A chuva caia pesadamente sobre o acampamento, as rajadas de vento ficando cada vez mais potentes, arrastando os galhos das árvores para a direção que soprava com brutalidade. A força era tamanha que as gotas espessas batiam na lona da barraca parecendo estilhaços de vidro, e Clarke quase se perguntava como não cortavam o material.
A tenda alta que a protegia deveria servir para três pessoas dormirem lado a lado, assim abrigando com pleno espaço os cinco amigos — Finn, Octavia, Jasper, Monty e ela — que esperavam de pé a presença de Joan.
Ninguém dizia nada ao aguardar, o som dos trovões e da água forte consumindo o ambiente, assim como o barulhinho baixo de seus queixos batendo de frio.
Todas as camadas de tecido que antes os aqueciam, estavam ensopadas por inteiro, deixando seus corpos gelados e seus lábios roxos em tal noite tão frígida. Clarke sentia até seus ossos enregelados, porém não somente pela falta de calor.
Ela podia sentir a ausência de Wells a sua volta, seus pés violando as folhas secas que ele havia arranjado para ela e Joan dormirem, e sua cabeça coberta pelo teto da tenda que ele havia montado com as próprias mãos quando ainda tinham vida. O fantasma de Wells parecia assombrar o local, e Clarke sentia que pisava em um cemitério.
— Por que ela está demorando tanto? — Reclamou baixinho em um suspiro raso e impaciente, deixando que seus braços cruzados se soltassem, caindo pelas laterais de seu corpo com grande peso. Ao seu lado, os olhos suaves de Finn deslizaram em sua direção, parecendo ser o único a escutá-la.
Não conseguia imaginar como a morte de Wells devia estar sendo para Clarke. Ele mal o conhecia e sua mente não conseguia se livrar da visão de seu corpo inerte da lama.
Podia ver a tristeza escondida em seus olhos falsamente fortes e potentes, a dor corroendo o seu peito. Sabia como era lidar com perdas, e como tudo era pior quando se estava sozinho.
O que Clarke, por sorte, não estava.
Ela sentiu Finn buscando os dedos dela com os seus, o toque delicado do polegar dele acariciando as costas macias de sua mão úmida a fazendo olhar para cima, encontrando seus olhos verdes com os dele em um fraco olhar cumplice e terno, agradecido.
Era de certa forma acolhedor saber que tinha Finn ao seu lado, mas sabia que ele não era o ombro a qual ela queria chorar no momento. Nunca poderia entender a confusão que se passava por sua mente, ou reconfortá-la da maneira que necessitava ser.
Mas Joan estava ocupada demais brincando de líder.
Finn manteve seus dedos entrelaçados com os de Clarke, apesar de seus olhos passarem para a entrada da barraca, onde do lado de fora a lama se agitava em sons claros de passos, as pisadas afundadas sendo não somente de uma, mas de duas pessoas.
A água desabou da lona quando Joan a ergueu para entrar, o impostor passando pelos panos atrás dela logo em seguida.
Os lábios de Octavia se contorceram em desgosto ao ver o irmão.
— Era por isso que estávamos esperando? — Cuspiu, sua voz rouca e só não firme pelo tremor de seu queixo que lutava contra o frio.
— Você querendo ou não O, o que tiver naquela nave envolve todos nós — Joan a respondeu rápida e calmamente, nem sequer a mirando ao torcer seus cabelos encharcados. Estava preparada para a farpa rebelde de sua amiga desde o momento que decidiu chamar seu irmão.
— Ela está, por mais irritante que seja, certa. — Bellamy se pronunciou, a voz grave e rouca beirando entre o descaso e a derrota. — Precisamos pensar juntos agora, temos uma tempestade forte para resistir e...
YOU ARE READING
Redone | Bellamy Blake
FanfictionJoan Kane realizou os sonhos de sua mãe e os pesadelos de seu pai quando desceu para a terra. Estava preparada para sobreviver, instruída por um livro a ser a guerreira que hoje é. Não tinha, porém, como prever as dificuldades que encontraria ao ch...