Capítulo 6

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Jamal hoje me olhava de uma forma diferente de todas as outras; uma ao qual eu não conseguia decifrar ao que se referia. E ainda que tivesse acontecido uma confusão conosco depois do nosso problemático beijo, eu não sabia mesmo o que estava acontecendo. 
Hoje ele está me esperando na frente da entrada da escola, arrumado como se fosse realmente assistir a alguma aula. Mas eu sei que nesse momento, ele quer apenas conversar comigo sobre  sei lá o que. E ainda que a minha primeira opção fosse o ignorar ou até desviar de rota para não ter nenhum contato próximo com ele, corajosamente, caminho em sua direção e paro ao seu lado.
Ele me sorri mostrando todos os dentes. 
— Ei, Nessie! — Me cumprimenta de forma despretensiosa, mas seu olhar lhe entrega. — Tudo bem?
— Ei, Jamal. — Minha empolgação não chega nem aos pés do que a sua está no momento.
— Bom, que tal a gente...
— Pensei que você iria me deixar em paz. — Digo, por mais que eu não queria, inevitavelmente minha voz sai em um tom agressivo.
— Mas você é dura na queda, não é? — Pergunta sem parecer minimamente abalado com as minhas palavras rudes. Na verdade, se for possível, seu sorriso se abre ainda mais.
Eu o ignoro, concentrando-me a apenas sair de perto dele e ir para a minha sala. A sua presença, por mais que ele saiba que eu não a quero no momento, é colada na minha.
Quase posso ouvir o pequeno barulho que a sua boca faz ao abrir-se em mais um sorriso ao decorrer do seu andar ao meu lado. Sempre que olho um pouco para o lado e o enxergo de relance, a única coisa que vem em minha mente, é o nosso beijo.
Ou melhor, beijos. Depois do primeiro, eu perdi a conta de quantas vezes novamente a gente se beijou. Só lembro que depois de muito tempo, consegui finalmente ficar sã e o afastar de mim.
Lembro-me perfeitamente do seu gosto misturado com a água, o arfar pesado do seu peito por conta da privação momentânea de ar, a boca inchada e o mesmo sorriso de hoje cedo ainda que eu tivesse o afastado. Ter essas memórias tão vívidas, como se fosse a minutos atrás, me deixava extremamente constrangida.
— Sabe, Nessie... — Jamal insiste a me chamar novamente e eu dou a ele uma pequena atenção. — Desculpa pelo beijo... Não vou falar que foi sem querer, porque não foi... na verdade, foi irresistível. Você estava linda, com toda aquelas partículas de água espalhada pelo corpo, a luz do sol em contraste com você fazendo seu corpo brilhar de uma forma indescritível... Você estava deslumbrante demais. Não me arrependo, e te beijaria mil vezes de novo se fosse possível.
— Jamal, meu Deus! — O repreendo, viro-me para ele e o afasto batendo levemente em seu peito. — Me deixa em paz!
Não sei se dessa vez ele ficou com raiva de mim, na verdade, nem me importo. Só quero que ele cumpra a sua promessa e me deixe em paz. Vou correndo para a minha sala e fico aliviada em saber que ele não está me seguindo.

