O Brutamonte do Apê 210. XXII

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PAAAAAAI!

Despertei atordoado ouvindo aquele barulho, não consegui ter reação nenhuma naqueles segundos a não ser encara-lo com espanto e duvida. O meu coração estava disparado pelo susto que senti ao acordar tão abruptamente pelo grito que Hugo soltou. Aos poucos, tentando digerir aquela situação eu o encarei perguntando:

-Amor, o que houve?

Seus olhos me fitaram levemente vazios, como se ele não estivesse acreditando naquilo em que se passava em sua mente, ouvia de longe o seu coração descompassado e sua respiração ofegante, mesmo com a escuridão daquela madrugada eu ainda podia ver o seu rosto iluminado pela luz da lua que entrava por entre as persianas, sua feição me mostrava que ele estava num tipo de transe, perdido em seus pensamentos.

-Amor, o que houve?

Eu perguntei novamente tentando a todo custo chamar a sua atenção e depois de alguns segundos onde ele parecia ter recobrado sua consciência, seus olhos se cruzaram com os meus e ele rapidamente me respondeu:

-Nada não, eu só tive um sonho estranho.

Ouvindo sua explicação atrelei o fato a ele ter gritado pelo seu pai e juntando as peças eu perguntei?

-Teve um sonho com o seu pai?

-Sim.

Ele disse rápido ainda com a mesma feição de espanto e vazio que carregava em seu olhar. Notando aquilo eu me aninhei ao seu lado e o abracei com força, minhas mãos se repousaram em sua cabeça e eu iniciei um leve cafuné no meu gigante, dei um beijo em seus cabelos e completei:

-Você está bem?

Curtindo o carinho que recebia ele me respondeu em seguida:

-Estou sim amor... Eu só achei estranho. Ah tempos que não tenho esses tipos de sonhos com o meu pai.

Eu o olhei buscando analisar cada ação e cada palavra que ele dizia.

-Você já teve sonhos assim?

Eu perguntei.

-Sim! – Mas já faz um bom tempo que não tenho.

-Relaxa meu amor, talvez por conta das emoções dos últimos dias algo que você acreditava estar apagado possa ter se reacendido em sua mente.

Seu olhar vazio agora parecia conformado com as palavras que eu tinha dito, mas, além disso, ele demonstrava um leve sentimento de angustia com todo aquele breve acontecido. E num tom mais baixo do quê de costume ele me respondeu:

-É, pode ser... Mas eu não queria que isso acontecesse novamente.

-Amor, é obvio que você tem algumas lacunas sentimentais abertas em relação ao seu pai, e você ter o ato de negar ou fingir que isso não existe não vai fazer essas lacunas sumirem. Prova disso é esse seu "ataque" ressurgindo depois que você e o meu pai se entenderam, talvez algo no encontro de vocês possa ter mexido contigo de alguma forma e você voltou a ter esses sonhos.

Sua atenção as minhas palavras eram fincadas, ele parecia estar convencido sobre o que eu disse e dando um sorriso amarelo ele soltou:

-Você tem razão... O encontro com o seu pai me fez sentir algumas coisas, ver uma figura paterna presente em sua família me fez imaginar como seria se o mesmo tivesse acontecido comigo: será que não teríamos passado por tantas dificuldades? Será que tudo teria sido mais fácil?... Às vezes eu só me pergunto "o por quê", por que ele nos abandonou?

Eu não sabia o que dizer a ele. Hugo às vezes me surpreendia com ações e perguntas que eu jamais imaginaria vir dele, eu sempre me pegava em algumas situações onde eu descobria um pouco mais do que se passava em seu coração e em sua mente. Enquanto eu era um livro aberto para ele, ele me mostrava de si pagina por pagina, e isso não por falta de confiança, mas sim, por ser o jeito dele: fechado.

O Brutamonte do ApêWhere stories live. Discover now