07. Garota misteriosa

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Existia uma lista de coisas realmente assustadoras que faziam o corpo de Dahyun se arrepiar dos pés à cabeça, como: filmes sobre exorcismo, tarântulas, seu irmão usando máscara facial, baratas e balões estourando. Mas, nada daquilo era mais aterrorizante do que encontrar Minatozaki Sana sentada na entrada da escola, um dia depois de tê-la deixado sozinha, fungando as narinas, como se tivesse acabado de chorar... Ou de usar drogas. Vai saber, não é?

Dahyun queria chamá-la, queria ter a cara de pau de perguntá-la se estava bem, mesmo após largá-la sozinha, mas durante longos segundos, parecia ter perdido a voz. Exatamente como perdera no show de talentos da quinta série, após tentar cantar uma música inteira dos Beatles em frente a uma multidão de pais desinteressados e alunos catarrentos.

De repente, construir um monólogo com Sana parecia ser a coisa mais difícil de se fazer. Onde não lhe restava opções à não ser sumir dali.

O que, prontamente, ela fez.

Camuflando-se dentre os outros alunos, Dahyun cruzou a entrada sem que Sana visse, correndo até o banheiro e, na primeira oportunidade tivera, trancou-se dentro de uma das cabines, eufórica. Ela estava uma bagunça, era nítido. Não sabia como agir tampouco como se comportar se referente a menina, e aquilo parecia esmagá-la.

Ela só queria voltar a ser à Dahyun. Aquela cheerleader que odiava romance, mas que, na verdade, tinha uma queda secreta – ok, talvez nem tão secreta assim – por Byun Baekhyun, o capitão do time de lacross. Não aquela que, agora, vivia pensando em Sana e em suas ações estupidamente arrebatadoras. Ela não queria pensar nela. Mas, quanto mais relutava para não pensar, mais ela pensava. Como se seu próprio cérebro estivesse de gozação com a sua cara.

Ela pensava naquela pele macia, nas mãos delicadas, no contorno do corpo, no cabelo alaranjado e nas pernas bem desenhadas. E, por segundos, deixava-se levar pela fantasia de estar com uma garota. Com aquela garota; com Sana. E em como seria se elas tivessem mesmo se beijado naquele dia. Ela pensava em tudo. Mesmo que, de fato, não houvesse um "tudo" para ser pensado.

Suspirando, talvez um pouco frustada com sí mesma, a garota rapidamente retirou a mochila das costas, jogando-a no chão, mas só para que tivesse a oportunidade de vasculhá-la atrás de seu fone e pudesse voltar para os corredores escutando algo que não a fizesse se sentir tão mal. E no final das contas, acabou saindo da cabine ao som de Too Little Too Late, da Jojo. Só esperava que o "you say you dream of my face but you don't like me, you just like the chase" não se tornasse um "losing you is like living in a world with no air", da Jordin Sparks.

E, de fato, não virou. Até porque, assim que cruzou a porta do banheiro, Mina surgiu das sombras e retirou seus fones, tagarelando algo que ela sequer fazia questão de compreender, no pé de sua orelha.

— Entendeu? — Perguntou a japonesa, eufórica, assim que pararam ante aos armários.

Dahyun apenas suspirou, assentindo. Na verdade, ela não tinha entendido um "a" de nada, parecia que Mina tinha falado em hebraico, mas não queria vê-la explicar toda história de novo, então achou melhor mentir dizendo que sim.

— Ah é? — A garota questionou mais uma vez, semicerrando seus olhos. — E o que eu acabei de falar?

De repente, Dahyun fechou a porta de seu armário com um soco, consequentemente, fazendo com que todos os olhares fossem direcionados a ela. E deu para perceber que foi no mais puro impulso, afinal, após o feito, sentiu-se ligeiramente acuada. O que era irônico, já que estava acostumada a chamar atenção o tempo todo. Ela não sabia quando havia se tornado tão agressiva, mas a situação parecia ter perdido o controle de uns dias para cá.

