seis

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Outer Banks

– Boa tarde Jamay -Sr Struddle, meu vizinho, sorri enquanto varria a varanda da casa repleta de folhas secas. Sorrio. Era um senhor de meia idade que mora junto com a esposa, pelo que entendi buscaram um lugar mais calmo para morar quando alcançaram a maior idade, as vezes cortava a grama deles, árvores, ou algo do tipo.

– Boa tarde Sr Struddle -Digo esboçando um sorriso e cominho pelas pequenas pedras na frente da minha casa até abrir a porta de madeira, faço certa força por conta da falta de óleo e dou um pulo para trás quando ouço um barulho e sinto algo cortar meu rosto.

Fecho meu olho por reflexo e algo em minha bochecha arde, ponho a mão na frente do olho e abro o outro olhando perplexa para a cena na minha frente: meu tio jogando garrafas de cerveja na parede.

Olho apavorada para o homem irritado com a mesma roupa de ontem, ele ignorava a minha presença e continuava xingando e batendo na mesa da sala, a casa estava uma bagunça, cacos por todos os lados e frascos laranjas de remédio espalhados pelo piso de madeira claro, o reflexo da luz mostrava que algumas garrafas estavam cheias e isso se confirmava pelo cheiro forte e o aspecto de piso molhado.

Com a mão ainda na bochecha, sinto algo escorrer por elas e me desespero quando não consigo abrir muito o olho direito, minha bochecha doía de uma forma diferente e quando tento tocar sinto um pedaço de vidro no local.

– SEU LOUCO, PODE TER ME CEGADO -Grito com passos rápidos até meu quarto e só escuto palavrões saindo da boca do meu tio, que continuava quebrando as coisas.

Tranco com rapidez a porta do quarto e vou direto para o meu pequeno banheiro me olhar no espelho, a cena era assustadora até para mim que já tinha me visto com diferentes machucados no rosto.

Parecia uma fantasia de Halloween muito realista.

Um pedaço de vidro verde semelhante ao tamanho do meu dedo anelar estava preso na minha bochecha, tudo sangrava e ao tirar a mão gotas de sangue descem pelo meu rosto como lágrimas, começando a sujar a blusa amarela que tinha posto para sair.

Respiro fundo abrindo a gaveta e pego uma gaze, não conseguia abrir muito bem o meu olho e provavelmente deveria ser pelo inchaço que eu encontraria por baixo de todo aquele sangue.

Puxo o vidro com a gase esticada na mão tomando certo cuidado, ele rapidamente sai do meu rosto e reparo que tinha só uma ponta que entrou. Pressiono a gase contra o corte e largo o pedaço de vidro sujo de sangue na pia, finalmente consigo abrir um pouco meu olho direito e reparo no certo inchaço na zona embaixo dos olhos.

Pego a outra gase e molho ela tentando limpar o máximo possível do sangue, e quando finalmente estanca faço um curativo e torço para não precisar de pontos.

– Agora tenho machucados nas duas bochechas -Digo olhando para o meu reflexo no espelho e solto um sorriso triste.

Até quando tudo isso iria durar?

Alguns acontecimentos fazem com que questionassemos a nossa existência, e agora eu me pergunto, qual o propósito para todos esses machucados e o porquê de tudo isso? Esses machucados, essa dor, esse virar uma marionete de pancada é o meu propósito? É isso que me faz ser única?

Olho para o relógio e faltavam justamente oito minutos para eu ter que sair de casa para trabalhar, e no mesmo momento que me olho vejo os pingos de sangue bem aparentes no tecido amarelo, não posso ir assim.

Nothing To Lose¹  • JJ Where stories live. Discover now