09. Bissexualidade?

2.2K 351 235
                                    

Kim Dahyun apoiou o rosto em uma das mãos.

— Melhores amigas?

— Sim, desde a quinta série. — Chaeyoung respondeu, mastigando alguns biscoitos amanteigados.

Apesar de o sinal já ter tocado, sinalizando o final das aulas obrigatórias, vulgo detenção, as duas ainda estavam sentadas nas arquibancadas do estádio – após uma desenfreada série de discussões –, finalmente esclarecendo a situação. A garota de olhar felino mantinha-se entretida, comendo alguns biscoitos que estavam há mais de dias jogados no fundo de sua bolsa enquanto Dahyun brincava com os próprios dedos e pensava no quão engraçado os maconheiros eram. Aquele biscoito era mais velho que sua avó, mas Chaeyoung continuava comendo, como se tivesse numa larica eterna.

No fundo, ela não queria saber sobre cannabis, biscoitos amanteigados, a roda de maconheiros cuja qual Son fazia parte ou qualquer outra coisa. O que lhe assombrava mesmo, eram as palavras sôfregas que Sana, aparentemente, tinha dito a amiga à respeito de sua pessoa. Era isso o que parecia esmagá-la.

— Olha, ela é a única pessoa que eu tenho.. — Murmurou Son, ainda de boca cheia. — E quando eu digo única, quero dizer única.

Chaeyoung não entendia como poderia existir pessoas que insistiam em dizer aos quatro cantos da terra como sofreram à qualquer que pessoa que vissem por aí. Quer dizer, ela não era do tipo que falava sobre o seu passado para qualquer um, mas também não era de ficar julgando o sofrimento dos outros. Cada um sabe a dor que carrega dentro do peito, não é? Mas, ficar espalhando isso por aí para quê? Para ganhar algum tipo de falsa compaixão? Pena? Não, ela não precisava desse tipo de coisa. Era humilhante demais. Então era justamente por isso que contentava-se apenas em dizer que Sana era única, e nada mais. Não era de seu feitio dizer: "Eu sou órfã, meus pais morreram, moro com meus tios que me odeiam e a única companhia que tenho é a Minatozaki, a colunista". Ela não precisava daquilo; da compaixão de estranhos.

— Então fiquei mal por vê-la triste. — Acrescentou, fitando as orbes acastanhadas de Dahyun. Ela parecia distante, entristecida. — E jurei bater na pessoa que tinha feito aquilo.

— Você é bastante agressiva para uma maconheira. — Comentou a loira, arqueando as sombrancelhas. — Pensei que vocês fossem lentos, da paz, saca?

— É justamente por isso que eu uso.. — A garota murmurou. E, instintivamente, Dahyun entendeu tudo, sentindo-se mal por ainda usar aquilo como motivo de piada. De alguma forma, Chaeyoung não fazia uso daquilo por querer. Era uma necessidade.. Esta, que Dahyun desconhecia.

— Você me parece triste. — Ela disse, num ímpeto. Levantou-se de onde estava assentada e sentou-se mais próxima a garota, repousando a cabeça em seu ombro. — Mas tudo bem, todos nós temos problemas. E eu tenho orgulho de seja lá qual for a luta que você enfrenta.

— Até dois minutos atrás nós estávamos nos matando e eu estava louca para enfiar o soquete nessa sua boca. — Chaeyoung alegou, descontraída, repousando a mão sobre a coxa da coreana.

— Eu sei. Louco, não?

— Sim, mas.. Voltando, e a Sana, como fica?

Dahyun, propositalmente, ignorou sua pergunta, agora juntando e comparando as palmas de suas mãos. Ao contrário da sua, a mão de Son era bem menor e três vezes mais calejada. Os dedos também não eram tão rechonchudos como os seus. A mão de Chaeyoung denotava peleja, mas nada que tornasse-a desagradável de segurar, e fôra isso que levou-a à entrelaçar seus dedos.

— Estou falando com você, Patrícia.

Rapidamente, Dahyun desvencilhou-se do afeto.

Anti-RomanticUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum