03. TIA POLLY

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Cruzei meus braços logo depois de passar ambas as mãos sobre meus fios de cabelo

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Cruzei meus braços logo depois de passar ambas as mãos sobre meus fios de cabelo. Balancei a cabeça em negação antes de convidar Polly para entrar, os gestos eram contrários aos pensamentos que permeavam minha mente naquele instante.

━ Oi Polly, entre ai. ━ disse fazendo sinal para que a mais velha sentasse ao meu lado.

━ E essas lágrimas filha? ━ Polly questionou logo depois de se acomodar, secando minhas bochechas com delicadeza, era bom poder sentir sua mão em meu rosto, era o meu lar.

━ São lágrimas de um coração que foi quebrado, tia Polly. ━ resmunguei encostando a bochecha em seu ombro.

━ Thomas passou por muita coisa difícil minha filha, tenha paciência com ele. Perder a esposa para ele foi como estar a beira de um precipício, uma bala que era para ele, a matou. ━ respirou fundo ━ Agora tem também esse Changretta, ele está tentando nos matar, Thomas se sobrecarregou com tudo e acha que pode proteger todos ao mesmo tempo, de certa forma ele pode, mas não está fazendo da maneira correta. Eu sei que ter tirado aquele bebêzinho inocente foi desesperador, mas dê tempo ao tempo.

━ Eu compreendo Polly e não o culpo. ━ redirecionei meu olhar contra o rosto simpático da mais velha ━ Mas ele teve tanto tempo até aqui. Foram 4 anos sem notícias dele, apenas você e John se importavam em enviar-me cartas e se preocupavam com meu bem estar. ━ agarrei-me aos braços de Polly.

━ Eu digo e repito, tempo, querida. ━ ela sorriu, em seguida acariciou o couro de minha cabeça ━ Tenho certeza que tudo voltará ao seu lugar. Thomas era imaturo naquela época e você era tão jovem e inocente, agora é uma mulher, as coisas estão diferentes.

Polly colocou minha cabeça em seu ombro e iniciou uma série de carícias por todo meu rosto, aquilo era reconfortante, como se pudesse ter minha mãe de volta. Ela conseguiu preencher o grande vazio em meu peito, mesmo que por um instante. Acabei por adormecer em seus braços.

Quando abri meus olhos novamente, já era madrugada. Estava em um quarto diferente, provável que Polly tivesse me carregado até lá. Acordei com uma voz alta e áspera que ecoava pelo corredor, parecia ser de Tommy. Acompanhava uma voz feminina, autoritária e firme, era Polly. Rapidamente me levantei da cama e abri uma pequena frecha da porta para ouvir melhor o que diziam, finalmente escutei meu nome.

━ Não precisava agir como uma criança Thomas, eu entendo a dor que está sentindo, eu já perdi muito nessa vida, mas com a Ana? Ela nunca lhe fez mal, muito pelo contrário, era o amor da sua vida. ━ tentou sussurrar, mas era impossível, Polly já estava alterada.

━ O que tenho com ela e como a trato, é problema meu Polly. Tenho meus motivos assim como ela tem os dela. Só a coloquei nessa casa porque você me pediu ━ esticou a mão com o cigarro entre os dedos ━ e não porque eu quis, então de agora em diante será do meu jeito.

━ Como assim? ━ me aproximei deles em passos lentos, ajeitando minha roupa que estava completamente amassada. ━ Então não foi você, Thomas? Eu pensei que... Que ao menos teria alguma consideração. E todo aquele papo no seu escritório mais cedo?

━ Pensou errado Anastácia! ━ exclamou ━ Achou mesmo que eu me importaria? ━ deu de ombros, aquilo me irritava ━ A única pessoa com quem eu me importava se foi e você não pode querer substituí-la. ━ gritou ainda mais alto.

━ Eu nunca pensei em substituir a sua esposa, Thomas. ━ senti minha testa relaxar, e imediatamente meus olhos atingiram Thomas com enorme fúria ━ Eu nem a conhecia. E quer saber? Tanto faz. Você é um idiota!

