VIII

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Quando eu já estava terminando de lavar as roupas ví que o tempo já estava virando e me apressei e então um temporal forte começou a cair e eu me levantei, pois era perigoso ficar no meio da floresta enquanto a um temporal, mas ao andar as dores que eu sentia ficaram ainda mais fortes a ponto de não conseguir andar.

Eu estava confuso por causa da chuva e da dor e acabei indo pra uma outra direção onde tinha uma casa de palha e madeira, parecia ser uma senzala desativada eu entrei lá dentro e finalmente eu estava livre da chuva, mas foi aí que eu senti um líquido escorrer pelas minhas pernas, a minha bolsa havia estourado e o meu bebê iria nascer.

O temporal ficava cada vez mais forte com muitos raios e trovoadas, seria perigoso demais eu sair assim, mas as dores que eu sentia ficavam cada vez mais fortes e vinham com mais frequência e eu sentia que o meu bebê iria sair. Eu tirei a minha roupa e deixei no chão ao lado da minha roupa a pulseirinha de oxum que o Benzinho havia me dado e quando a dor veio novamente eu comecei a empurrar, respirando fundo e gritando. Eu fiz aquilo mais três vezes até ouvir o choro do meu bebê que nasceu branquinho, eu estava muito fraco, eu mal tive tempo de ver o meu bebê e a única coisa que eu fiz antes de desmaiar foi colocar a pulseirinha de oxum no pulso dele.

Quando eu acordei eu já estava no meu quarto, eu estava vestindo um camisa de botões branca, parecia com as que o seu Humberto usava e foi então que eu passei a mão pelo meu ventre agora vazio e me desesperei ao perceber que o meu filho não estava ali no quarto comigo. Então o Dr Marco entrou.

Dr Marco - Vosmicê acabou desmaiando após o parto, eu já te examinei, é um milagre que mercê esteja bem.

Anastácio - Cadê meu filho doutor?

Dr Marco - Anastácio eu sinto muito...o seu filho faleceu pouco tempo após o parto.

Anastácio - O que?

Parecia que o chão tinha saído debaixo dos meus pés, não podia ser verdade, o meu filho havia morrido.

Anastácio - Não, isso não pode ser verdade. Digo já sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

Dr Marco - Infelizmente é verdade Anastácio, eu sinto muito.

Anastácio - Onde tá ele?

Dr Marco - Está em um outro quarto aqui da casa, não se preocupe porque o Humberto irá cuidar de todo o enterro.

Anastácio - Dr Marco...eu gostaria de ficar um pouco sozinho.

Dr Marco - Claro... qualquer coisa é só chamar.

Depois que ele saiu eu me pus a chorar, porque as coisas tinham que ser tão difíceis, meu filho tinha morrido, eu não conseguia me conformar. Alguns minutos depois o Humberto entrou no quarto.

Anastácio - Seu Humberto?

Humberto - Anastácio...eu sinto muito pelo o que houve, fui eu que tirei vosmicê e seu bebê de lá.

Anastácio - Foi o senhor? Perguntei surpreso.

Humberto - Sim, eu vim correndo da cidade quando soube que o Damião tinha dado a luz, mas aí quando eu cheguei na fazenda ouvi dos outros escravos que vosmicê tinha se perdido no meio da floresta, então fui correndo atrás de você.

Anastácio - Damião também deu a luz? Pergunto surpreso ao saber que nossos partos foram no mesmo dia.

Humberto - Sim, devido ao temporal o Dr Marco não conseguiu chegar na fazenda quem fez o parto foi a minha sogra, Damião teve uma hemorragia e não poderá engravidar nunca mais, mas deu a luz a um menino.

Eu tentei levantar da minha cama, mas eu ainda estava muito dolorido.

Humberto - Vosmicê ainda não pode levantar agora. Disse me contendo.

Anastácio - Eu preciso ver o meu filho.

Humberto - Calma, eu vou te levar até lá.

Então ele me pegou no colo e me levou até o quarto do lado onde estava o meu filho, tão pequeninho e frágil ali deitado sem vida, foi impossível conter as lágrimas e o Humberto me abraçou.

