LEIS DE CONVIVÊNCIA

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As cinco horas da manhã na Arca, os corredores e comércios estavam silenciosos sob a escuridão costumeira do espaço. Os cidadãos dormiam pacificamente em seus aposentos, enquanto os seus líderes já estavam de pé a algumas horas, reunidos em uma sala secreta e aprova de som, duplamente vigiada c­om dois dos melhores guardas do lado de fora.

As fracas luzes frias rasamente contornavam as feições atentas e instigadas dos 12 membros do conselho, que se sentavam em uma mesa oval comprida dentro do cômodo sem janelas, suas cadeiras rebuscadas viradas para a ponta oposta à de onde o chanceler Jaha estava, permitindo assim que todos analisassem com cuidado os dados expostos por Abby na projeção na parede.

Com a tecnologia da avançada, o que a mulher manipulava com a ponta de seus dedos na mesa, era jogado para todos na tela, essa que agora exibia os perfis dos jovens prisioneiros em dois grupos, eram 51 ao lado de 47, coloridos contra cinzas, vivos versus mortos.

— Os dados indicam que, em maior parte, foram os criminosos mais violentos do grupo que tiveram seus sinais cortados ontem à noite. — Explicou Abby sem tirar os olhos das fotos das crianças. Seus dedos deslizaram no painel da mesa, comandando que os próximos dados fossem projetados, estes indicando o crime cometido por cada jovem e as palavras categorizadas em cores de acordo com sua gravidade.

Alguns de seus colegas conselheiros assentiram leve e inconscientemente com a cabeça, os vários pares de olhos duros estudando o quadro a sua frente. As informações eram irrefutáveis, enquanto um lado estava praticamente limpo, o outro era sujo de dizeres em vermelho: homicídio, roubo à mão armada, sequestro, agressão múltipla...

— Acredito que isso signifique que os jovens estão tirando suas pulseiras por opção.

Observando as reações a sua teoria discretamente, Abby sentiu-se confiante por um instante, até seus olhos pousarem no homem a sua frente. Kane respirava fundo e negava toda e qualquer palavra que havia saído por seus lábios com grande desprezo.

— Como você explica Wells e Joan? — A voz calma escondia mal e porcamente a sua amargura. — Você esperava que eu não percebesse que minha filha não está na sua demonstração bonitinha? — Juntando sua coragem, o peito da mulher subiu bravamente ao sustentar o olhar feroz que ele a lançava.

As sobrancelhas franzidas de Marcus aprofundavam quase bestialmente suas feições pesadas e revoltas sob a luz baixa, para Abby, ele estava irreconhecível. A barba por fazer não lhe era comum, e seus olhos carregados com olheiras profundas e escuras, eram visivelmente dadas por noites em claro e lágrimas torturantes.

O luto destruía o conselheiro Kane aos poucos.

— Eles são um caso à parte, eu ia chegar lá. — Abby nem piscou ao afirmar, seus olhos firmes nos dele em busca de algum resquício do amigo que antes tinha. — Joan e Wells tiraram suas pulseiras em momen...

— Eles morreram Abby — Ele a cortou abruptamente, seus dedos apertados ao fechar em um punho sobre a mesa, o ódio saindo por meio de palavras entredentes. — Eles não "tiraram suas pulseiras". Morreram.

Seus olhos flamejantes cobriam cada pedaço sem reação da médica que buscava encobrir sua culpa com falsas esperanças. Apesar do olhar firme e estável, o peito de Kane oscilava brusca e descompassadamente debaixo da jaqueta que usava, e ele comprimia seus lábios com força na tentativa de disfarçar o queixo trêmulo e fraco.

Ele não podia perder sua compostura diante do resto do conselho, tinha de provar estar capaz de exercer seu cargo, pois não salvassem a Arca, sua filha teria morrido em vão.

Fechando os olhos ao respirar profundamente, e enfiando seus sentimentos goela abaixo, Kane virou-se para quem realmente importava ali no momento, o chanceler que sentava ao seu lado, na ponta da mesa.

Redone | Bellamy BlakeWhere stories live. Discover now