trinta e um

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Outer Banks

É incrível como nunca estamos preparados para perder alguém.

A notícia da morte de alguém é algo que te abala da mesma forma não importa a fase da sua vida. Seja ela boa ou ruim. Quando alguém morre, não importa quanto tempo você não vê a pessoa, ou se não se falam, se brigaram... A notícia te abala da mesma forma. Mas... Quando alguém da sua família morre, seu mundo acaba. Vai ao chão. Nunca sabemos quando é o nosso adeus, nossa última palavra, nossos últimos momentos com a pessoa, qual foi a última vez que eu disse eu te amo para quem eu realmente amo?

Oscar Wilde disse uma vez que perder pai ou uma mãe pode ser considerado um infortúnio, mas perder ambos parece descuido. E agora fico pensando se não foi descuido meu, eu poderia ter feito alguma coisa para salvar ele? Insistido mais, perguntado mais, ele podia ter me falado... Eu nunca pensei em viver sem meu pai, quando minha mãe morreu e meu irmão saiu, era sempre eu e ele, para sair na rua, trabalhar, me levar na escola, ir a passeios, me ensinar a surfar. Meu pai me ensinou a surfar quando eu era muito nova, a nadar mais ainda, meu pai me passou a paixão com o mar e quem diria que ele iria morrer no que mais amava, no lugar que ele mais passava tempo, e de uma forma tão cruel... Lembro de uma coisa que ele sempre dizia era: os verdadeiros filhos da maré irão entrar e sair dos marés todos os dias, até o dia que não sairão mais, e apenas deixarão para trás objetos que um dia já foram tocados por eles. E ele deixou, me deixou para trás.

Não era a hora dele. Não era para ser assim.

Mas por que a vida simplesmente permite? Permite que tantas pessoas morram sem cumprir o seu papel, seja alguma doença, ou assassinado, ou suicídio... Por que a vida simplesmente deixa isso acontecer? Pessoas que tinham tantas coisas pela frente... Simplesmente deixarem este planeta.

JAMAY? Que sangue é esse? Amor? Vida o que aconteceu? Por que sua blusa está toda ensanguentada, vida você está bem pelo amor de Deus? Responde, ei -Pisco, a voz de JJ parecia quase me arrastar do lugar escuro onde eu estava, mas ainda não era o suficiente.

Pope e Kiara começam as perguntas também, mas as vozes deles não tinham o mesmo efeito em mim que a de JJ. As vozes deles eu não escutava.

Minha mente parecia um labirinto, não conseguia formular nada, as paredes eram muito grandes de rochas impenetráveis, nada ecoava, nem um som entrava e não tinha como ver entre as rachaduras a saída, a única coisa que eu conseguia ver era JJ.

Amor, ei, olha para mim ok? Fiquem quietos, ela não escuta vocês -Encaro seus olhos, quando eles ficaram tão azuis? Os traços em seus olhos variavam, uma mistura do azul caribe com o mediterrâneo, e... Quando bravo era um azul cobalto. Os olhos mais bonitos que alguém poderia ter. Por que não via nada no labirinto mas via ele?

Amor, você está machucada? Consegue falar comigo? -Se abaixou um pouco para ficar com seus olhos na direção dos meus, as sobrancelhas mais finas, um grande espaço mais magro entre a mandíbula e a bochecha, como um leve buraco que indicava o quanto sua linha facial é marcada. No nariz a parte de baixo é fina, mas a pontinha dele é bem definida no corpo do nariz. Adorável. Detalhar JJ me acalma, é como... Detalhar uma obra de arte antiga.

Aos poucos, minha respiração começava a falhar, meu coração a palpitar e aquilo estava me deixando ansiosa, a fala de Lana ecoava na minha cabeça, poderia ouvir a voz dela agora contando sobre o meu pai.

Nothing To Lose¹  • JJ Where stories live. Discover now