Anastácio - Quando o senhor me encontrou ele ainda estava vivo?

Humberto - Não Anastácio...eu já encontrei o seu filho sem vida, eu darei a ele um enterro digno em uma igreja aqui perto.

( Observação do autor: Na época os enterros eram feitos na igreja)


No dia seguinte foi o enterro do meu filho e ele teve um enterro digno em uma igreja bonita e o seu Humberto até me deu uns dias de folga, mas ficar sem fazer nada só fazia eu me entristecer mais ainda lembrando do meu filho e meu peito continuava jorando leite como se o meu corpo não compreendesse que o meu filho já havia morrido. Foi num domingo de manhã que Damião bateu na porta do meu quarto.

Anastácio - Pois não senhor?

Damião - Eu fiquei sabendo que vosmicê também pariu a poucos dias.

Anastácio - Sim e o senhor deve saber também que o meu bebê está morto.

Damião - Eu sei, mas preciso que vosmicê seja babá e amo de leite do Humbertinho.

Eles haviam dado a criança o filho do pai, era o costume dar ao filho mais velho o nome do pai no caso ele era Humberto Júnior, mas eu não podia acreditar na crueldade dele, mesmo sabendo que eu perdi meu filho queria que eu cuidasse e amamentasse o filho dele.

Damião - Lembrando que eu não estou lhe perguntando e sim te dando uma ordem, venha comigo, irei te mostrar o quarto do bebê.

Eu fui com ele e nós passamos pela sala e subimos a escada e quando chegamos na porta do quarto do bebê o seu Humberto apareceu.

Humberto - O que estão a fazer?

Damião - Anastácio será babá e amo de leite do nosso filho. Disse e Humberto pareceu irritado.

Humberto - Anastácio acabou de perder um filho, arrume outra pessoa pra cuidar do Júnior.

Damião - Eu não tenho mais nenhuma gota de leite, tentei dar o de vaca, mas ele teve febre. Quer que nosso filho mora de fome?

Humberto - Amanhã iremos arrumar uma ama de leite e não se fala mais nisso. Anastácio pode voltar pro seu quarto por favor.

Anastácio - Sim senhor. Digo me retirando .

O seu Humberto me defendeu. Nem posso acreditar, eu confesso que fiquei um pouco feliz por aquele gesto dele e pela primeira vez sorri durante aqueles dias.

Aquele domingo passou depressa, a Joana passou de tarde no meu quarto pra conversar comigo, ela tem me ajudado muito durante esses dias, ela me contou também que no dia do meu parto e do parto de Damião ela estava na senzala e devido ao forte temporal não conseguiu chegar na casa grande para ajudar Mariana com o parto do filho. Já era de noite e eu estava sem sono novamente e então eu fui até a sala da casa grande e me sentei no enorme e confortável sofá e só aí me dei conta de que era a primeira vez que eu sentava ali.

Eu ouvi de longe um chorinho de bebê e instintivamente subi as escadas e fui até o quarto do Júnior e entrei indo até seu berço, ele era branquinho e lourinho dos olhos azuis assim como o Humberto e vestia um macacão de lã branquinho, eu o peguei no colo e meu coração acelerou, de alguma forma eu me sentia parte daquele bebê e meus peitos começaram a vazar leite, eu me sentei na grande poltrona marrom que tinha ao lado do berço e abri os botões da minha blusa e pus um dos meus mamilos pra fora e comecei a amamentar o bebê que sugava com força e parecia estar com muita fome.

Enquanto ele mamava eu fazia carinho no cabelo dele, eu estava encantado pelo bebê e enquanto eu estava ali envolvido naquele momento eu nem percebi que estava sendo observado e ao olhar pra frente o vejo me observando com seus olhos azuis profundos.

Anastácio - Seu Humberto?









           Continua...



Oi meus anjinhos, espero que tenham gostado do capítulo. Não se esqueça do seu voto e do seu comentário pra ajudar a história. Um beijão pra todos e até o próximo capítulo.




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AnastácioWhere stories live. Discover now