Não sabendo onde enfiar sua cabeça após o surto repentino, ela engoliu o seco e fitou Mina, apenas esperando que a garota não lhe sentasse a mãozada na cara para parar de ser doida, enquanto tornava a abrir seu armário.

— Eu vou relevar e fingir que isso aí é por causa da tpm. — Calmamente, como se nada tivesse acontecido, Mina falou e pôs-se a recolher seus materiais. — Mas eu sei que tem alguma coisa errada, então sinta-se à vontade para me contar o que está havendo.

Dahyun suspirou, agradecida. Mina não era do tipo especialista-em-consolar-as-amigas, mas sabia que, apesar da péssima habilidade em ditar palavras reconfortantes, a garota era uma ótima companheira e sempre estaria ali para ela. Então talvez estivesse na hora de dizer em voz alta o que estava entalado em sua garganta, para alguém, não?

— Talvez eu esteja começando a sentir atração por uma pessoa.. — Soltou, deixando o corpo amolecer, encostando a testa na porta do cubículo metálico, esperando pela zoação da morena.

Entretanto, Mina sequer teve tempo de processar sua frase, de surtar pela declaração ou de importuná-la por isso.

Pois, de o lugar de onde estava parada, uma figura peculiar lhe chamou a atenção. Seria impossível não distinguí-la ali, mesmo com o corredor lotado, com a cabeça baixa e os olhos felinos sendo direcionados à outra pessoa. Ela já tinha visto aquela pessoa misteriosa muitas outras vezes durante os jogos de lacross e nas apresentações das cheerleaders, mas nunca tivera visto-a sozinha, sem suas parceiras e seu maço de cigarro no bolso, além da jaqueta de couro e os óculos escuros.

Dessa vez, ela não possuía um cigarro entre os dedos, mas sim, um soquete, daqueles metálicos, pesados, visíveis à qualquer que fosse a distância, além de não estar de óculos e, curiosamente, parecer caminhar enfurecida em sua direção. Quer dizer, na de Dahyun.

— Amiga, dá o fora! — Murmurou, chacoalhando os ombros da azulada, afobada. — Agora, Dahyun!

— O quê-

E, como o premeditado, antes que Dahyun tivesse a oportunidade de completar a frase, a morena prensou-a ante ao armário, fazendo-a bater a cabeça e várias pessoas olharem-nas apavoradas.

— Então você é a porra da Kim Dahyun? — Vociferou a garota, sentando a mão que estava com o soquete, no armário ao lado de seu rosto, apenas para assustá-la.

Apesar da brutalidade, Dahyun fitava-a atônita, respirando fundo, tentando afastar a súbita vontade que tinha de praguejar todos os vinte e três xingamentos politicamente corretos que aprendera numa postagem do BuzzFeed, no Facebook. Qual é, seja lá o que ela tenha feito, precisava daquele alvoroço todo? Até Baekhyun estava ali para presenciar a cena enquanto os demais alunos gritavam, eufóricos. Aquilo era ridículo.

— Sim. — Respondeu, logo pegando impulso com as costas para empurrá-la para frente e fazê-la sair de cima de sí.

E como se, na verdade, tivesse dito algo tremendamente revelador, sem delongas, a garota lhe acertou uma joelhada na barriga. Fazendo com quem tudo à partir daí não passasse de um mero borrão.

Rapidamente, mesmo sentindo fortes contrações na região do ventre, Dahyun lhe virou um soco na maçã do rosto, ação esta, que resultou em uma escola inteira reunida num só corredor. E quando digo escola inteira, é realmente a escola inteira. Seguranças, diretores, Dahyun, a garota misteriosa, Sana gritando desesperada, Mina entrando no meio da bagunça, Jihyo tentando separar a muvuca e levando porrada; tudo incluso.

Uma verdadeira patifaria.

Anti-RomanticWhere stories live. Discover now