Epílogo

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   O jovem bufa pela milésima vez enquanto se olhava no espelho com o telefone em mãos, bravo, não gostava de ser ignorado mas gostava menos ainda de parecer estar no pé de alguém, porém, não recebia respostas faziam meses e esse era outro fator para a lista de coisas que ele não gostava: ficar sem respostas.

Idiota -Desligou o telefone e o arremessou contra a cama, voltou o olhar ao espelho e encarou as manchas embaixo de seus olhos, passou os dedos fortemente pelas suas pálpebras e apertou os olhos os fechando, sentia que iria dormir naquele mesmo local se permanecesse na mesma posição por mais de três minutos, mas as coisas não estavam fáceis e ele não poderia se dar simplesmente ao luxo de dormir e descansar. Seria egoísta demais.

Abriu os olhos novamente e olhou para o quarto a sua volta, a cama bagunçada demonstrando a noite sem dormir onde apenas se mexeu para todos os lados tirando o lençol do colchão, copos vazios na cômoda: costumava sentir muita sede durante a madrugada, roupas na cadeira na frente da escrivaninha, ele não era a pessoa mais organizada do mundo, e por fim, pilhas de papéis em cima da escrivaninha de madeira, papéis de banco, papéis de contas, papéis de contratos, papéis da polícia, os mesmos que ele revirou durante toda a noite enquanto bagunçada os lençóis e bebia água.

Preciso dar um jeito nessa bagunça -Diz sozinho, um hábito, passar tanto tempo sozinho não fez com que aproveitasse sua própria companhia, mas sim que odiasse aturar a companhia de qualquer outra pessoa que não fosse ele mesmo.

Começou retirando a blusa preta da cadeira, dobrando a mesma e colocando em cima da cama, fez a mesma coisa com as outras duas camisas sociais antes de as guardar no armário de madeira antigo no canto do quarto, esticou o lençol e debrou o cobertor, se direcionou para os copos na cômoda quando foi impedido ao subir o olhar para a parede na cor creme.

Não para a parede em si, mas para a moldura pendurada nela.

Sorriu.

Fitou as três figuras na imagem, a primeira coisa que seus olhos captaram foi a da ponta cuja aparência era mais jovem, os olhos castanhos do garoto fitou atentamente os olhos verdes na foto, as pontas dos seus lábios se suspenderam em um meio sorriso apreciando o quanto o cabelo dela estava arrumado em um penteado na sua opinião ridículo, e como a garotinha não parecia nada satisfeita em estar com aquilo -visto que tinha o maior bico com as bochechas infladas demonstrando claramente sua raiva de estar posicionada naquele local-.

Os olhos dele foram para a figura atrás da que mais o chamava atenção. OS cabelos pretos, os olhos azulados, a barba e a pele bronzeada e marcada por tinta nos braços, com pássaros em seu ombro que transmitiam liberdade: tudo que aquele homem mais queria. O sorriso do garoto não se fecha, porém também não abre mais, continua intacto, porém seus olhos tinham um brilho diferente em comparação a quando olhava para a figura anterior.

Negou brevemente com a cabeça, pensando o quanto o dono das tatuagens era cabeça dura.

Por fim, olhou para a última pessoa na imagem, o garotinho de cabelos loiros que demonstrava ser o mais entediado. Seu sorriso alí se desmanchou, dando lugar para uma feição confusa já que o garoto se perguntava como ele foi capaz de mudar tanto, para onde tinha ido aquele outro garoto?

Morto, pensou.

Voltou a olhar para a que mais chamava sua atenção, seu sorriso ladino se abriu mais uma vez, e seu corpo se moveu sozinho quando ergueu a mão e esticou o dedo médio e o indicador até a moldura, encostando a ponta de seus dedos na testa da garotinha de marias chiquinhas.

Nothing To Lose¹  • JJ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora