Capítulo 3

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HampellVille - junho de 2018.

Acordei com meu celular tocando feito louco.

Por deus, quem é o desgraçado que está me atormentando?
Bufei, peguei meu celular e atendi, ainda com os olhos fechados.

- Oh céus, quem é? - Perguntei com meu típico humor pela manhã.

- Bom dia, Med. - Ai deus, o Max, meu gerente. Espero não ter que trabalhar hoje. - Está livre hoje? Você pode me ajudar hoje? O mercado tá cheio demais. - Tirei o celular da orelha e olhei a hora. 09h40. Bufei.

-Tudo bem Max, eu vou tomar um banho e já vou. - Bufei alto e escutei a risadinha dele do outro lado.

- Muito obrigado, Med. Você é dez! - Encerrei a ligação e me sentei na cama.

Puta merda, eu odeio trabalhar nos fins de semana. Max me paga!

Passei as mãos entre meus fios de cabelo e bocejei. O prendi em um coque desajeitado e fui procurar minha roupa do serviço que está guardada há três dias, desde que recebi a notícia sobre Peter. Max disse que eu não precisaria trabalhar e sei que ele não me pediria isso se realmente não precisasse. Mas tudo bem, preciso tentar voltar à minha rotina, já que desistir de tudo não vai trazê-lo de volta.

Andei em passos preguiçosos até o banheiro. Assim que entrei no box e senti a água quente bater em minha pele, soltei um suspiro. Estou tão cansada esses últimos dias, que no momento em que a água me lava, parece que ela lava a minha alma também.

.

- Bom dia. - Cumprimento meus pais e me sento para tomar café. Eu já havia me arrumado antes de descer.

- Bom dia, querida. Você vai trabalhar hoje? - Meu pai perguntou e eu assenti enquanto mastigava preguiçosamente uma torrada. - Está se sentindo bem para ir? Você sabe que não precisa, se não quiser, filha. - Disse com voz serena.

- Eu sei, pai. Mas eu tenho que voltar a viver, - Apertei o punho esquerdo. - ou pelo menos tentar. Peter sempre me quis bem, ele não gostaria de me ver mal por ele, não é? Eu tô bem. - Era mais uma tentativa de me convencer do que de convencer meus pais. Mas tanto eles quanto eu, sabem que na verdade não é bem assim.

- É, você tem razão, filha. - Minha mãe disse. - Peter era um bom garoto, nem consigo acreditar no que aconteceu. - Ela fez cara triste, com certeza pensando em como Margot está nesse momento.

- Eu também não, mãe. Mas eu não quero conversar sobre isso. - Engoli em seco e me levantei.

- Não vai terminar seu café? - Minha mãe perguntou preocupada. Ela sabe que essa minha reação é apenas tristeza disfarçada de raiva. Mas não é como se eu pudesse me impedir.

- Vou trabalhar, tenham um bom dia. - Me despedi deles e saí da cozinha sem nem um beijo.

Depois de escovar meus dentes e dar uma arrumada na minha bolsa, segui para o supermercado Cantell, que é onde eu trabalho.
Não é como se eu adorasse trabalhar por horas sentada atrás de um caixa, nem preciso disso, na verdade, mas eu gosto de ter algo pra passar o tempo e ocupar a mente.
Caminhei até lá com fones de ouvidos. Escutando músicas no modo aleatório.

O dia continua frio, mas o sol da manhã bate em minha pele, o que faz o frio diminuir pelo menos um pouco. Eu gosto de caminhar os quinze minutos até o mercado, é relaxante e me faz pensar em tudo que aconteceu em toda minha vida. Sempre gostei de pensar em tudo, nas coisas boas e ruins. Hoje em especial, penso em Peter, o garoto marrento e debochado que conheci há 12 anos. É difícil imaginar sua vida sem uma pessoa que você conhece quase a vida toda. Peter faz parte de quem eu sou, parte de toda minha história.
Eu sei que talvez um dia eu supere isso e a dor se torna menor, mas sei também que vai demorar um inferno pra isso acontecer.
Tento não pensar muito na dor da perda, mas sim no quanto ele me ajudou e me ensinou até hoje.

BROKEN | sem revisãoWhere stories live. Discover now