da ilha estava sem luz e sem sinal, mas é evidente que o lar dos kooks também estava, porém, por serem kooks eles têm dinheiro, geradores que funcionariam a toda potência pelo tempo que fosse preciso, tudo para eles, porque não vão ligar para esse lado da ilha. A gente que se ferre mesmo. Lei do mais forte.

De qualquer forma, hoje não tinha trabalho por não ter movimento então a única coisa que faria hoje seria ir atrás da minha prancha para guardar ela, ontem estava tão nervosa com tudo que aconteceu que nem lembrei de pegar.

– Jamay -A voz grossa e rouca do meu tio me tirou dos meus pensamentos, e seguindo estritamente a hierarquia da casa, o olho no mesmo momento. Calça de fardo verde escura, surrada e desgastada, blusa de listras brancas e cinzas, seria difícil lembrar das vezes que ele não usava essa roupa, era quase um uniforme. – Aonde está a sua prancha bege? -Engulo seco, sabia que ele ficaria bravo mas não tinha como mentir, ele acabaria descobrindo.

– Quebrou -Sou sincera, meu coração se aperta e meu corpo se alarma como se dissesse: não vou aguentar mais se ele nos bater de novo.

Eu já podia sentir os dedos dele na minha bochecha ainda roxa.

– Como? Acha que só porque tem outras pode quebrar uma prancha? -Bateu na mesa com as duas mãos e a mesma expressão de raiva que tinha visto outras vezes estava presente. Testa franzida, olhos vermelhos e minha mente já criava a fumaça saindo de suas orelhas como se ele fosse uma locomotiva.

– Eu vi um barco, achei que... Fosse o meu pai e fui atrás -Digo a verdade, vejo ele bater a mão direita na mesa e como reflexo fecho os olhos esperando o contato. Que não veio.

Abro os olhos, a expressão de raiva não estava mais lá, sua testa não tinha mais rugas e seus olhos não estavam mais vermelhos ou levemente arregalados, estava com uma feição... Triste.

– Ele não vai mais voltar -Diz entrando no quarto e suspiro. O quanto isso foi estranho...

Antes que ele mude de idéia me levanto e caminho para a praia, as ruas estavam agitadas, pessoas carregavam carrinhos com madeira e pedaços de árvore dentro, cada um varria a frente de suas casas para tentar diminuir a quantidade de folhas que tampavam as ruas. Todos pareciam exaustos.

Ao chegar na praia reparo no quão suja ela estava também, e como se fosse para minha sorte vejo metade da minha prancha na beira da água. Graças a Deus.

Corro até lá e agarro ela, a vendo um pouco arranhada, e o pior agora seria procurar a outra metade que até ontem estava na areia. Com certeza estaria coberta.

– Eu juro que vi ela por aqui -Comento sozinha andando pela praia e vendo a quantidade de algas e lixo que o mar tinha jogado de volta para a areia, oque era justo já que os seres humanos veem o mar como um lixão. Espero que nenhuma tartaruga tenha colocado ovos por aqui.

Nothing To Lose¹  • JJ Onde as histórias ganham vida. Descobre agora