Capítulo 2

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E é claro que assim que eu estava perto, em menos de um quilômetro, eles dois estavam me esperando. Voltei a caminhar devagar. Meus pensamentos logo se tornaram confusos; precisei repassar todo o livro Metafísica de Aristóteles para o mandarim para meus pensamentos se distanciar da recente epifania que acabei de ter.
— Onde você estava? — A voz de Edward apesar de calma; estava acusatória, preocupada eu diria.
— Amor... — Bella o alerta para continuar calmo; mas também vejo em seu olhar direcionado para mim a mesma preocupação.
— Eu...ah. Edward demorou... Quer dizer, o papai demorou e eu resolvi dar um volta por aí.
Focalizei em sua demora, mas logo me distraí com minhas traduções. Seus olhares agora eram calmos; eu não entendi o porque tanta preocupação, no entanto, não era algo que eu estava mais disposta a discutir.
— Ainda vamos ficar por aqui? — Olhei para a mansão enquanto andava lentamente para dentro; a casa estava um pouco lotada com todos morando aqui.
— Vamos para a nossa casa, mas Alice quer fazer uma reforma... então, permanecemos por aqui alguns dias. Isso é um problema?
— Não, mãe. Você sabe que não. Eu só perguntei por curiosidade. — Admito.
Eles me seguem até a sala, sentamos no sofá por hábito; olhamos a reforma que Alice está aprontando na casa: um mistura de industrial com verde. Muito verde. Não dou duas semanas até ela enjoar e voltar para o clássico, que ainda é, e sempre será, seu favorito.
— Onde vocês estavam? — Pergunto para manter um diálogo que me distraia.
— Fomos visitar o túmulo de Charlie. — Dessa vez quem fala é Edward, nós dois olhamos para mamãe que está sentada um pouco distante de nós. Sua carranca é dolorosa; se fosse possível, eu tenho certeza que ela estaria chorando.
Eu diria que se inundando por lágrimas até que sua cara fosse capaz derreter. Sei que ainda é difícil para ela; é para todos na verdade. Esses pequenos baques fragilizaram à todos. Mostrando a maior fraqueza dos imortais que se aventuraram pelos humanos: a morte de quem amamos
Me aproximo, deito minha cabeça em suas pernas, deixo que ela toque meus cabelos; que seus finos dedos atravessem pelos enrolados do meus fios. Sei que essa é a melhor forma de consolá-la.
A memória de Charlie ainda é fresca em minha memória como tudo o que eu já vi. Lembro do dia da sua morte onde tivemos que nos manter afastados por sermos vampiros... a dor também estava no meu peito. Eu o amava, mas nem quando eu sentia a dor por não poder ter mais tempo ao seu lado, eu desejei ser mortal.
Eu poderia passar a eternidade com ele, mas nunca ao contrário. Nunca desejei não ser o que sou nem em sua morte.
Esse pensamento domina a minha mente e me enche de culpa.
Sei que Edward leu meus pensamentos, mas seu rosto não me acusa. Na verdade ele se aproxima, seus dedos também passam pelos meus cabelos, mas logo estão acariciando o de minha mãe.
Toco-a e transmito qualquer tipo de memória com Charlie. Não sei se a magoando mais ou a deixando feliz.
No fim, ficamos todos nós relembrando os momentos bons de uma vida que, apesar de termos feito parte, não nos pertence mais.

