VI

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Depois que o seu Humberto foi viajar com o Damião e a Mariana, o seu Frederich ficou tomando conta da fazenda, em poucos dias eu pude ver que o que a Joana dizia dele era verdade, ele era um homem cruel, em apenas três dias já chicoteou três escravos e praticamente sem motivo algum e eu não gostava do jeito que ele me olhava, como se fosse me devorar. E eu realmente estava prenho, senti que minha barriga cresceu um pouco esses dias e meus mamilos estavam mais sensíveis também.

Joana - Minha nossa senhora. Disse Joana entrando na cozinha chorando.

Anastácio - O que houve Joana? Pergunto me aproximando dela preocupado.

Joana - O seu Frederich tá chicoteando mais um e dessa vez é o coitado do Jão!

Anastácio - Meu Deus. Onde esse homem vai parar, se eu pudesse eu esganava ele com as minhas próprias mãos!

Joana - Nem pense nisso menino, a gente não pode enfrentar ele, temos é que torcer pro seu Humberto voltar logo.

Anastácio - Não entendo porque a gente tem que sofrer tanto, trabalhar de graça, apanhar. A escravidão tem que acabar Joana!

Joana - Os brancos não querem gastar dinheiro pagando funcionário pra trabalhar, preferem escravizar nosso povo.

Anastácio - Eu não consigo me conformar com isso.

Joana - Nem eu consigo, aliás no meu caso é pior, eu nasci livre lá em Moçambique, vivia com a minha família num vilareja, eu tinha acabado de parir, me separaram da minha filha, da minha família e eu vim parar aqui, acabei virando ama de leite do seu Humberto que era recém nascido na época e depois virei a cozinheira da casa e a minha família eu nunca mais soube onde tá. Mas me diz menino eu te conheço tem algo afligindo você e não é só o cramunhão do Frederich.

Anastácio - Se eu te contar você promete que não fala pra ninguém? Ainda não me sinto bem com essa história.

Joana - Claro menino e eu lá sou fofoqueira.

Anastácio - Eu estou prenho Joana, estou esperando um filho.

Joana - Meu Deus... Prenho? É de algum escravo da outra fazenda que você morava?

Anastácio - Não Anastácia... o pai do meu filho é um homem branco.

Joana - Meu Deus. Disse surpresa.

Anastácio - Não sei o que fazer Joana, não quero que meu filho sofra igual a mim sendo escravo, mas não tenho coragem de tirar eu não sei o que fazer e se ele nascer branco como o pai vai ser pior, pois ele vai ser rejeitado pelos outros escravos também.

Joana - Que situação meu filho...eu nem sei o que dizer.

Anastácio - Eu tô perdido.

Joana - Não me diga que é o seu Humberto? Não deu tempo, a não ser que vocês já se conhecessem antes de você vir pra cá.

Anastácio - Claro que não Joana. De onde tirou isso?

Joana - Ah menino é que eu ví ele saindo do seu quarto no meio da noite outro dia.

Anastácio - Eu nunca tive nada com o seu Humberto.

Joana - Que bom meu filho e que continue assim, aquele esposo dele não presta.

Nesse momento o Frederich entrou na cozinha e nós ficamos quietos.

Frederich - Porque andam fofocando tanto? Não tem trabalho o suficiente?!

Joana - O almoço já já vai estar pronto senhor.

Frederich - Assim que ficar pronto leve no escritório, estarei cuidando de questões da fazenda.

AnastácioWhere stories live. Discover now