05. La Diabla, colunista, desenhista

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Em todos os seus anos estudando na JYP High School, Kim Dahyun jamais pensou que fosse ser capaz de matar aula.

Principalmente ao lado Minatozaki Sana, a garota que, há três dias atrás, lhe convidara para ir no baile anual do colégio.

Mas aquilo era exatamente o que ela estava fazendo.

Enquanto conversavam no intervalo sobre Jihyo, seu surto e o baile anual, no dia anterior, o sinal acabou por tocar, interrompendo aquele divertido monólogo que criaram, fazendo com que ambas as garotas resolvessem deixar o restante da conversa para outro dia. A questão, era que Dahyun não pensou que o "outro dia", de acordo com Sana, fosse realmente no outro dia, em período de aula.. Mas em um ambiente longe dali.

E, veja bem, agora ela estava lá, realmente cabulando aula, correndo dentre as vielas sem saber exatamente para onde estavam indo.

Ela sequer lembrava-se de ter corrido tanto na vida. Nem mesmo nos jogos estudantis do ensino fundamental, onde fôra obrigada a correr uma maratona inteira usando o suéter da escola e quase teve um derrame na terceira volta pelo ginásio, fôra tão rápida e objetiva. Mas ela correu tão rápido atrás de Sana naquela rua, sentindo as pernas quase fraquejarem nos últimos segundos antes de chegarem ao seu respectivo destino, que pensou em facilmente ter batido o recorde do Usain Bolt, aquele velocista jamaicano. E, por pouco, não estava certa.

Ela tinha corrido pra caramba. Parecia até que estava fugindo de alguém. Ou fazendo algo de muito ruim.

— Quem mora.. aqui? — Ela perguntou, entrecortada, colocando a mão no tórax devido à falta de ar. Seus olhos faziam um varredura completa pela casa mal cuidada à sua frente, gravando cada detalhe daquela ambientação, desde o assoalho do hall empenado, as paredes descascando e as teias de aranhas presentes na porta.

Sana não respondeu. Mesmo sem possuir a chave do cadeado, após uma sequência frenética de movimentos, ela conseguiu abri-ló. E, em decorrência, puxou Dahyun pelo braço, entrando sorrateiramente no terreno e correndo até os fundos da casa, não tendo sutileza alguma em estapear a grama alta à sua frente.

Uma grande piscina ocupava o espaço de trás. Estava vazia e algumas rachaduras eram visíveis. Porém, diferente da casa em sí, estava completamente limpa. Não se via inseto ou lodo nos azulejos brancos, e a grama em volta era mais baixa, dando um certo destaque ao local. Mas, o único detalhe marcante mesmo, eram os diversos rabiscos – ilegíveis a longa distância – no fundo da localidade.

— O que você está fazendo, Sana? — Dahyun tornou a perguntar, irritada por não vê-la falar, vendo-a contornar a piscina e descer por uma escadinha na lateral.

— Você vem ou não?

Hesitante, Dahyun sentou-se na beira da piscina, próximo de onde Sana estava. Usando as mãos como apoio, pegou impulso e pulou no buraco vazio, sentindo uma leve ardência nos pés.

A de cabelos alaranjados estava ali, sentada no chão, vasculhando sua bolsa à procura de algo. E enquanto se mantinha distraída, a loira aproveitou para dar uma olhada nos esboços ao seu redor.

Flores, mandalas, esboços de tirinhas, símbolos. Eram desenhos, dos mais variados possível. Cada traço parecia ter sido marcado com firmeza, como se quem os tivesse feito, quisesse os eternizá-los. Algumas frases emolduravam as caricaturas e rabiscos, dando até que um ar meio profissional para o mural. E a verdade, era que tudo ali era muito lindo. Além de super chamativo.

Então, como se um ímã estivesse lhe atraindo, Dahyun começou a tracejar os rabiscos com os dedos, achando tudo aquilo muito incrível, mesmo que não soubesse de fato, o que estavam fazendo ali.

— Gostou?

Por um segundo, Dahyun virou-se em direção a Sana, vendo-a já de pé, mas voltou com sua atenção para os desenhos logo após.

— Sana, eles são lindos! Você sabe quem fez?