#
H

á um cochicho alto em volta de mim. Meus olhos se desgrudam, não há mais o toque suave de minha mãe. Sinto-me meio desamparada. Quero saber se ela está realmente bem...
Mas algo me impede, sim, agora posso entender tudo com clareza.
— Jacob. — O chamo.
E ele, em menos de meio segundo, já está ao meu lado.
— Oi Nessie... tudo bem? — Sua voz está cautelosa de uma forma que eu não gosto.
— Sim, sim. — Olho sobre seus ombros, vovô Carlisle, Esme, Edward e Bella estão conversando. Fingindo que não estamos aqui; dando uma falsa impressão de privacidade.
— Como foi o seu primeiro dia de aula?
— Foi ótimo... Cadê os outros? — Estou me ferindo a Alice, Jasper, Rosalie e Emmett. Sequer sinto a presença deles na casa ou em um perímetro mais afastado.
— Foram caçar.
— E ninguém me chamou? — Minha pergunta o faz rir.
— Bom... A gente podia ir caçar juntos. O que acha? — Existe um sorriso presunçoso depois de sua fala, é impossível não sorrir também.
— Jacob... Ahn... Já conversamos sobre isso. — Sei que o tom da conversa mexeu com todos eles que estavam escutando na surdina.
— Nessie... — Sua voz é relutante; sei que as palavras a seguir são difíceis de sair de sua boca. Mas eu espero, espero as palavras seguintes, preparo de antemão meus argumentos, que ele conhece bem, mas às vezes ignora.
— Jacob! — A voz de Edward é firme, quase brutal. Jacob se afasta, todos na sala estão apreensivos. — Vamos para fora. Agora.
— Edward... — A voz de Carlisle é quase um tranquilizante para o clima tenso.
Em um meio piscar de olhos humanos, os três homens não estão mais nessa sala. Mas eu ainda sinto eles próximos, um pouco pelas redondezas, floresta adentro.
Bella está me olhando, Esme também não está mais perto. Temos uma ligação estranha, que não é um dom, mas algo natural, mãe e filha mesmo, algo da nossa natureza. Chamo com a minha cabeça para ela para vir ao meu lado. E num rompante, ela está próxima de mim.
Suas mãos me tocam, mas eu não retribuo.
— Você está falante ultimamente.
— Tenho que me acostumar, agora que eu estou voltando a conviver com os humanos.
— Certo. Mas... — A sua relutância para falar comigo é engraçada. — Sobre Jacob...
— Mãe...
— Eu só quero entender uma coisa...
— O que?
— Eu pensei que você o amasse.
— Eu o amo, mãe. O meu amor por ele é uma das minhas únicas certezas. — Minha expressão é confusa para ela, pensei que isso fosse claro, como águas cristalinas, para todos.
— Mas...ah. Não o entendo, porque você pediu para ele se afastar?
— É só por um tempo.
— Porque?
— É confuso... mas por toda a minha vida eu o amei.
— Isso é ruim?
— Não. De nenhuma forma. Mas o nosso amor evoluiu, eu não o amo mais como melhor amigo. Eu o amo como uma mulher ama um homem, mãe. — Minhas palavras não a surpreendem, ela já sabe. Na verdade, todos já sabem há muito tempo.
— Isso não é um problema, Renesmee.
— Realmente, não é. Mas eu o amo por causa do imprinting ou porque nele há algo que realmente me desperte interesse? Eu o amo ou foi induzida a amá-lo?
— Isso não faz sentido.
— Escute-me. — Interrompo-a. — Ele realmente tem características boas ou essa mágica, louca e bizarra, transforma todas nossas vivências em algo que só é bom em minha mente?
— Renesmee...
— Eu sei que não parece fazer sentido; porque o imprinting é algo que aconteceu de forma inconsciente... Mas o meu amor por ele também é? Eu não tenho nenhuma outra escolha a não ser não amá-lo? Isso não me parece justo...
— Você não precisa amá-lo como um homem; ele a protegê, e vai ser tudo o que você precisar, não necessariamente seu par romântico.
— Mas eu o amo. Só quero saber se é natural ou algo induzido porque dizem que ele é a minha melhor opção, e eu acreditei nisso. Não gosto da ideia de construir algo a base de falsidade. 
— Faz alguma diferença? O amor de vocês não é falso...
— Eu falo do amor romântico. Jacob sempre a melhor pessoa do mundo para mim. Mas ele seria a pessoa romanticamente mais apropriada para isso?
— Só você pode responder isso... Eu acho.
— É dessa resposta que eu estou buscando agora, mãe.

Inevitável  Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon