relato sobre o fim.

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— relato sobre o fim.

Os dias estão passando e eu fiquei paralisada, perdendo a noção do tempo, em choque, devastada. Eu durmo a maior parte do tempo, acordo pra fazer uma caneca de chá e depois volto pra cama pra me aninhar embaixo dos cobertores e travesseiros empilhados.

Não tenho lido nenhum livro, nem saído de casa ou falado com alguém. Não consigo cair em mim, nem ficar fora de mim, você entende? Não consigo mais falar sobre isso com ninguém, nem mesmo com minha melhor amiga, é impossível dizer as palavras em voz alta sem sentir a angustia me invadindo.

Sento na cama, enrolada ao meu edredom com os travesseiros em torno do meu corpo, tem uma caneca de chá na mesinha ao lado da minha cama junto com uma caixa de lenços de papel e no canto do quarto, uma pilha deles amassados e amontoados no chão como flocos de neve.

Tenho passado as noites chorando, e quando não estou chorando, estou dormindo. Vivendo exatamente como um bebê. Os piores momentos são os que os soluços saem em golfadas, me agoniando e ferindo minha garganta, até que sou obrigada a envolver meu corpo com meus próprios braços, tratando de me manter fisicamente íntegra.

Eu estou envergonhada por tudo isso, jamais deveria deixar chegar a esse ponto, era tão... óbvio, tão literal, tão horrível, que você um dia iria embora, que me deixaria pra trás.

Eu penso em você continuamente, e isso é uma droga! Posso quase jurar que ainda sinto você por toda a parte, nas músicas e em minha própria pele, ainda sinto suas malditas mãos passeando pelo meu corpo e a sua imagem cintilando nas minhas pálpebras, assim que fecho os olhos.

Dormir não tem ajudado muito,  sonho com você constantemente, sonhos terríveis em que você vai embora, exatamente como você fez e eu não sei o que é pior: acordar desejando você comigo ou chorar porque você foi embora.

De qualquer forma, me sinto absolutamente a deriva, perdida. Eu te amo e estou em frangalhos, fora de controle, desequilibrada, chorona, paralisada como não me sentia desde muito tempo.

As vezes aprofundo o pensamento que foi o melhor a fazer, mas isso não faz com que eu me sinta melhor, nada fará. Pego a caneca de chá que está na na mesinha de cabeceira e tomo um gole, mas já está frio. Deito novamente, estou letárgica demais para me levantar e fazer mais.

E assim vou esperar as horas, os dias, as semanas, os meses passarem, até o momento em que ficarei bem outra vez.

textos que destroemWhere stories live. Discover now