— Bem... Eu. — A garota murmurou, tímida.

Desta vez, a loira se virou completamente, fitando-a boquiaberta.

— Você desenha?

— Pensou que eu fosse apenas um rostinho bonito? — Brincou Sana, enfiando timidamente as mãos no bolso traseiro da calça.

— Caramba, eles são incríveis. E não, não pensei que fosse só um rostinho bonito. Só que, por ser colunista, pensei que sua especialidade fosse escrever, não desenhar.

— Bom, acho que obrigada então.. — Disse ela, meio sem jeito, logo estendendo a mão para Dahyun.

— O que foi? — Questionou a mais baixa, vendo-a olhá-la sem dizer nada, apenas mantendo um sorriso nos lábios.

— Vem cá.. — Vagarosamente, Sana guiou-a até uma área menos rasbicada, sinalizando com as mãos para que se assentassem no chão. — Faz o seu.

— Eu?

— Sim.

— Mas eu não sei desenhar.

— Tente. — Disse a garota, entregando-a alguns lápis e canetões.

Por um segundo, Dahyun crispou os lábios, ponderando se deveria ou não, mas acabou cedendo.

— Quantas pessoas você já trouxe aqui? — Quis saber. Seu esboço dependeria da reposta.

— Só você. — Sana tentou soar o mais sincera possível, afinal, era realmente verdade.

— Ah é? — Dahyun semicerrou os olhos, desenhando duas bonequinhas de palito envoltas de um enorme coração rosa. — Viu, eu avisei que não sabia. — Alegou, fazendo uma careta. Se comparado aos desenhos de Sana, a coreana não sabia mesmo, mas como era ela quem tinha feito, a ruiva sorriu, agradecida.

— Para, está muito bom, vai! — Deu dois tapinhas nas costas de Dahyun, que cruzava os braços, incrédula, sabendo que a garota só estava sendo gentil. — Mas, vem, vou te ensinar mais um pouco.

E sem que Dahyun ditasse algo, Minatozaki se aproximou, colocando a mão sobre a sua e as guiando até a parede. Seus corpos estavam tão, mas tão próximos, que podiam sentir os batimentos cardíacos uma da outra, entretanto resolveram não comentar sobre. Contentavam-se apenas em focar na parede, vendo o novo desenho surgir.

— Viu? — Questionou Sana, só então, percebendo o quão próximo seus rostos estavam. — Nem é tão difícil.. — Murmurou, fixando seus olhos em um ponto específico do rosto de Dahyun. Sua boca.

Era inevitável não se aproximar cada vez mais. Agora, estavam à centímetros de distância, com a tensão pairando como uma águia sobre suas cabeças. Mais um pouco e estariam lá, em sabe-se deus onde, se não fosse, é claro, pelo súbito afastamento da coreana.

— Então.. — Ela pigarreou, levantando-se com o impulso que pegara dos braços. — Qual é a do elefante dentro da cobra? — Questionou. Referia-se ao desenho que ambas haviam acabado de fazer.

— Não pensou que fosse um chapéu? — Perguntou a caramelada, também se levantando.

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas, Sana. — Disse a loira, alterando levemente seu tom de voz para que a citação soasse de uma forma impactante. — Pequeno Príncipe, eu conheço.

E, para Sana, soou. Porque, assim que Dahyun terminou de falar, sentiu um arrepio que pendeu do alto de sua cabeça até a ponta de seus pés.

— Qual é a do seu? — Sussurrou, abraçando o próprio corpo.

— Me senti lisonjeada por ter sido a primeira a pisar aqui.. — Ela soltou um suspiro, também abraçando o próprio corpo. — Acho que esse lugar significa muito pra você, então..

— Eu nunca vou apagar. — Sana afirmou, lançando-lhe um sorriso sincero. Aquele desenho, de aparentemente elas duas, jamais seria desfeito. Era seu novo esboço favorito. — Então.. Você quer ir embora?

Dahyun titubeou por alguns segundos. Após a cena com a ruiva, mostrou-se estar bastante confusa e incerta, não sabendo dizer se seria realmente um boa idéia permanecer ali. Mas, curiosamente, quando fôra dizer "sim", seus lábios involuntariamente silabaram o completo oposto.

— Não.

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