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H

avia dentro de mim uma divergência sobre o caminho que eu deveria  seguir, e apesar de eu estar com muito medo, uma outra parte de mim, talvez uma inconsciente, já estava decidida e neste momento, tomando o controle e dirigindo até La Push.
Como sempre, antes mesmo de eu chegar, ele já estava me esperando. Corri novamente para fora do carro e como todas outras vezes, ele estava de braços abertos para me receber.
— O que aconteceu, Ness? — Me pergunta um pouco aflito.
— Eu preciso te contar uma coisa. — Digo, ele apenas balança a cabeça concordando, mas me leva para dentro da sua casa.
Apenas quando estou deitada com ele no sofá, entre seus braços quentes e confortáveis, com a cabeça em seu peito; que surge, não sei da onde, a coragem para lhe falar toda a verdade.
— Há algum tempo eu conheci um humano... enfim, ontem a gente se beijou.
Apenas recebo como resposta da sua parte o silêncio. Sua respiração sequer muda, e nem pelo que percebo, seu humor. Ele está tão calmo e feliz quando cheguei aqui; nem a aflição inicial existe mais.
— Você ouviu o que eu falei? — Pergunto depois de um tempo.
— Sim, sim. — Responde, não noto nada de diferente em sua voz.
— Você não vai falar nada? — Pergunto surpresa.
— O beijo foi bom?
— Você tá brincando com a minha cara, não é? — Pergunto um pouco sobressaltada, saindo do agarro de seus braços.
— Não. — Diz simplesmente.
Dessa vez, quem fica em silêncio sou eu. Ele parece notar a minha cara de confusão diante das coisas ao qual acabei de escutar, mas mesmo assim, ainda demora um tempo para falar algo.
— Você está apaixonado por esse humano?
— Não. Eu só queria te falar sobre o ocorrido... porque você é meu melhor amigo. — Não sei ao certo se esse é o principal motivo, mas sei que é um dos.
— É? Então me diz mais sobre esse garoto.
— Ele é idiota. Metido a besta... E sempre tem uma resposta na ponta da língua. Enfim, ele que sempre tenta se aproximar de mim. E a gente se conheceu enquanto ele estava metido em uma confusão e ainda arranjou um jeito de me colocar nela e em várias outras.
— Ele parece um pouco problemático. — Diz em meio a um sorriso.
— Bastante... — Confesso.
— Mas o que foi? Ele está te perseguindo ou algo assim? Ele forçou o beijo?
— Não. Não. É só que... Não sei explicar. 
— Você gostou da experiência, Nessie?
— Eu... acho que... sim? Não sei ao certo, Jacob.
— Bom, então aproveite. Você também é metade humana, Nessie.
— Eu sei.
— E se você tiver que escolher entre eu e ele; não se sinta culpado se o seu coração tiver que escolher ele. Você pode transformá-lo e...
— Calma, calma. Ele não é o amor da minha vida. Estou apenas te falando de uma experiência nova que tive... que meio que era o que eu estava procurando? — Estou confusa sobre o que eu própria queria até pouco tempo atrás. — Não que quero passar a minha eternidade ao lado dele.
— Eu só estou dizendo que você pode escolher, meu amor.
— Eu sei... mas eu não queria quebrar seu coração. Eu sei que a gente meio que deu um tempo, mas olha, eu beijei esse garoto e...
— Você nunca vai quebrar meu coração se estiver feliz, Nessie. Sempre vou estar ao seu lado independente do caminho que você escolher, entenda isso, meu amor. Comigo ou sem, estou bem se você estiver.
— Jura?
— Juro.
Acho que nesse momento, entendo realmente a minha relação com Jacob. É um mutualismo onde só interessa o bem estar do outro. Sei que Jacob nunca seria egoísta ao ponto de me prender em algo que não me faria feliz, levando em consideração que ele quer a minha felicidade até em cima da própria.
— Eu te amo. — Digo alto. Antes que ele possa vir a me responder, eu me jogo para cima de seu colo. Sento com cada perna ao lado de suas coxas, e o beijo profundamente.
É um beijo forte, fogoso e dolorido. Posso sentir seu sorriso ao decorrer da forma que eu o devoro com a minha boca. Ele me corresponde na mesma intensidade, agarrando firmemente suas mãos em minhas coxas, pressionando-me para mais perto do seu corpo.
Não consigo resistir a ele, principalmente agora que tenho a confirmação que ele me entende. E ele sempre será a melhor opção para mim para todo o sempre.
O beijo quente dele se espalha por todo o meu corpo. No pescoço sinto sua atenção específica, mas suas mãos continuam ágeis, tocando-me da melhor forma indecente que pode por conta das roupas.
Ainda que nossas ações sejam um pouco contrárias do que estamos tentando passar, a cada toque meu, por mais sacana que possa ser, sei que Jake consegue sentir o meu amor verdadeiro e único para ele.

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esmo que esteja tarde, preciso ver se consigo o encontrar antes de ir para casa. E mesmo que as minhas esperanças sejam nulas, ainda passo pela frente da escola para vê se por um acaso ele não está lá.
Coincidentemente, ele está. Parado em frente ao seu carro, olhando as primeiras estrelas que surgem no céu distraidamente que sequer nota a minha aproximação dele.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto quando paro o carro ao lado dele.
— Te esperando. — Responde sem sequer uma surpresa na voz ao me ver.
— Você é tão... Sei lá.
— Devo ser mesmo. — Diz ao se aproximar, agora ele está com os braços em minha janela e a cabeça parcialmente para dentro, quase perto de tocar a minha.
— Enfim, toma. — Estendo-o um post-it  rabiscado para ele.
— O que é isso?
— Meu número.
— Certo. Certo. — Fala em uma felicidade contagiante. — Te mando mensagem.
— Tudo bem.
— Chega mais cedo amanhã, ok? Quero te levar em outro lugar.
— Tudo bem. — Respondo meio constrangida, pois dessa vez eu que não estou me mantendo distante.
— Certo, Nessie. Até mais. — Ao terminar de falar, ele se aproxima ainda mais e me rouba um beijo na bochecha.
— Não, Jamal! Sem beijos.
— Não garanto nada.
— Você é impossível, garoto... Enfim. O que você estava fazendo aqui?
— Já disse... Te esperando. Eu não sabia se você viria ainda hoje ou somente pela manhã, então resolvi te esperar.
— Você é doido?
— Eu sou um homem com muita esperança, Nessie. Muita. — Diz de forma divertida.
— Certo. — Por mais que eu ache estranho, não digo nada. — Preciso ir.
— Certo, se cuida. Vou mandar mensagem. Até amanhã.
— Até.
Dirijo meu carro e me pergunto como eu fui encontrar um humano tão... ele? Não consigo sequer pensar direito. Na verdade, nem sei o que pensar sobre... minhas atitudes estão diferentes, sinto que eu não sou mais eu, e de alguma forma muito louca, não sinto medo disso. Apenas felicidade.

Inevitável  Where stories live. Discover now