Dei de ombros e retornei para o quarto que outrora estava - não que eu conseguisse imaginar que Polly teria forças o suficiente para me levar até lá, só sei que de algum jeito acabei acordando em um local diferente e em cima de uma enorme cama de casal com cheiro de margaridas. Bati a porta e finalmente passei a chave na tranca, não desejava nenhuma visita inesperada depois daquela curta, porém intensa, discussão com Thomas. E mesmo depois de tudo, meu coração não queria aceitar de forma alguma o que a mente já tinha entendido, ele jamais voltaria a ser o que era antes.

As horas se passaram e acabei adormecendo pelo chão frio e desconfortável. Minha coluna possivelmente se vingaria de forma abrupta no dia seguinte.

Narrado por Thomas

Depois de ver que Anastácia havia finalmente retornado para o quarto, Polly me puxou pelo braço, e aproximando-se ainda mais, me entregou um leve tapa no braço. A ação repentina me fez bufar, não era nada agradável ser tratado como uma criança inconsequente, quando na verdade estava apenas agindo de forma racional ao deixar o passado, no passado.

━ Tommy me escuta, tem muitas coisas que você não sabe a respeito de Anastácia e o seu passado, não faça mais isso. ━ exigiu sem delicadeza alguma no tom de voz.

━ E o que eu não sei? ━ esfreguei os olhos de imediato, mostrando o quanto o assunto me deixava descontente ━ Polly, Ana faz parte do meu passado, um passado que eu não quero me lembrar mais. ━ afirmei colocando a mão sobre a boca.

━ Thomas, eu te conheço muito bem pra saber que o que você está dizendo não é verdade. ━ o olhar dela sempre era fatal, como se pudesse me enxergar por completo. Polly deu uma pausa, respirando fundo antes de retomar sua fala, como se quisesse falar algo importante, mas não tinha permissão para tal ━ Na época em que vocês ficaram juntos, Ana ficou grávida... D-de você ━ gaguejou ━ Eu quem a levei junto com a mãe para que ela retirasse o bebê, você tinha acabado de ir e...

━ O que? ━ paralisei na tentativa de assimilar a informação, não sabia se tinha escutado direito, talvez fosse uma piada de mau gosto ━ Merda Polly! Você, depois de todos esses anos, agora que me diz isso?

━ Ela não queria que você soubesse então enterramos esse assunto. ━ percebi ela engolir seco ━ Você foi pra guerra e ela não teve coragem de contar, nem ao menos sabíamos se voltaria, Tommy. E desde que eu soube que ela estava passando por dificuldade financeira, me comovi e por isso pedi que você a ajudasse, por saber de tudo. E merda Thomas, ela é como se fosse uma filha.

Permaneci em silêncio e rapidamente sai da presença de Polly, inconformado com o que acabara de ouvir. Caminhei em passos ligeiros até meu quarto e logo que cheguei, passei a chave na tranca, mão na cintura era inevitável, precisava pensar.

Sentei-me na cama, tinha uma garrafa de whisky em cima do criado mudo, não hesitei em pegar. Bebi cada gota como se fosse água, eu precisava esquecer, eu queria esquecer o que Polly havia me contado, era muita coisa pra assimilar e talvez tivesse cometido um erro fatal no passado, irreversível. Ana estava magoada, carregou tudo sozinha por anos, mas o que o ''poderoso Thomas Shelby'' podia fazer? Ela não tinha me contado, e por mais que sangue cigano corresse em minhas veias, certas adivinhações eram impossíveis de se fazer.

A noite foi esfriando cada vez mais. Estava consumido pelo álcool. Já não podia distinguir o que era real ou imaginário.

- Thomas, o nosso amor não morreu mas você tem que escutar as vozes, escute-as. - Murmurava Grace em um sussurro agradável aos meus ouvidos.

✓ ESPELHOS QUEBRADOS | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now