CERIMÔNIA

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A escuridão do anoitecer caiu sobre o acampamento dos 100 e o vento gelado soprou suavemente entre as árvores, resfriando a ponta de seus narizes. Eles não ligavam para a brisa fria, no entanto, pois as chamas quentes da fogueira irradiavam calor até mesmo para o grupo de jovens mais afastados, iluminando fracamente seus traços jovens e tensos em sua primeira grande decisão na Terra.

A refeição desta noite havia sido unida e compartilhada pela última vez. As carnes dos animais foram fincadas na centena de gravetos, e estes foram enfiados no solo fofo separando em poucos metros os dois líderes de cada futuro acampamento.

A esquerda, sentado em um tronco grosso no chão, Bellamy representava os sem pulseira, apoiando seus cotovelos nos joelhos levantados e cruzando os dedos de suas mãos, unindo-as em um bolo firme que quase cobriam seu rosto. Joan, no lado direito da fogueira, mantinha suas mãos baixas pela lateral do corpo, apoiadas na madeira em que sentava, deixando suas pernas esparramadas para frente. Ele ranzinza, ela calma, ambos de costas para o fogo e de frente para aqueles que guiariam dali em diante.

Em um geral, todos que formavam o tumulto para participar da cerimônia de separação — nome dado por eles próprios durante o dia — pareciam tensos e aflitos, inseguros de suas escolhas.

Joan contemplava cada um deles atentamente, notando os dedos ansiosos que dançavam na lateral de seus corpos, os pés inquietos que remexiam a terra sob os sapatos e os lábios secos que constantemente eram umedecidos. Quase se podia ouvir o ritmo acelerado de seus corações batendo.

Um garoto magro e baixo de aproximadamente 15 anos, engoliu seco ao dar um passo à frente, sobressaindo dentre os demais adolescentes com seus olhos castanhos fitando os próprios pés, seu rosto parcialmente coberto pela franja lisa e escura. Ele logo alcançou a pequena tora na frente da comida, onde um pedaço fino de metal com sua ponta curva, descansava esperando a próxima pulseira a ser tirada a força.

Joan assistiu o garoto com cuidado, observando-o subir seus olhos assustados para o rosto impassível do impostor, em dúvida. As sombras causadas por curvar seu corpo para frente, obscureciam pare das feições duras de Bellamy, deixando-o mais ameaçador do que realmente era, a figura de seu maxilar travado e olhos negros sombrios no rosto suado e sujo, lhe comparavam com um animal selvagem.

Atônito, não demorou para que o menino deslizasse seu olhar amedrontado para os traços delicados de Joan, que ao contrário do impostor, mantinha um sorriso leve em sua expressão pacífica, a iluminação quente das chamas sendo bem vinda em sua pele clara e macia, contornando cada belo detalhe seu rosto, quase angelicalmente na luz suave.

Todos ali conheciam sua força e inteligência a essa altura. Agora o que ela precisava conquistar era sua confiança, e o faria através de afeição e simpatia. A tática era simples, mas eficiente, e assim como muitos outros antes dele, o menino relaxou os ombros tensos sob seu olhar terno e protetor, aliviado na certeza de que seria bem recebido.

Então andando calmamente em sua direção, ele passou com descaso pelo tronco das pulseiras e curvou-se para pegar a porção de comida, seus cabelos sedosos caindo pelo rosto ao assentir convictamente para Joan, sustentando um olhar significativo. Ela não conteve o sorriso satisfeito de se expandir ao vê-lo sair pelo lado direito da roda, o seu lado.

E agora eles formavam um grupo de 21.

O próximo dos 100 avançou no semicírculo, e a garota de pele chocolate e cabelos encaracolados não hesitou antes de ajoelhar-se na terra fofa, pegando o escombro metálico da nave que a 'libertaria', e apoiando o próprio pulso fino na madeira áspera.

Neste momento, Clarke sentou-se no lugar vazio a direita de Joan, trombando seus ombros levemente para chamar a atenção da garota com discrição.

— 21 contra... 13, agora— Joan contou mentalmente virando-se descontraidamente para ela, ainda carregando a leveza em seu sorriso. Clarke, por outro lado, tinha sua expressão cada vez mais recorrente de preocupação no rosto, seus lábios comprimidos em uma linha reta, e seus traços sérios e neutros, alheio ao mundo exterior e de Joan. — Vamos... — A garota apoiou um pouco do seu peso na amiga, empurrando-a suavemente para o lado pelo contato de seus ombros, o riso brincando no canto de seu sorriso ao tentar animá-la. — Não estamos nada mal.

Redone | Bellamy BlakeWhere stories live. Discover now